"What if we start to drive?
What if we close our eyes?
We're speeding through red lights into paradise
Cause we've got no time for getting old
Mortal body; timeless souls
Cross your fingers, here we go"YOUTH - Troye Sivan
[...]
A pergunta pairou no ar, fazendo tudo parecer ficar mais quieto que antes, meu Deus eu nunca devia ter falado sobre isso, onde eu estava com a cabeça?
Harry estava parado olhando para as próprias mãos e eu de longe conseguia sentir que ele poderia surtar a qualquer momento, mamãe parecia dispersa do que eu havia falado, estávamos quietos, cada um com seu pensamento, e eu posso ter a certeza que o do Harry não é nada bom."Eu não acho que isso seja algo que eu queira falar, principalmente com você Theresa." Ele se levantou fazendo o ranger da cadeira doer nos meus ouvidos, vi ele subindo as escadas e indo para algum lugar, eu sabia que isso daria errado
"Você deveria ir atrás dele." Mamãe falou em um sussurro
"Não acho que ele queira."
"Eu penso o contrário, ele é um garoto difícil, Tess, nem ele consegue entender os próprios pensamentos, eu sei que está sendo um momento difícil para você... Mas já tentou se posicionar no lugar dele? Ele está sofrendo, como você, e todos nós, ele não é de ferro, pode parecer que ele é um pouco rude ou não liga nem para os próprios sentimentos, mas tenha a certeza que no fundo, tudo isso afeta ele da mesma maneira que afeta você." Ela fez uma pausa e apontou para o lugar que ele passou "Esse assunto pode ser delicado pra ele filha, então por isso sugiro que fale com ele, eu consigo ver a maneira como você olha pra ele, com carinho... e tenho certeza que quer o melhor dele, vá e fale com ele. O plano e tudo o resto pode se resolver depois, apenas vá lá e mostre que se importa."
"Tudo bem..." Falei enquanto me levantava, e mamãe fez o mesmo, e naquele momento eu tomei a coragem e a iniciativa de abraça-lá, era como se eu tivesse sete anos novamente, era como eu estivesse finalmente em casa, eu nunca me senti tão confortável em um lugar como me senti nos braços dela, era como se cada parte que estava quebrada dentro de mim estivesse se juntando, eu estava em paz comigo mesma, e antes que eu pudesse me conter eu estava chorando, lágrimas rolavam pelo meu rosto eu não sabia descrever o porque delas, se era felicidade, ou tristeza, eu estava apenas chorando, mamãe falava coisas doces enquanto passava suas macias mãos pelos meus cabelos, coisas que eu passei anos sem a esperança de escutar novamente, e agora eu finalmente estava escutando "Eu te amo tanto, eu senti sua falta." Falei para mamãe em meio ao meu choro e soluços
"Eu também senti sua falta, eu te amo muito Theresa, muito mesmo, nunca duvide disso." Ela me soltou e depositou um beijo em minha testa, enquanto segurava meu colar em formato de concha, ela fechou os olhos deixando algumas lágrimas rolarem pelo seu rosto, e por fim me soltou por total apenas segurando a minha mão "Agora vá lá." Ela falou soltando minha mão e sorrindo docemente
Sorri de volta e sai subindo as escadas, tentei procurar Harry pela casa e nada, decidi ir na rua, quando o avistei deitado na grama fumando um cigarro, seus olhos estavam fechados, e eu podia ver algumas lágrimas nos cantos, mamãe estava certa, ele também estava sofrendo, resolvi deitar ao seu lado, sem fazer muito barulho, ele ainda permanecia com os olhos fechados mesmos sabendo da minha presença, eu não sabia se ele conseguia ler meus pensamentos frenéticos em relação a tudo que estava acontecendo, mas eu desejava que não, eu tentei muitas vezes me pronunciar, mas eu não tinha coragem nem para dar um "olá", então eu resolvi fazer o máximo que meu corpo permitia, segurar sua mão, com muita delicadeza peguei sua mão esquerda, e com mais delicadeza ainda entrelacei nossos dedos, naquele momento eu imaginei que ele soltaria minha mão, gritaria comigo, ou simplesmente sairia dali, mas pelo contrário, tudo que ele fez foi agarrar mais forte minha mão, e naquele momento eu engoli seco e resolvi fechar os olhos, eu não sabia o que falar e Harry pelo visto também não, então ficamos simplesmente ali parados... os olhos fechados, os dedos entrelaçados...
"O que faz aqui?" Ele falou tão baixo que eu nem sei como consegui escutar
"Vim falar com você."
"Sobre sua pergunta?"
"Sobre o que você quiser." Suspirei e abri os olhos virando para o lado e encontrando seus olhos tão verdes quanto a própria grama me encarando, droga, eu tinha conseguido esquecido o que ia falar "Eu... eu..."
"Foi meu pai."
"O quê?" Perguntei desentendida
"Esse tal 'massacre' que você falou, foi meu pai."
"Como?"
"Bom, meu pai sempre bebeu, ele chegava em casa vomitando por tudo, derrubando as coisas, batendo na minha mãe... E ela estava cansada disso, e o pior era que ela não conseguia, nem podia dizer um "ai", éramos trancados em uma gigante mansão, trancados por esse homem repugnante, tínhamos muitos empregados, e isso que nos impedia de sair de casa, tudo era dado nas nossas mãos na intenção de não termos que sair, estudo em casa, compras pelos empregados, era uma grande e imunda jaula, além disso meu pai era ciumento e batia na minha mãe por conta disso, qualquer pessoa que se aproximava dela o dava motivo para sentir aquele ciúme doentil, mas minha mãe estava tão cansada de tudo que resolveu procurar na rua o que ela não tinha em casa, ela estava tendo um caso com o motorista, eu sabia de tudo, mas eu era uma criança, então era melhor ficar em silêncio, foram longos e terríveis dois meses, minha mãe continuava a sair com o cara, meu pai continuava a beber, a espancar ela, a ser um monstro, mas chegou um dia que tudo isso desabou, meu pai tinha um emprego quando não estava bêbado jogado pela casa, e quando ele ia para esse emprego era quando minha mãe trazia o motorista para casa, eu estava prestes a dormir a última vez que isso aconteceu, foi quando eu escutei um barulho, era uma porta batendo, eu pensei que era minha mãe e seu amante e então fechei os olhos e tentei dormir, foi então que começaram os gritos, e de longe eu percebi a voz, era meu pai, eram os três para falar a verdade, e sinceramente, eu era um pirralho que não sabia cuidar nem de mim mesmo, então tudo que eu fiz foi cobrir minha cabeça e corpo na espera dos gritos pararem, mas eles não pararam, foi no momento em que eu ouvi minha mãe gritar: "Você vai queimar no inferno!", em seguida foram três disparos, e um silêncio, o silêncio que eu estava esperando, mas ele chegou de uma maneira tão... dolorosa, eu ainda estava coberto, mas podia escutar barulho de sirenes, os policiais, pessoas, fitas amarelas... estava tudo passando tão rápido... eu não lembro de nada depois disso, só lembro do enterro, todos diziam que eu ia ficar bem, que eu era um garoto forte, mas eu não era forte, e não sou, então eu optei por me fechar, de tudo e todos, eu preferia me esconder do que dar a cara a tapa para a realidade, eu estava com medo, Tess, e doía, e ainda dói, eu passei por famílias, por casas, por pessoas que mesmo me acolhendo nunca conseguiram me fazer sentir salvo ou muito menos em casa, eu estava e ainda estou perdido, eu sinto falta dela, muita falta, e eu odeio meu pai, odeio como ele conseguiu destruir com a vida de todos ao seu redor, inclusive com a dele, eu espero que o que minha mãe falou tenha se realizado e que ele esteja queimando no inferno."
Eu estava em choque, eu simplesmente não sabia o que falar, ele estava chorando, os olhos fechados, os lábios comprimidos, apenas chorando, mamãe estava certa ele também está sofrendo, e eu fui egoista o suficiente para não perceber isso, eu preferi dar lugar as minhas dores, somente as minhas, sem nunca ligar para ele, e agora eu percebo como eu devia ter me importado com isso, como devia ter percebido como ele se esconde, ele tranca os próprios sentimentos na intenção de não se machucar, ele tem fachadas, que são como roupas, tudo para cobrir suas cicatrizes"Eu sinto muito Harry."
"Eu também." Ele agora estava de olhos abertos, vendo o céu escurecer, estávamos em silêncio, então eu decidi fazer algo que era o que ele precisava, me aproximei dele com cuidado depositando um pequeno beijo no canto de seus lábios, dando um sorriso para ele, que logo retribuiu, trocando de posição, e me beijando, foi algo tão verdadeiro e mágico, diferente da primeira vez, nossas línguas estavam em uma perfeita sintonia, o gosto de menta de sua boca deixava tudo tão bom, sem o mínimo de agressividade, ele passava a mão pelos meus cabelos, enquanto eu puxava os pequenos cachos formados no cabelo dele, isso realmente era algo de outro mundo, ele terminou o beijo depositando um pequeno selinho na minha testa e me abraçando, o céu já estava escuro, nós estávamos juntos, separados por centímetros, nossas testas e narizes colados, meus dedos passeando pelo avião de papel em seu pescoço, estava tudo tão perfeito, tão sincronizado, nossa respiração se mesclando, eu poderia ficar horas assim com ele, mas tínhamos que voltar para a realidade, eu dei meu último beijo nele e falei:
"Um dia eu farei toda essa sua dor sumir, eu vou fazer você se sentir amado novamente."
"Você promete?" Ele sussurou
"Prometo."