Prólogo - Liz

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Prólogo – Liz

Nem sei por onde começar a contar a minha complicada história de vida. É tudo tão confuso que eu mesma me atrapalho, existem muitas perguntas sem resposta e buracos que eu ainda não consigo preencher. Sei que preciso contar o começo da minha vida para me fazer entender. Moro em Nova Esperança desde que nasci e minha vida nesta cidade nunca foi das melhores mesmo quando eu era criança, eu só não tinha muita noção disso na época. Sempre vivi na casa do meu avô paterno. Eu morava aqui com meus pais e o meu irmão mais velho, Leon. Meu avô sempre odiou a minha mãe e eu me lembro das brigas intermináveis deles, que sempre terminavam com ele gritando todo tipo de ofensas para ela. Quando havia estas discussões, eu sempre fugia com o meu irmão para o bosque atrás da nossa casa. Nós morávamos num ponto mais afastado da cidade e as costas da residência davam para uma mata que terminava no meu lugar favorito até hoje, o lago. Esse sempre foi o meu ponto de fuga quando as coisas se complicavam para mim, era o meu lugar de paz.

Meu avô sempre foi uma péssima pessoa, nem de longe lembrava os velhinhos legais dos filmes da televisão. Ele não perdia a oportunidade de nos chamar de "ruivos do inferno" só por conta do cabelo vermelho que Leon e eu havíamos herdado da nossa mãe, Vivian. Ela é outra integrante da minha horrorosa família, aquela lá nunca cuidou de nós como uma verdadeira mãe deveria fazer. Sempre esteve mais interessada em amaldiçoar sua vida por ter se enfiado no buraco que era Nova Esperança e culpava o meu pai pela vida miserável que levava. Eu nem tenho muitas lembranças da minha mãe, ela nos abandonou quando eu tinha apenas seis anos. Fugiu com um cara rico que apareceu por aqui. Confesso nunca ter querido saber os detalhes daquela fuga, já era bem ruim ter a certeza de que sua mãe não pensou em você nem por um segundo antes de se enfiar no carro de um desconhecido e sumir no mundo, largando os dois filhos para trás. Foi nessa época que o calvário dos irmãos Blauth começou.

Nova Esperança é uma cidade minúscula, cercada de montanhas por todos os lados, o que a torna ainda mais reservada. Todos os moradores se conhecem e consequentemente, sabem tudo o que acontece na vida um do outro. A fuga da minha mãe foi o assunto da cidade por um ano inteiro, todos a chamavam dos piores nomes e as mulheres costumavam dizer que ela sempre dava em cima de seus maridos. Isso não é nada agradável para duas crianças, uma de seis e outra de oito anos, escutarem. As pessoas nos apontavam na rua e eu acabei perdendo todas as minhas amiguinhas da escola, porque as suas mães mandaram se afastar de pessoas mal faladas como eu. Nova Esperança é a cidade mais preconceituosa que eu conheço. Só que eu não tinha culpa do que havia acontecido comigo, pelo contrário, eu era a filha abandonada. Mas o pensamento de que minha mãe era a prostituta da cidade já era o suficiente para as suas filhas nunca poderem estar comigo. Foi nesta época que eu me apeguei ainda mais ao meu irmão, Leon passou pela mesma coisa e entendia a minha dor. Apoiamo-nos, brincamos o tempo inteiro e ele desenvolveu um instinto de proteção enorme comigo que dura até hoje.

Meu pai, Claudio, sempre foi amoroso com a gente, mas era o tipo de pessoa que trabalhava para afogar as mágoas e se enfiou no trabalho sem pensar duas vezes. Ele se isolou por anos para trabalhar em um projeto pessoal, fazendo com que meu irmão e eu ficássemos aos cuidados do meu horrível avô. Seu Nicolau sempre foi um velho com dinheiro, mas uma verdadeira "usura" quando se tratava dos netos. Leon e eu não passamos fome, mas nunca houve fartura para nós, pelo contrário, tudo que era nos dado sempre foi com muitas reclamações e ouvindo-o dizer o quanto nós éramos crianças insuportáveis e que ele não sabia o pecado que tinha cometido para receber o castigo de ter que criar dois trastes feito nós dois. Isso é só uma palhinha para mostrar o quanto o meu avô é uma pessoa adorável. Esse é só um resumo da minha maravilhosa infância, mas mesmo com todos esses problemas, Leon e eu fomos felizes. Sumíamos o dia inteiro por dentro daquele bosque e eu passei a conhecer aquele lugar como a palma da minha mão. Quando fiz dez anos, eu já corria aquilo tudo sem nem ao menos tropeçar nos galhos.

Fire On My Mind (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora