O Orfanato: Respostas

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Não demorou muito para eu chegar até o orfanato onde lutei contra a morte diariamente. Faz pouco tempo que consegui me livrar de todo mal que aquele lugar me causa e também que me faz causar nos outros.

No fundo eu acreditava que meus pais voltariam para me salvar em algum momento. Eu tinha fé que isso aconteceria, que a porta iria se abrir e aquele pesadelo chegaria ao fim. Eu sempre esperava, mas chegou um dia que percebi que não iam voltar. Jamais.

Eu era apenas mais uma garotinha órfã nesse país miserável. As coisas iam de mal a pior e eu chegaria lá para superlotar aquele lugar maldito. Muitos estranhos levavam quantas crianças que quisessem embora. Os dirigentes do lugar não se importavam com o fim desses. Afinal, era uma boca a menos para comer. Eu sempre tinha medo de ser próxima escolhida. Na verdade, de ser a próxima vítima.

Demorou algum tempo até que resolvi encarar esse pesadelo. Ao entrar no orfanato encontro rastros de sangue indo até meu antigo dormitório. Segui os indícios e ao abrir a porta, fiquei chocada.
Aquele homem maldito estava lá. Eu não merecia ter passado por aquilo, eu era apenas uma menina. Ele se aproveitou de mim. Aquela foi a pior noite da minha vida. O pior de tudo é que estou revendo aquela cena abominável na minha frente agora, estou revivendo toda aquela dor que um dia deixei no passado.

Ao presenciar aquele ato horrível não consigo me conter. As lágrimas ainda dominadoras me fazem reagir:

"Para seu nojento! Ela é apenas uma garotinha, para com isso! Agora!" Ordenei desesperada dando socos e chutes nele.

Logo em seguida, aquela cena sai de minha frente. Agora tenho certeza que só ficarei bem após enfrentar meus próprios demônios. O papel de parede atrás da cama onde eu dormia parece estar descolando-se, não demora muito tempo até que começo a arrancá-lo.

Ao tirá-lo por completo, me sinto ainda mais assustada. Escrito a sangue essas palavras me fazem uma grande revelação:

"Você está presa no seu inferno..."

Eu não consigo entender o que está acontecendo. Uma dor infernal toma conta de minha cabeça. Me jogo no chão e fico me contorcendo de dor, minhas lágrimas caem freneticamente. A vida machuca, tortura e nada além da dor fica presa você. A garota (eu) que defendi agora pouco retorna e vem em minha direção com um vestido todo branco e sussurra em meu ouvido:

"A realidade está te chamando, só não esqueça das suas verdades. Lembre-se qual é o bem maior."

Eu entendi agora. Não demorou muito tempo pra eu acordar. Meus olhos se curvam lentamente ao sopro do vento, meus braços continuam amarrados e meus lábios presos por algo que desconheço. Isso eles podem tirar de mim. Minha liberdade, mas não minhas verdades.

Lágrimas ao AmanhecerWhere stories live. Discover now