Sete dias antes de partir, durante uma discussão, ela disse - não foram bem suas últimas palavras pra mim, mas quase - que eu deveria aprender a encarar os problemas de frente.
Isso foi tudo o que ela disse. Não entrou em detalhes. Falou apenas uma vez, e então encerrou a ligação. Era madrugada. Enquanto eu jogava ela queria apenas dormir.
Não dissemos mais nenhuma palavra sobre aquilo naquela noite. Mas ainda assim, eu gostaria de saber, qual o "problema" a que ela se referia.- Você tem que crescer, Sete.
Essas foram exatamente suas últimas palavras antes de desligar. E, eu já não sabia se isso era bom ou ruim.
• • •
Ela me deixou sete dias depois.
Quando voltei para casa no fim da tarde, só havia o silêncio.
O vazio na casa, ocupava um tamanho descomunal. Na mesa de centro, havia um cartão. Nenhum desenho, nenhuma gravura. Apenas poucas palavras de despedida."Passei para dizer isso pessoalmente, mas você não estava.
A questão é que já não podemos continuar assim. Gosto muito de você...mas, acredito que talvez, não sejamos mas o par ideal. Saiba que adoro sua personalidade, mas as vezes Sete, é preciso crescer.
Preciso de alguém maduro, com ambições e planos para o futuro; e infelizmente...você não é essa pessoa.
Não posso muda-lo, mas
desejo a você tudo de bom...e que você acorde para vida. Às vezes precisamos ficar sozinhos para achar nosso próprio caminho..."Senti uma dor que nunca havia sentido antes. Estávamos juntos há quase um ano. Eu nunca tivera uma companheira tão em sintonia com as minhas estranhas preferências. Mas ela tinha razão... éramos diferentes.
E no início, isso parecia fabuloso. Mas pelo jeito, somente no início.
Rasguei o bilhete, peguei a minha jaqueta e saí de casa. Comecei a subir a rua, completamente sem rumo.
A rua era rodeada por fileiras de casas de muros altos. Eu vestia um suéter azul - marinho que me pinicava. O sol batia em minha pele, e uma parte cruel de mim pensou que era um dia perfeito para morrer... desaparecer da face da Terra.Continuei caminhando. Eu sabia para onde estava indo, embora eu duvide ter admitido isso a mim mesmo no momento.
Me senti atraído para lá, como se uma força magnética me puxasse. Certas pessoas chamariam isso de masoquismo. Outras de "necessidade de virar a página", ou superar. Provavelmente, não era nem uma coisa nem outra. Só queria ver novamente o lugar onde tudo havia começado.
Já era possível ouvir as crianças barulhentas gritando eufóricas nos brinquedos da praça.
O irrigador girava lentamente no gramado. E o banco...estava ali.
Caminhei até lá e me sentei. Talvez fosse apenas minha imaginação, mas as pessoas começavam a me olhar.
As crianças, os brinquedos, o irrigador de grama - tudo parecia silenciar à minha cena melancólica.
Alguns me olhavam por curiosidade, já que um homem desconhecido de suéter azul-marinho, acariciando um banco de concreto numa tarde de verão não era algo muito comum.Fazia tão pouco tempo, mas a falta que ela fazia era enorme. Me levantei e enterrei as mãos nos bolsos da calça.
Era como se meu sofrimento não afetasse apenas a minha mente, mas também o meu corpo.
Clara havia sido minha primeira namorada. A única garota por quem eu realmente havia me apaixonado, até hoje. Havia algo vibrante nela, uma curiosidade, um mistério, envolvidos por uma delicadeza encantadora.
Ela se encaixava totalmente comigo. Amava as bandas que eu escutava, os jogos que eu jogava e até os filmes estranhos que eu gostava de ver.
Pra mim ela era - sejam pacientes comigo - perfeita.Tínhamos nos conhecido em uma biblioteca, havia cerca de um ano. Eu estava afundado entre os volumes de o "Senhor das Galáxias" e acabamos nos esbarrando. Ela trabalhava lá, como estagiária voluntária. Desde esse dia, aquela biblioteca se tornou o meu local favorito na cidade.
Mas esse término, foi como se ela tivesse me esbofeteado.Caminhei de volta para casa, totalmente desanimado.
Hoje haveria a final do campeonato de basquete do meu time favorito, mas eu não estava com um pingo de animação para assistir.
Tomei um banho quente e me afundei na cama, junto com as várias camadas de cobertas.
Eu estava arrasado, as palavras dela ecoavam na minha mente...Mas, talvez ela estivesse certa. Era hora de crescer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Diário de Sete
Romance"... E agora os dias passam com lentidão. Não possuem cor. Nem textura. São vazios como uma parede em branco. Dizem que o amor é um sentimento maduro demais para machucar alguém. Isso me faz pensar...Era amor?..."