-Estou tremendo. –Ela me disse logo que entramos no carro, seus cabelos vermelhos ainda respingando a água do lago Prisma. Não falei nada. Não queria falar nada. A simples presença daquela mulher tornava as palavras desnecessárias. Entreguei-lhe a toalha que estava segurando, parando um segundo com ela nas mãos, segundo este que usei para observar aquele brilho no olhar que me levava às estrelas, e as estrelas é um lugar do qual não quero sair.
Dirijo até a porta de um dos maiores prédios de nossa pequena cidade, antes de deixa-la ver onde estamos, eu a vendo. Cuidadosamente a levo até a cobertura, onde encontro o local da forma como queria, repleto de pétalas vermelhas, no chão um pano xadrez estendido e sobre ele pães, sucos e frutas.
Se existe algo como o dia perfeito, eu o encontrarei, e o proporcionarei milhares vezes durante sua vida. Foi o que eu lhe disse ontem, hoje realmente está sendo um dia perfeito.
A levo e a sento com a fronte direcionada ao sol que neste momento está se escondendo por entre as montanhas negras. Vagarosamente retiro a venda de seus olhos, o meu coração ameaça saltar para fora. O brilho em seus olhos ressurge como diamantes expostos a luz, reconheço esse olhar, é o mesmo que sempre uso quando falo sobre ela, e, é o mesmo que compartilho com ela neste exato momento.
Seu corpo se encontra com o meu, nossas línguas fazendo pares e dançando em nossas bocas, e então nos soltamos e nos afastamos, sem dizer uma só palavra um ao outro, nossos olhares compartilhando o mesmo sentimento, nossos corpos pedindo pela mesma coisa, nossas mentes vidradas simplesmente naquele milésimo de segundo que para mim pareceram horas. Sua cabeça encostou-se em meu ombro, e ficamos ali apreciando aquela visão perfeita, o céu alaranjado e as montanhas em sua cor preta.