Capítulo Único

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O despertador trouxe-a de volta para a realidade. De novo. Mais um dia.

Ino acordou sem vontade, espreguiçou-se ainda deitada enquanto empurrava as cobertas para fora da cama e bocejava. Calçou as pantufas e marchou para o banho. A água estava gelada, esquecera-se de pagar a conta de luz novamente. Saco. Lavou o cabelo com cuidado, mas de modo rápido. Saiu batendo os dentes, enrolou-se na toalha verde e correu para o quarto escuro. Vestiu-se sem nem poder ver a cor da calcinha ou das meias e, com a luz fraca do celular (que já a avisava da pouca bateria restante), se arrumou como pôde.

Tomou um suco de laranja já quente devido ao descongelamento da geladeira. Suspirou pesadamente com sua sorte. O relógio no pulso evidenciava que o tempo, mais uma vez, não estava a seu favor. Tsc. Não podia nem ao menos tomar seu café da manhã em paz. Pegou uma maçã e sua bolsa, saindo com pressa da pequena casa. Virou a esquina, mastigando a fruta com gosto e colocando o celular no modo avião para economizar a miséria de bateria que tinha.

Soltou um palavrão quando o ônibus passou ao seu lado enquanto ela ainda estava a vinte metros do ponto de parada. Correu. Em sua mente, podia ouvir a risada maligna do condutor e sentir os olhares de pena das pessoas confortáveis em seus próprios carros. Chegou ao ponto quando a porta do ônibus já voltava a se fechar, pronto para sair. Ino socou a porta, atraindo a atenção do motorista que, também de mau humor, não a deixou subir e acelerou.

Inferno!

Quase vinte minutos se passaram até que ela conseguisse pegar outra condução. Sentou-se irritada, sua maçã estava perdida em algum canto da rua. Atrasada e de estômago vazio.

Entrou na cafeteria em que trabalhava sem querer de fato entrar. Sua chefe esperava-a de braços cruzados com um "Está atrasada, Yamanaka". Desculpou-se por obrigação, vestiu o uniforme e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto. Ajeitou a maquiagem, ou pelo menos tentou. E tudo isso às sete e quinze da manhã. Céus!

Foi ao balcão, a máquina de café estava lá, pronta para mais um dia, diferente de Ino.

— Bom dia! — Sakura cumprimentou-a sorrindo.

— Bom? — Ino replicou, fazendo a amiga rir.

— Perdeu o ônibus?

— Adivinha...

Sakura balançou a cabeça, divertida. Ino apenas se conformou com o péssimo dia. Aos poucos, a grande avenida, onde se localizava a cafeteria, foi ganhando movimento, pessoas entravam e saíam do estabelecimento com sono, desejando um expresso ou um cappuccino.

Era até que agradável aquele período. O silêncio sendo preenchido lentamente pelas vozes dos clientes, o aroma morno do café se espalhando e envolvendo-a, os doces fazendo brilhar os olhos das crianças que se consultavam no hospital ao lado.

Às nove horas, quando Ino já amaldiçoava o salto baixo que era obrigada a usar, ele entrou. Quem? Bem... ele. Só isso, só "ele".

Ino não sabia seu nome. Para falar a verdade, ela só sabia de cor o seu pedido de sempre: um cappuccino com uma fatia de torta de limão. Ele era ruivo, entrava sempre com uma expressão serena (ou seria indiferente?) e deixava uma pasta e uma bolsa sobre a mesa sete antes de encaminhar-se ao balcão.

— Bom dia.

Ino sempre suspirava. Aliás, só passara a reparar no homem à sua frente pelo seu agradável hábito de desejar-lhe "bom dia" toda manhã antes de fazer o pedido.

— Bom dia — ela respondia sorrindo espontânea, esquecendo-se da água fria, do café que não tomou, do ônibus que não pegou e do atraso que sua chefe adicionava em seu registro. — Posso anotar seu pedido?

Posso anotar o seu pedido?Onde histórias criam vida. Descubra agora