Prólogo

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Cinco anos antes...

    Johanny alisou as saias mais uma vez. A noite estava amena, nem muito fria, nem muito quente, ainda assim suas mãos suavam como em um dia de verão e o nervosismo lhe tremia as pernas. Angelick, sua irmã, apertou sua mão enluvada num gesto de conforto, apesar do nervosismo que também sentia. Dedicou-lhe um meio sorriso de conforto e encorajamento.

        Ambas respiraram fundo varias vezes, tanto quanto lhes permitiram os apertados espartilhos, antes de adentrarem juntas no salão de baile. O baile ainda não tinha iniciado, mas já havia um bom número de damas e cavalheiros todos devidamente vestidos com trajes bonitos e elegantes, como ditava a moda inglesa.

      Lady Johanny  Karts caminhava com altivez. Trajava um vestido cinza com alguns detalhes vermelho. Seu cabelo negro encontrava-se sujeitado no topo de sua cabeça com uma mecha caindo em cada lado do rosto chegando à pele delicada de seu colo nu. Levava luvas curtas na cor branca e um leque igualmente branco.  Sua irmã a seguia apreensiva sujeitando o leque com força.  Angelick trajava um vestido rosa com mangas esfumaçadas. O cabelo vermelho como labaredas de fogo levava o mesmo penteado da outra. Usava luvas também curtas e da mesma cor do vestido.

        Esse é o primeiro baile delas, a tão sonhada apresentação à sociedade londrina. Um pouco tardia a de Johanny, lembrava-se irritada, já que muitas damas eram apresentadas antes dos dezessete anos de idade e sua irmã era uma delas.  Angelick somava pouco mais de dezesseis anos. Nessa idade, Johanny seguia enfurnada em casa sem poder arranjar um cavalheiro que lhe fosse agradável para casar-se. Mas apesar da indignação estava feliz de dividir esse momento com a irmã mais nova, o olhar fascinado desta a deixava hipnotizada e agora sim poderia casar-se e ter sua tão sonhada família. Esperava com fervor que essa noite encontrasse o amor. Um romance tão bonito quanto os que lia a noite escondido de seu pai e de sua madrasta. O amor que lhe daria dinheiro e liberdade.

                                                                                *** 

      Lady Johanny Karts já estava entediada com o baile, não tinha conseguido uma valsa ainda e sentia-se como um floreio. Todos os jovens pareciam já ter achado a dama perfeita. Até sua irmã já havia valsado com dois cavalheiros e seguia valsando. Soprou o ar deixando os ombros caírem. Sua dama de companhia com certeza iria censurá-la por sua postura mas era horrível esta só observando todos dançarem.

 — Milady, — a Lady assustou-se, ficando de pé em um supetão ao perceber a presença de um cavalheiro, lhe chamando ao seu lado.  — Sinto assusta-la, mas acredito que esteja entediada. — A jovem assentiu, incapaz de falar, seu coração ainda estava acelerado. — Creio que nunca fomos apresentados.

 — Temo que não  — respondeu mantendo a calma e dedicando seu melhor sorriso gentil ao belo homem que segurava sua mão. Um atrevido, pensou — Lady Johanny Karts.

— Joseph Hansom. — cumprimentou com uma pequena reverência. — Permita-me desfrutar de sua companhia, me concedendo uma  valsa.— Pediu com os olhos fixos nos dela, que com fingida timidez desviou o olhar observando discretamente a postura dele. Os trajes. Não era um aristocrata comum londrino, disso tinha certeza. Apesar dos trajes formais e elegante de corte prefeito, tinha um tom informal e o caminhar elegante tinha um certo ar divertido, tudo isso era comprovado pelo forte sotaque americano. No entanto, o que ela mais gostou do belo cavalheiro foi os olhos cinza. Os olhos tão expressivos com uma mistura acentuada de zombaria, solidão e algo que não soube identificar.

 — Adoraria, milorde. Essa é minha primeira valsa da vida... Com um cavalheiro. — Informou, posicionado sua mão no braço dele, que a guiou até o centro do salão.

— Fico feliz em ser seu primeiro. — comentou, colocando sua mão nas costas dela e a outra em sua mão, com um olhar intenso e um sorriso malicioso que a fez corar.  — És muito bela, Milady.

 — Vá! És um adulador, milorde. 

     Hansom sorriu guiando a Lady no ritmo harmonioso da melodia.  A valsa seguiu agradável como Johanny sonhou. O lorde que a tinha nos braços era belo como nunca se viu. E o toque suave em suas costas fazia seu sangue correr mais rápido. Ainda que ele deslizasse pelo salão sem muita leveza, podia jurar que aprendeu há pouco tempo a arte da valsa, talvez fosse o primeiro baile dele. Gostou da ideia de ser a primeira dele também. Sorriu para o cavalheiro de olhos cinzas. Uma magia lhe invadia naquele momento. No seu momento.

Foi assim que sempre fantasiou seu primeiro baile.

O DEVASSO INDISCRETO- A Decisão De Johanny (Livro 1)   (Repostando)Onde histórias criam vida. Descubra agora