Maite.
Quando levantei da cama aquela manhã, eu não queria nada além do que ficar ao lado da minha Anahí... Nós tínhamos feito planos. De pronto, iríamos a um café, que abrirá recentemente na cidade, depois faríamos um piquenique no Central Park, e, por fim, passaríamos a tarde vendo o pôr-do-sol da sacada de nosso apartamento. Mas, nada sairá como o planejado. Os efeitos da quimioterapia já estavam me agredindo, e eu acabei sentada ao lado do vaso, no banheiro, colocando tudo para fora. E não era só meu organismo frágil que reagia, meus cabelos já caiam e os piores efeitos, era ter que ver Anahí presenciar aquilo tudo.
— Me deixe! Anahí, saia... — e eu não pude terminar, outra ânsia de vômito viera. Outra, e outra...
— Shhhh... Vai ficar tudo bem, Sweet. — ela afaga meus cabelos, prendendo-os e ajoelha-se ao meu lado. — Vai ficar tudo bem. — me assegura novamente, antes de depositar um beijo em meu rosto e me puxar para um abraço.
Não foi por escolha que a leucemia entrara em minha vida, como também não fora por escolha que Anahí ocupasse um espaço ainda maior nela, em meu mundo. O pior de estar com câncer não é ter os meus dias contados, e sim, ter que ver Anahí sofrendo alí comigo. Ela segurou minha mão quando contei sobre a doença, me acompanhou nos tratamentos, e é por ela, somente por ela que eu ainda luto para continuar aqui...
— Anjo? — depois de alguns minutos aconchegada em seus braços, a chamo.
— Sim? — ela responde docemente, beijando meus cabelos.
— Obrigada... — sussurro.
— Não agradeça. — levanto o rosto, encarando seus olhos. Tão azuis que chegam a me encantar. — Eu sempre estarei aqui para segurar seus cabelos, e te abraçar logo em seguida que você estiver colocado tudo para fora. — sorri para mim reconfortante, e eu sorrio de volta.
— Eu amo você...
— Eu também amo você, Sweet. — ela me beija, e eu a abraço. — Só não me deixe, eu não saberia viver sem você...
E era exatamente disso que eu tinha mais medo, de deixá-la. Era nessas horas que a revolta me corrói por dentro. Por que tinha que ser assim? Eu não poderia ter morrido antes de encontrá-la? Ou por um milagre divino, fossemos eternas? Única. Amada. Cuidada... era assim que eu me sentia com Anahí, e só com ela eu conseguia dar o melhor de mim. Por ela, apenas por ela... Eu só não saberia até quando iria aguentar...
— Sweet? Amor? Maite... oh Sweet, você está com febre... — toca meu rosto.
— Annie...
— Shhh... vou te levar ao hospital. — levanta, ajudando-me a levantar em seguida. Não consigo andar, estou fraca, faltam-me forças. — Seja forte, Mai.
— Não. Annie... — tentei. Ela ajuda-me a ir até o quarto.
— Calma, vamos ao hospital e você vai ficar bem. Você consegue? — ela aponta para a cama. Nego, apoiando-me ainda mais nela.
— Não! Eu... — ela senta-me em nossa cama, e olha-me nos olhos.
— Você está pálida... — fecho os olhos quando sinto o toque quente e terno de sua mão em meu rosto. — Mai... — abro os olhos, mirando aquele azul que tanto me fascina. — Não me deixe, sim? Não ouse me deixar!
O desespero era notório no tom trêmulo de sua doce voz. Oh, como eu desejei imensamente livrá-la daquilo.
— Annie, me prometa... — ela toca meus lábios com a ponta de seus dedos, impedindo-me falar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Acaso
FanfictionAcaso - Advérbio 2. Ocorrência, acontecimento casual, incerto ou imprevisível; "Você foi a certeza mais incerta que eu já tomei na minha vida..." Por mais que o tempo ou a vida nos separe, nunca vamos deixar de sentir. Sabe por que? Porque essa...