Porco Louco

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O motor da minha lambreta gritava alto. Eu estava correndo para chegar no local. Meu nervosismo era tanto que levei quase cinco minutos para ligar a moto, oscilando entre tremer e derrubar a chave. Finalmente me acalmei quando coloquei meus fones de ouvido e parti para encontrar meu objetivo.

Meio perigoso não seria a palavra que eu usaria para definir aquele lugar. Estava mais para fudeu. O galpão ficava literalmente no morro. De relance, contei pelo menos doze homens espalhados pelo lugar, armados com fuzis e escopetas enquanto eu procurava um canto para estacionar a moto. Eu já estava questionando minha decisão e considerando voltar quando um pequeno grupo de pessoas chamou minha atenção.

Oito pessoas se reuniam em torno de um homem alto e forte de pele negra. Ele usava adornos dourados, roupas estilosas, tênis caros e um boné de grife. Ele literalmente destoava do resto e parecia o ser o centro das atenções. Atraído pela situação, me aproximei lentamente, tentando não parecer estranho ao local e ao mesmo tempo tentando não chamar atenção.

O grupo estava há poucos metros do galpão guardado por uma dupla de homens mal encarados. Eles carregavam cassetetes, mas eu podia apostar que escondiam revólveres consigo. Me aproximei da entrada, passando pelo grupo. As pessoas se moviam no ritmo da batida de uma música que tocava em um rádio antigo colocado no centro, enquanto o homem lançava algumas rimas por cima dos riffs. Aquele era definitivamente o lugar. Faltavam vinte minutos para as dez. Eu estava adiantado.

- O que você quer? - Um dos seguranças na porta me perguntou, quando eu ainda estava há vários metros da entrada. Pelo seu olhar eu tinha certeza de que ele questionava minha aparência e sabia que eu não era dali.

- Eu vou participar... - Tentei responder.

- Participar? Um moleque como você?- O outro segurança retrucou. - Garoto, você não duraria um minuto na arena. Volte pra casa antes que você arrume confusão.

- Hey, hey. Calma aí Fernandão, todo peixe é bem-vindo. Diz aí garoto, tá com a grana da entrada? - O primeiro segurança perguntou.

- Ahn, taxa? - Perguntei. Eu parecia um idiota naquela situação.

- É, moleque. Taxa. Cinquenta pra participar. Vinte pra ver. Se não for pagar dá o fora e não desperdiça o meu tempo. Aliás, você chama atenção demais.

Cinquenta reais era tudo que eu tinha na carteira. Era todo o dinheiro que me sobrara para passar o resto do mês, colocar gasolina e me alimentar. Talvez aquilo tivesse sido realmente uma ideia idiota. O que eu estava pensando?

- E ai garoto? Tá se cagando agora é? - "Fernandão" provocou.

Meus olhos enxeram de ódio. Minhas mãos tremiam. Impulsivamente, tirei os 50 reais do bolso e coloquei na mão do imbecil. Eu poderia esganá-lo. Determinado, tentei passar pela porta, mas os seguranças não se moveram. Eu não entendia.

- Vocês vão me deixar passar ou o que? - Perguntei, tentando controlar minha raiva. Ambos soltaram gargalhadas de desdém.

- Esse garoto é um idiota Paulo. - Ele riu com desprezo.

- Bom, você pagou, e a senha? - Paulo continuou o deboche. Eu estava com ódio daqueles dois.

- Eu não sei a senha! - Respondi irritado. Se ao menos Luís tivesse dito isso aos amigos dele naquela hora...

- Sem senha não entra. Dá o fora daqui garoto. - Fernandão ordenou.

- E meu dinheiro? - Perguntei, tremendo de raiva.

- Que dinheiro moleque? Anda, some, antes que a gente perca a paciência. - Paulo disse balançando ameaçadoramente o cassetete.

Eu estava absurdamente nervoso. Eu poderia matar os dois. Assalto era o nome daquilo E eu não tinha a quem recorrer . Me virei para ir embora quando fui interrompido por uma voz familiar.

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