Apartamento 02

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Desde a primeira vez que Lavanda esbarrou com Orquídea, sabia que nada seria igual. Ela ficou encantada com o jeito de ser rígido e meio mal humorado da vizinha e se perguntou por que não a conheceu antes.

Naquele primeiro dia, ela agiu impulsivamente ao deixar o chocolate quente e bolo, mas não pôde deixar de se iluminar de alegria ao abrir sua porta após ouvir três batidas e encontrar uma pizza quatro queijos e um bilhete.

Então uma ideia pipocou na sua mente de pintora maluca. Ela continuou deixando doces, na esperança de receber algo de volta. E funcionou. Orquídea fazia coisas salgadas muito bem. Doce e salgado...

Mas a sua maior alegria foi quando Orquídea a chamou para comer pizza no apartamento 01. Ela foi mais rápida, mas Lavanda conseguiu contornar a situação e chamá-la ao seu.

E então Lavanda saiu para a sua pequena loja de arte, no intuito de produzir mais mercadoria.

— Lavanda? — alguém chamou da entrada.

— Estou aqui! — a pintora cantou.

— Eu trouxe a remessa de tintas e telas que pediu. — A voz de Lenny entoou, chegando mais perto.

— Ah, Lenny, você é um salva vidas! Obrigada! Aldbourne é tão pequenina, você teve muito trabalho em encontrá-los?

— Não não, tive uma ajudinha do nosso pequeno super herói!

Dito isso um rugido fraco e passos ficavam cada vez mais perto. E um pequeno corpinho vestido de super herói se jogou nos braços de Lavanda.

— Andy, meu amorzinho! Que saudades! Veio pintar com a tia?

— Vim! Obaa! Eu adoro pintar!

Ela abraça o menino mais uma vez. Seu carinho por ele era enorme. Ela e Lenny o adotaram para poder ajudar nos tratamentos de sua doença. Andy havia tido uma melhora significativa, mas os médicos estavam preocupados com uma possível recaída.

Os três ficaram entretidos pintando por bastante tempo. Quando entrava um cliente, Lenny rapidamente atendia. Havia uns dias que Lavanda não passava um tempo com Andy, e a felicidade de ambos era tão contagiante que ele queria prolongar aquele momento para sempre.

Na hora de fechar, a pintora se despediu dos homens da sua vida. Lenny era o mais próximo de família que ela tinha, e adotar o Andy com ele era algo que a deixava muito feliz.

Já de volta no apartamento 02, ela tomou um banho rápido e arrumou a mesa para o jantar. Quando estava quase terminando o estrogonofe, alguém bateu à porta. E, para a alegria de ambas, era Orquídea, com as mãos cheias de pizza.

— Se eu soubesse, não teria me preocupado em cozinhar.

— Bom que comemos muito então.

— Deixe-me advinhar — Lavanda disse enquanto fechava a porta —, você é taurina?

Orquídea revirou os olhos, não acreditava nessa bobagem. Mas ainda assim sorriu e disse:

— Não, virgem.

— Sério? — Lavanda se iluminou, e Orquídea não entendeu o motivo de tanto ânimo com aquela informação. Lavanda era pisciana, e virgem era o seu complementar.

Elas se sentaram à mesa e começaram a comer a pizza. Lavanda percebeu que havia deixado o vinho na geladeira e pediu licença para buscá-lo. Orquídea aproveitou para inspecionar o apartamento 02. Ela quase se levantou e começou a organizar tudo, quase. A sala de estar era uma bagunça de telas, tintas e pincéis. Sem contar os lençóis sujos no chão, provavelmente para não manchar o carpete. A bagunça parecia não ter fim e ia até os outros cômodos, exceto a cozinha e o pequeno espaço de jantar, no qual ela se encontrava agora.

Era difícil imaginar como a vizinha conseguia viver e se locomover naquilo tudo, mas resolveu deixar para lá, mesmo que a incomodasse pelo resto da noite.

— Espero que você goste de vinho.

Ambas comeram e beberam até não aguentar mais. Dado alguns minutos de descanso, Lavanda trouxe a sobremesa. Uma travessa cheia de cupcakes, todas com glacê lilás.

Orquídea não se lembrava de quando havia se divertido tanto. Lavanda era uma amor de pessoa e se arrependeu de não tê-la conhecido antes. As risadas fáceis de ambas provocadas provavelmente pelo vinho, e era impressão, ou elas não estavam mais na sala de jantar?

— Orquídea, tenho uma coisa para você. Feche os olhos.

— Tá bom — disse já de olhos fechados. Ela ouviu Lavanda se afastar e pegar alguma coisa. Quando ela voltou e disse para abrir, Orquídea não acreditou no que viu.

Um quadro com lavandas e orquídeas se misturando. De primeira não dava para perceber, mas as flores formavam dois rostos. Duas mulheres que estavam tão próximas que o nariz de uma encostava na da outra. Orquídea ficou maravilhada, nunca vira algo tão belo, tão puro. Passando a ponta dos dedos ela sentiu os pequenos relevos de tinta seca e sorriu.

— É muito belo, Lavanda. Você tem um talento único.

— Eu fiz para você.

— Obrigada, esse é o melhor presente que eu já recebi.

Houve um silêncio constrangedor, como aquele da primeira vez que conversaram. As vizinhas se olharam e começaram a rir sem motivo algum, tanto que chegaram a chorar.

— O que você acha que dormir aqui esta noite? — Lavanda pergunta.

— Vou adorar. — Orquídea responde.

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⏰ Última atualização: Nov 09, 2016 ⏰

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