Em um prédio bem antigo numa das raras ruas arborizadas da cidade, morava uma menina, num apartamento razoavelmente pequeno, mas muito colorido. Sentia-se por vezes sozinha, a sua varanda era quase como um refúgio do seu próprio mundo. Em uma manhã atípica de se ficar do lado de fora, pelo tamanho frio, ela escrevia em um caderninho de brochura azul, quando ouviu a porta da varanda do apartamento ao lado (até então desocupado).
Curiosa, inclinou a cabeça para fora, procurando algum rosto. Estava ali, um menino de aparentemente seus 17, 18 anos, pálido (talvez não tanto quanto ela), cabelos castanho escuro, e olhos fitantes. Ela um pouco sem graça sorriu, o menino tímido retribuiu, ela recolheu-se ao seu caderninho azul, novamente...
O céu abriu com Sol e nuvens grandes, (apesar do frio) as nuvens iam e vinham pela tarde adentro. E apenas quando o Sol começou a colorir o céu, como de costume, ela ia até a varanda assistir, e ouviu uma voz tão calma e também tão próxima:
- Como estão os teus olhos?A menina corou, não tinha uma resposta certa pra isso, mas sorriu ao ouví-la.
- Ôh, moço... estão bem - silêncio - e os teus?- Cansados - suspirou o menino - teus olhos são coloridos.
- Ah sim - riu a menina - os teus são profundos.
- Não muito, moça... Reparou nas nuvens também?
- Sempre reparo, e estavam lindas hoje.
Os dias seguintes foram todos assim, conversas sobre as nuvens, os riscos de aviões, ou as árvores que floresciam e pintavam a calçada de rosa, ou amarelo. Falavam também sobre livros (alguns infantis) que liam ocasionalmente. Esse menino tinha uma aura especial... E uma delicadeza que nunca antes fora vista.
As conversas iam disso, até perguntas sobre os joelhos da menina, que levava a respostas que falavam sobre as nebulosas que vinham sabe-se lá de onde.
Seu mundo parecia menos vazio, e mais colorido, talvez um pouquinho mais enfeitado a cada pôr do Sol.
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Como Estão Teus Olhos?
Short StoryUma menina num pequeno apartamento que já não suporta o próprio vazio, e incolor dos seus dias, procura um refúgio em sua varanda, sozinha tenta encontrar-se nos pássaros, nos formatos das nuvens, nos trajetos de aviões, nas palavras que ela tanto r...