CHUVA
Aquela chuva de agosto tinha um cheiro inesquecível. Não apenas por ser o cheiro inconfundível de chuva, mas por ser o cheiro que tomou o lugar que o cheiro dela ocupava nas minhas roupas e nas minhas memórias.
Aquela chuva cheirava a agosto. Cheirava a teatro abandonado, mãos sujas de tinta azul e livros novos. Cheirava a margaridas e ao asfalto da estrada que eu pegava pra ir tomar um café (ou um sorvete dependendo do dia).
Aquela chuva cheirava a memórias sem ela. Cheirava assim pra me lembrar que eu não precisava dela pra ser quem eu sempre fui.