AMIZADES SOTERRADAS

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Meses se passaram e a amizade entre os dois ficou
marcada pela distância.

Daguerré continuou seu trabalho como fotógrafo e Isadora permaneceu como a vendedora de
sempre. A mesma simplicidade de antes.

O jovem sabia que ela precisava de um tempo, pois
aquela mudança repentina, não passou de um choque cultural.
Onde numa hora a garota estava descalça e noutra já estava
vestida num dos vestidos que fazia inveja a qualquer madame da alta sociedade.

Certo dia, Daguerré estava numa missa de alguém que
falecera, quando olhou para o lado e viu que havia uma
menina de joelhos rezando, era Isadora.

A missa era para a mãe da menina. Alguém contou que a
pobre criança estava sem sua genitora há uma semana e que
seu padrasto havia abandonado-a com seus dois irmãos para
viver pelas ruas bebendo.

Isadora e seus irmãos estavam aos cuidados de uma
vizinha que também não dispunha de condições para criá-los.

Daguerré resolveu se reaproximar, porém receoso de ter
uma segunda rejeição por parte da menina.
— Oi Isadora?
— Oi Daguerré, como está?

Isadora estava conformada com aquela situação e sorriu,
aproveitando o momento para lhes contar que não deveria ter
agido daquela forma, com alguém que só queria o seu bem!

Isadora parecia estar mais reflexiva como uma pré-
adolescente!
— Não precisa se desculpar! A vida é assim mesmo e
todos nós passamos por esses momentos de turbulência.

A amizade foi retomada e a promessa de lhes doar as
córneas foi relembrada no de correr das conversas que foram
sendo colocadas em dia.

O fotógrafo lhe contou que nos dias em que ficaram
distantes, participou de um concurso nacional de fotografia e ganhado uma viagem para São Paulo e que partiria no mês
seguinte.

Isadora lhe desejou boa sorte. Entretanto não foi o que
aconteceu!

Nos dias em que estava na Capital Paulistana, foi
surpreendido por uma forte chuva que provocou um desabamento soterrando todos que estavam no hotel. A
notícia chegou à Morada Nova, onde dizia que o corpo do
fotógrafo não fora encontrado durante meses sendo declarado
como morto judicialmente.

Isadora chorou muito ao saber do trágico acidente e que
assim como seu padrasto, o desmoronamento de terra, foi o
causador da separação da amizade entre os dois.

ISADORA a Fada da MatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora