PENSAMENTOS EM FORMA DE POESIA

O menino sertanejo

Eu garanto pra você
Uma história de primeira
Então deixe de besteira
Pode vim, venha lê

Lembro de um dia
Em que andava na roça
Sempre levava uma coça
Mas sempre estava com minha cabeça fria

E quando eu ia pra o açude
Eu deixava todo mundo
Eles é que se cuide
Gostava de ir com Raimundo

Chegando lá eu ia pescar,
Enquanto Raimundo ia caçar
Quase nunca encontrava
Mas sempre, sempre eu cantava

Já Raimundo vinha gargalhando
De minha cara pau
Sempre vinha me olhando
Mas nunca fazia nenhum mal

Quando chegava
Sempre via uma criança
Que me deixava naquela dança
De uma noite que vairava

No outro dia eu passava
Pela frente da lavoura
Meu pai toda hora se cansava
Pegava seu pano de couro
Sentava e me olhava
Se lá do fundo eu cantava
Até o sorriso sair

Não ia muito a escola
Por que não tinha uma carroça, muito menos como ir
Assim não cola
Mas eu vivia da roça
O resto pra mim não importa

Sabia ler e escrever
Isso eu garanto pra você
Só tinha que me aguentar
Ficar vendo o tempo passar

Até um dia meu pai
Pensar em viajar
A vida estava difícil, mas era meu lugar
Neste dia saí por aí

No meio do deserto
Vi um passarinho
Pra mim estava tudo certo
Eu precisava ler
Fiquei triste de saber que deixaria Raimundo Mas precisava deida esse mundo
E finalmente crescer

Fui para a margem do rio
Vir a vaca no cio
E resolvi correr
Até a raiva esquecer

Chegando em casa
Minha mãe foi me dando um bolo
Fui pegando um pouquinho
Não quis falar, mas estava duro como osso
Me bateu até um desgosto

No outro dia estava pronto
Ia viajar
Não sei qual era o lugar
Mas eu ia me virar

Sentei na carroça
E comecei a chorar
Não é bom nem imaginar no que isso ia da

Vicente o carroceiro
Ficava calado
Ganhava muito dinheiro
Só pra me levar no outro lado

Era uma casa pequena
Não tinha vaca
Não tinha pena
Era tudo uma farsa
Todos se fingiam está alegres

O povo era tudo um carrasco
Era como se tivesse um casco
Não seguiam cultura
Só pensavam que isso não cura

Não tinha amor
Não tinha nada
Ligavam para a cor
Era melhor ficar vivendo naquela vida passada

Era uma cidade estranha
Tinha uma menina risonha
Ficava na casa ao lado Eu ficava era calado
Pra não começar a chorar
E o povo a gargalhar

Eu ganhava na Mega-sena
E começava a acostumar
Com a vida fácil, serena
Que eu tinha que lidar
Sai pela rua
Não sabia onde estava Eu olhava para a lua
Era ela que me guiava

Sentia falta do sertão
De tudo que ele me dava
Onde eles estão?
O tudo que eu ganhava?

Consegui ir ao colégio
Não morava naquele brejo
Meu pai começou a trabalhar
De condutor de boiada
Muito dinheiro começou a ganhar
Não lhe faltava mais nada

Ganhamos fraternidade
Por toda aquela cidade Tudo isso em noventa luas
As coisas foram-se tornando suas

Achei a cidade,
Um pouco violenta
Bati aquela saudade
Da minha região que era lenta

Em um dia de tarde
Comecei a escrever
Uma poesia que arde
Mas terminei a padecer
O sol ia se pondo
Fui direto para a praça
Toda vez eu me escondo
Da vizinha cheia de graça

Esqueci de me apresentar
Meu nome é Carlos,
Eu gosto de caminhar
Por isso tenho tantos calos
Isso posso te confirmar

Tempos depois vi a cultura
Nascer e morrer naquela fissura
A alegria mim fez crescer
Dançávamos na ponta do pé
Rodopiávamos e cantávamos
Dançam como quiser
Todos se encantavam e sempre sorriamos

Éramos as celebridades
Naquela cidade
Criamos alegrias
Até mesmo com as pessoas das marcenarias

Fazíamos a paixão de cristo
Tinha tudo de bom
Sempre fazíamos um som
Tudo isso era visto
Por toda a região
Não tinha uma exceção

Terminei os estudos
Fui para a faculdade
Fiquei sem fazer nenhuma descuido
Pra matar a saudade

Você não vai acreditar
Casei com a menino do lado
Aquela risonha que me deixava desalinhado
Começamos a conversar
O amor veio a brotar

Passei na faculdade
Agora sou um doutor
Sempre tome cuidado
Pra aprender, meu senhor

Te mostro esse cordel
Pra você ver o pedacinho do céu
Devo lhe falar
Que tudo isso veio a mim encantar
Não diga nunca não!
Para seguir seu coração.