Existe um momento na vida de todos em que o mundo parece estar suspenso. Você não respira, mas não sente falta de ar. Anda, ainda que não consiga sentir suas pernas. Chora, sorri, grita, sem perceber nenhuma dessas coisas. Esse era um desses momentos na vida de Týr.
Ela estava parada em frente a porta da casa de Zack esperando ele vir atendê-la, depois de ficar imóvel durante vários minutos encarando a correspondência que havia acabado de chegar, endereçada a ela.-TÝR! - Zack estalou os dedos em frente a seus olhos
-Ah, oi! - Ela respondeu um pouco confusa.
-Você está bem? Estou falando com você a eras.
-Na verdade... huum... não! - A garota respondeu exibindo a carta que trazia nas mãos.
-Uou! Agora eu entendi! Vai, entra! - Ele deu espaço para ela entrar em sua casa.
Os dois não ficavam cara a cara sozinhos desde o baile, sempre estavam sob os olhares atentos de Brianna e Joe ou de algum companheiro de time de Zack, quando não era isso, era a distância segura da rua que separava suas janelas enquanto eles se falavam por mensagens no celular.
Para ser sincero consigo mesmo, Zack estava de saco cheio das pessoas perguntando se eles estavam namorando e de saco cheio de não ter uma resposta para isso. Quer dizer, eles estavam sempre juntos, ela ia a todos os treinos do time, ele a acompanhava as idas a loja de quadrinhos junto com Joe e uma Brianna muito emburrada. Sem contar as centenas de mensagens que trocavam quando estavam separados.
No entanto, eles não tinham se beijado, ainda que passassem muito tempo abraçados ou de mãos dadas. Havia apenas duas semanas que ela havia lhe deixado voltar para sua vida, Zack não queria estragar as coisas sendo precipitado, principalmente quando a carta da Universidade Julliard, dizendo se Týr havia ou não sido selecionada para as audições da nova turma, estava para chegar a qualquer momento.
E ela havia chegado. Finalmente ele descobriria se os esforços para convencê-la a superar seus medos e voltar a dançar haviam valido à pena.
-Você já abriu? - Ela negou com a cabeça, mordendo o lábio inferior, como sempre faz quando está nervosa, Zack observou. - Vem comigo!
Eles foram até a cozinha, onde Zack preparou alguns sanduíches e pegou a jarra de suco que estava na geladeira. Os dois subiram até o quarto dele, Týr notou que o lugar continuava igual ao das lembranças dela de quando eram crianças e fingiam estar em uma guerra espacial, entre as estrelas e planetas pintadas com tinta fluorescente no teto do quarto dele, que agora descascavam por causa do tempo.
-Acho que elas não brilham mais. - Ela falou olhando para cima.
-O quê? - Ele perguntou virando-se para ela e compreendendo a pergunta ao notar para onde seu olhar estava direcionado. - Não muito!
-É uma pena! Você deveria retocá-las.
-Posso considerar isso depois. Mas agora - o rapaz ele chamou a atenção dela tocando na carta - nós precisamos abrir essa belezinha aqui e comemorar.
-E se eu não for selecionada?
-Primeiro, não existe chance nesse mundo de você não ser aceita, sua vó puxaria a perna dos diretores à noite pelo resto da eternidade . - Týr deu um sorriso de lado. - Segundo, duvido que alguém consiga dar mais voltas que você sem vomitar o almoço do dia anterior ou ter uma crise de labirintite.
-Fala sério! As garotas que se escrevem parecem robôs, elas praticam vinte e cinco horas por dia.
-Exatamente, elas são como robôs, podem ter a técnica e a prática, mas elas não têm o mais importante, isso aqui. - Zack puxou uma mão dela até o coração e segurou ali, sentindo as batidas descompassadas, pela ansiedade que ela sentia. - Nem toda a prática do mundo vai superar o que você transborda quando está dançando, você faz todo mundo parar para te ver dançar e é isso que me faz ter certeza de que quando você abrir essa carta você vai rir desse medo bobo que está sentindo agora.
-Você acha?
-Eu tenho certeza! Agora abre logo essa carta!
-Tudo bem!
Týr desamassou o envelope que estava em sua mão e começou a abri-lo, suas mãos tremiam de nervoso. Puxou a folha com o emblema de Julliard de dentro do envelope e começou a ler. Zack observou em silêncio, deixando que ela levasse o tempo necessário, embora estivesse morrendo de curiosidade para saber de uma vez o resultado. Por fim, desistiu de esperar.
-Então? - O garoto perguntou.
-Eu não acredito! - A menina falou, finalmente, com os olhos marejados. - Eu passei! Oh meu Deus, Zack! - Ela começou a rir e chorar ao mesmo tempo. - Eu não acredito, eu passei, e estou entre as concorrentes finais da Julliard.
-É sério? - Zack falou, mais aliviado que ela por ter sido um bom resultado. Ele a abraçou e girou, irando-a do chão. - Isso é maravilhoso!
Antes que eles pudessem pensar estavam se beijando e mais uma vez um daqueles momentos em que você respira, ri e chora sem saber como, acontecia. O tempo tinha parado para fazer aquele momento durar por horas ou, ao menos, era assim que os dois sentiam.
Quando o beijo acabou eles continuaram abraçados, talvez tentando absorver o que tinha acabado de acontecer, talvez sem se dar conta de que ainda estavam um nos braços do outro, mas o fato é que eles estavam ali, juntos.
Zack foi o responsável por quebrar o silêncio:
-Você precisa contar para sua mãe e sua irmã.
-Ai meu Deus, elas vão fazer um escândalo.
-Ah, com certeza, vão. - Os dois começaram a rir. - Eu surpreenderia se toda a rua não ficar sabendo disso nas próximas vinte e quatro horas.
-Não seja ridículo! - Ela deu um tapa no braço dele. - Isso vai acontecer em no máximo quinze horas, não as subestime.
-Ah não! Já estou vendo a Diretora Jones me substituindo no topo da sua pirâmide das celebridades por você.
-Não se preocupe, eu renuncio o posto de escolhida, não tenho vocação para Harry Potter, prefiro ser a Hermione. Ei, por que você está fazendo essa cara?
- Tentando imaginar a Emma Watson vestida só numa camisa masculina do Fall Boy e polainas dançando Gisélle. - Zack respondeu, ainda imaginando a cena.
-Ridículo! - Týr balançou a cabeça fingindo desprezo. - Vamos, preciso contar a minha mãe as novidades e, já que você me fez o favor de lembrar desse detalhe, vai junto.
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Apenas Dance Comigo
FanfictionEssa história trás uma possibilidade de como seria a vida de duas personagens de mundos imaginários se elas vivessem no mundo real e se encontrassem. Foi um desafio sugerido pelo Blog Um Dia Frio e envolve as personagens: Týr, de Afterlife, por Lean...