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Meu nome é Catherine, Catherine Silverwood. E meu maior talento, acima de todos, é destruir tudo o que toco.

- Vilarejo 3: Oeste

Hoje é dia 20 de Outubro. Não que isso importe algo, ou faça alguma diferença. Eu apenas gosto de focar nos pequenos detalhes. Aliás, é basicamente só isso o que eu faço, não é?

Eu queria poder dizer que hoje é um dia especial, que o mundo alcançou a paz ou coisa do gênero. Mas não, não, isso não aconteceu.

Hoje é um dia cinza, céu nublado e nuvens carregadas. Tempo frio e vento forte. Obviamente não vou sair de casa. Embora mesmo se o dia fosse o mais ensolarado e fresco do ano, eu continuaria aqui.

Aqui, nesse mesmo lugar. Olhos na janela, corpo no sofá. Com meu suéter cinza e mente distante.

Os meus dezesseis anos inteiros eu planejei a vida dos sonhos com minha família. Sonhos escritos em tinta, que a chuva passou e borrou.
Promessas que fiz no verão, mas já é outono, e a colheita não rendeu o esperado.
Dez anos atrás, meus pais me deixaram essa casa e alguns empregados, que agora também se foram.

Meus pais morreram no dia dez, mas eu só soube dez dias depois. Não pude ver o rosto deles, uma última vez, antes de serem enterrados. Sinceramente, sequer lembro de como eram, e isso me dói.

A única coisa que me fez parar de pensar nisso foram os barulhos, um em especial, bem próximo: minha campainha. Mesmo indisposta, levantei depressa, ergui a larga calça de moletom e fui até a porta. O olho mágico era tão empoeirado quanto meus livros escolares, logo não me atrevi a fazer esforço para olhar através dele.

- Tem alguém em casa? - Gritou Joshua, do outro lado da porta.

Joshua era um amigo de longa data. Nos conhecemos na feira, à cerca de três ou quatro anos atrás, quando ele me deixou ficar escondida debaixo dos tapetes, que seu avô vendia, para despistar um rapaz que me perseguira da porta do colégio. O garoto foi embora e não houve mais confronto entre ambas as partes. Alguns meses após o ocorrido, os pais deles se mudaram para o vilarejo mais baixo e o levaram junto. Sorte a dele, eu diria.

Mas voltando ao Joshua; nós passamos à conversar frequentemente depois daquele ocorrido, e descobri que ele já era próximo (Hurrrrr vilarejo pequeno com menos de cinco quarteirões durrrrr), mas eu só vivia com a cabeça nas nuvens e não interagia com ninguém da minha idade. Bem, não mudei muita coisa, mas isso não vem ao caso.

Joshua tem uma pele parda e um cabelo crespo, que ele mescla entre um afro volumoso ou um rastafari minimamente dividido. É bem mais alto do que eu (quem não é, afinal?), tendo um corpo esguio sem muita massa.

- Claro que não. Vai procurar o que fazer. - Respondi casualmente, enquanto abria a porta.

- Doce como chá de boldo. - Ele riu sarcástico, recostando-se na parede. - Que bicho te mordeu dessa vez?

- Vai entrar ou esperar a chuva chegar aí fora? - Retruquei, tremendo pelo vento que adrentava a casa.

- Já que a senhorita insiste...

- Não tem nada na dispensa. - O interrompi.

- Já estava de saída mesmo. - Disse em tom birrento quase se virando. - Nah, vim 'pra te encher o saco mesmo.

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⏰ Última atualização: Jan 05, 2019 ⏰

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