O Diário de Sete

3

Hoje faz um mês que Clara se foi. Desde então eu perdi o ânimo para tudo; cheguei a ponto de não conseguir sair de casa nem para levar o lixo para fora.
Isso nunca havia acontecido, e talvez o motivo não seja somente o término repentino.
Enfim, hoje faz um mês. E é a primeira vez que saio de casa para encontrar meus amigos, –isso exigiu muita insistência deles– depois de tudo.
— Cara, o que aconteceu com seus olhos? —  perguntou Leonardo.
Estávamos na sala da casa dele. Sentei-me no canto do sofá e abracei uma das almofadas enquanto o observava jogando.
— Nada. — eu disse.
— Você ainda anda chorando por causa dela?
— Não cara! Só estou com um pouco de alergia... só isso.
Eu não estava chorando por ela okay? Na verdade, eu nem me importava mais com isso... Tá, talvez eu me importasse um pouco. Mas não estava choramingando pelos cantos. Clara havia "sumido do mapa", e isso, de certa forma, facilitava as coisas.
— Você deve se distrair, Sete. — disse Daniela enquanto me jogava uma latinha de refrigerante de laranja.
Dani se sentou na poltrona a frente e colocou os pés em cima da mesinha de centro.
Ela era a garota mais compreensiva que eu conhecia –relevem, eu não conheço muitas garotas– mas a insistência naquele assunto, começava a me irritar.
—  Vocês realmente querem me ajudar? Então parem de falar dela.
Querem que eu me distraia? Sejam minha distração. — os encarei e me levantei, querendo ir embora.
— Ei...calma cara! Não é assim que você deve falar com a gente, estamos tentando te apoiar. — Dani respondeu de imediato.
— Eu te avisei que namorar era uma furada...Pra que mulheres quando se tem videogames, seriados e drogas? — Disse Leonardo, com os olhos vidrados na tela da televisão.
— Cale a boca Leo, você nem usa drogas! Olha... Já sei o que podemos fazer. Vamos sair hoje.
Nós três, como nos velhos tempos. Vamos comer bobagens e rir como antes.
Eu encontro vocês na praça em uma hora... E é bom que estejam lá! — Dani disse eufórica e se foi.
Eu nem tive tempo de inventar um pretexto para não ir. Mas talvez, fosse bom que eu fosse.
— A Dani acha que manda na gente né? Mas até que...Ela tem razão. Vai fazer bem pra você se distrair.
Se você passar aqui às 18hrs em ponto, vamos de carro. — disse Leonardo.
Eu concordei e então fui para casa sem pressa.