Entre Dois Mundos

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As aulas mal tinham acabado e eu já estava ansiosa, meu aniversário seria amanhã e eu e meu namorado Daniel Marques havíamos combinado um jantar especial. Eu iria fazer 15 anos, e como minha mãe não havia permitido que eu realizasse uma festa, eu resolvi simplificar isso com uma simples refeição a dois.
Meu plano para as férias era ficar basicamente o dia todo, todos os dias da semana de todas as semanas das férias com Daniel e Laura Martins, minha melhor amiga.
Eu sei que parece besteira, mas não é. Daniel é o amor da minha vida e o jeito como começamos a namorar, parece uma piada. Eu sempre gostei dele, mas nunca, jamais, achei que esses sentimentos eram recíprocos.
Vai fazer uma semana que meu pai viajou, ele sempre está viajando, Europa, Ásia, Oceania, América e raramente a África. Atualmente ele está viajando para os Estados Unidos e voltará apenas na próxima 3ª feira. Sempre que ele volta de suas viagens, trás algum presente, do México, trouxe um pote com pimenta, da Austrália, um canguru de pelúcia, da Alemanha, um pacote de salsicha, da Itália, miniatura da Torre de Pisa, bem tudo o que você. Imaginar eu provavelmente possuo.
Meus pais querem que eu faça administração na faculdade, sabe aquela coisa de: você deve por continuidade nos negócios da família? Exatamente. Mas essa definitivamente não é a minha! Eu quero é ser médica, desde criança eu sou apegada às matérias de física, química e biologia.
Bom na tarde de hoje eu separei a roupa para vestir amanhã durante meu jantar com Daniel, um vestido dourado até no meio das coxas e uma sapatilha branca. Também marquei um horário no salão, para fazer manicure, pedicure e cabelo e além disso, aproveitar pra chamar a Laura pra ajudar a aprontar-me depois do salão.
Depois da janta fui para o meu quarto, me deitei na cama e pensei no dia que vinha pela frente e em meu namorado.

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Acordei animada, feliz da vida. Fui para a cozinha onde encontrei Marta minha empregada preparando o café.
- Bom dia Carolina- disse Marta.
- Olá Marta! Está um dia tão lindo, não?- cantarolei.
- Está sim! E... Antes que eu me esqueça, feliz aniversário!- falou.
- Obrigada, hoje eu vou jantar com meu Daniel, isso não é ótimo?- perguntei.
- Ah, sim. Espero que dê tudo certo.-comentou.
Me sentei na cadeira e comecei a me servir de imediato, foi aí que alguém me abraçou por trás.
- Bom dia minha flor! Parabéns filhota, amanhã darei seu presente! Eu tenho certeza que vai amar!- disse minha mãe dando pulinhos.
- Mãe, hoje você tem reunião, ou algo assim?- perguntei.
- Anh... Creio que sim filha, mas depois do almoço somente. Falando nisso vou fazer costelas hoje para almoço!!- falou com seu sotaque fofo.
Eu sorri. Eu adorava as costelas dela! Ela simplesmente acertava em tudo no quesito culinária.
Minha mãe tinha um sotaque alemão quando fala, isso porque minha avó era alemã, então em 1963 ela veio para o Paraná onde conheceu meu avô. Meus pais são sulistas, já eu nasci em São Paulo. Eles se mudaram pra capital paulista antes de eu nascer por conta dos negócios.
Fui para meu quarto decidida a ler um pouco, esse era meu passatempo favorito. Peguei um exemplar de A Seleção e comecei a lê-lo de imediato.
Estava concentrada naquele livro perfeito. Em cada linha, cada palavra, e quando percebi lia seu último capítulo. E foi nesse instante que ouvi batidas na porta, na hora reduzi ser minha mãe. Porém ao abrí-la reconheci Laura ali, de pé com seu braços cruzados.
- Oi amiga! Vou ao salão com você, minhas unhas estão trágicas- disse esticando seus dedos para mim.
- Ok, entra!- disse.
Mal sentamos na cama e minha mãe subiu as escadas e adentrou meu quarto.
- Filha, desça até a cozinha e se sirva, tenho a leve impressão de que irei me atrasar para aquela maldita reunião.- disse saindo.
Chamei Laura para me acompanhar durante a refeição e obedeci. Entrei na cozinha e me servi, estava tudo com um cheiro delicioso, e o sabor eatava melhor ainda.
Colocava o último garfo de comida na boca quando minha mãe desceu as escadas rapidamente e me deu um beijo.
- Tchau filha, se cuida. Qualquer coisa deixe um recado na caixa postal!- e bateu a porta.
Coloquei os talheres na lava-louças chamei Laura e subi, arrumei tudo o que havia para me arrumar e em poucos segundos estávamos na garagem. Avisei Jorge, meu motorista que nos dirigíamos para o cabeleireiro, entramos no carro e começamos a conversar.
- Carol? Não fica brava comigo tá? Mas eu acho que você não deveria ir a esse jantar- falou Laura.
- Laura, ele é meu namorado, nós nos amamos, o que poderia dar de errado?- indaguei confusa.
- Eu sei disso Carol, mas não vai não. Que tal ficarmos em casa assistindo filmes, comendo pipoca e curtindo seu níver?- perguntou.
- La, tenta entender, eu adoraria, mas... Daniel é meu namorado, ele me ama, confie em mim e tudo dará certo.- expliquei.
Chegamos ao salão, esperei 5 minutos na fila, então Neide (estava no crachá) me atendeu e me levou para lavar meu cabelo, e logo depois até a cadeira para cortá-lo e escová-lo, enquanto isso Sílvia (estava no crachá), começou a lixar as minhas unhas, de modo que quando Neide terminou minhas unhas Sílvia escovava a última mecha separada do meu cabelo.
Olhei para o espelho, estava linda, minhas unhas, pintadas de um azul petróleo, que me lembrava o céu noturno. E meu cabelo escovado como ondas no oceano. Daniel adoraria isso. Laura já havia feito as unhas e me esperava.
- Nossa Carol, estou esperando faz séculos.- reclamou.
- A culpa não é minha.- disse.
Saímos do salão e entramos no carro. Em pouco tempo chegamos em casa. Lá Laura me ajudou a me arrumar, maquiagem, perfume e roupa.
- Tem certeza que você quer ir?- perguntou uma última vez.
- Absoluta- respondi certa de que seria a melhor noite da minha vida.
Peguei meu celular e Vi que minha mãe havia mandado uma mensagem.

De Renata:
Filha, vou atrasar um pouco chego às 20:30 por aí.

Ok, já eram 19:00, o horário no qual Daniel me buscaria, e nada dele aparecer. Esperei mais quinze minutos e nada. Ele sempre fora tão pontual, algo havia acontecido, do comum Daniel Marques se atrasar.
Resolvi mandar mensagens, cinco mensagens. Liguei, dez vezes. E nada, nenhuma notícia.
- Laura! - gritei, ela me olhou de imediato- ele não chega!
- Manda mensagem, liga sei lá.- falou.
- Já fiz isso né querida!- disse.- eu vou lá na casa dele.
- Vou com você- comentou.
Era de uma rua a distância que separava minha casa da dele, e percorrer essa trajetória aos poucos se transformava em algo impossível, a noite, terminava de cair, junto com a temperatura, e como eu não estava lá muito protegida, estava me transformando em um iceberg.
Minhas canelas e braços ardiam clamando por um cobertor, ou uma jaqueta, mas eu continuei, claro.
Conforme me aproximava da casa de Daniel, um frio percorria a minha espinha, algo me dizia que o melhor a fazer era parar por ali e voltar para o aconchego do meu lar, mas eu precisava saber o que havia ocorrido.
Cheguei em frente a casa de Daniel.
- Laura, eu vou entrar, me espere aqui fora.- disse, ela assentiu com a cabeça.
Me aproximei da porta que, para minha surpresa, não estava trancada. Abri e adentrei a casa. Ela estava escura a única fonte de luz era um cômodo no segundo andar. Subi as escadas lentamente.
A porta estava entre aberta, era possivel ouvir risadas e uma voz de garota ao fundo, quem seria? Subi o último degrau e me aproximei da porta, quanto mais eu chegava perto mais o volume do barulho aumentava, comprovando ser ali a origem do som.
Havia uma voz dentro de mim que dizia "pare por aí" mas eu a desafiei e prossegui. Parei em frente a porta e a encarei por um ou dois segundos antes de abri-la como se fôssemos inimigas mortais. Tomei coragem e a empurrei devagar com medo do que poderia encontrar lá dentro. Abri a porta por completo e entrei em estado de choque.
Ali dentro o que eu vi, foi: Daniel e Bruna se beijando, como se não houvesse manhã. Eles me notaram cinco segundos depois, Bruna ousou exibir um sorriso, como se tivesse cumprido seu dever e logo depois saiu do quarto desfilando, Daniel paraliso-se por completo.
- Como.Você. Pôde?- perguntei sentindo as lágrimas rolarem.
Não esperei por uma resposta e saí correndo, desci as escadas e esbarrei em Bruna sem querer.
-Olhe por onde anda chifruda.- disse Bruna.
Eu não aguentei aquele xingamento:
- Mil desculpas Bruna, mas você não tem uma gota de moral pra falar de mim, ou você se esqueceu quem estava a pouco tempo se relacionando com um cara que tinha namorada? Além do mais minha vida já está bem crescida pra você ficar cuidando dela.
Continuei meu caminho soluçando, Laura me olhou e perguntou:
- O que aquele canalha fez?
- Depois eu te falo, só quero ir embora daqui.- disse chorando.
Caminhávamos em direção à minha casa eu encolhida em meu canto enquanto contava a Laura o que havia acontecido.
- Calma amiga, esqueça-o ele não te merece.- tentou me consolar.
Fiquei calada enquanto entrava em casa, aqueles acontecimentos, tudo se passava a limpo em minha mente, cada vez de modo mais doloroso, fazendo com que eu me sentisse cada vez mais uma pessoa pior e detestável.
Chegamos em casa às 20:00.
- Laura diz que você vai dormir aqui.- falei.
- Claro né?- respondeu.
Tirei aquela roupa, a maquiagem e coloquei um pijama, lavei meu rosto, mas de nada adiantava, pois as lágrimas continuavam a brotar e percorriam minha face.
Desci até o andar de baixo, minha cabeça latejava descontrolada, dolorosa e desconfortavelmente, peguei uma neosaldina, em copo de água, engoli o remédio. Me joguei no sofá.
-Sério, não entendo como ele conseguiu te trocar pela Bruna, ela é tão sem graça. Ai amiga esquece esse safado. Não gasta suas lágrimas com quem não as merece.- falou a Laura.
- OK Laura, mas vê se para de falar nisso, eu quero esquecê-lo, quanto mais cedo melhor.- disse.
Ela poderia parar de falar mas eu não conseguia parar de pensar em Daniel. Eu o amava, e ele me traiu assim na cara dura, como se meu coração fosse um lixo qualquer, eu não merecia isso.
Queria que aquela dor sumisse, queria que Daniel sumisse, queria que Bruna sumisse, queria que o amor que eu sinto por ele sumisse. E foi assim que, aos poucos adormeci.

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“Nunca devemos envergonharmo-nos das nossas próprias lágrimas.” – Charles Dickens