Aula 2

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2 GREGOS

Continuando o seguimento de desenvolvimento histórico da magia na humanidade, entraremos na Magia da Grécia.

No apogeu da civilização grega, os rituais de feitiçaria desafiavam o poder da lógica e da razão dominantes para os trouxas.

Quem podia imaginar que os gregos, defensores da ideia de democracia, do debate e do direito ao voto eram praticantes da magia, ainda mais para fazer mal a um inimigo! No livro "Os Trabalhos e os Dias", o poeta do séc. VIII a.C., Hesíodo, recomenda que "se alguém começar tanto dizendo quanto fazendo algo indelicado, esteja certo de pagar-lhe a ofensa duas vezes mais", ou seja, para os gregos devemos ajudar os amigos e prejudicar duas vezes mais o inimigo. A vingança entre os helenos tinha um valor positivo e deveria ser buscada por aqueles que se considerassem lesados por alguém. Logo, era lícito retribuir uma ingratidão ou desrespeito, pois, nessa sociedade, temia-se a vergonha da ofensa que atingia a honra e acarretava a desqualificação moral do indivíduo diante dos demais integrantes da comunidade à qual pertencia.

Entretanto, na impossibilidade de revidar uma ofensa o grego usava das práticas da magia. O bruxo historiador Louis Gernet, especialista em magia grega, afirmava que a magia deve ser considerada como uma das formas mais antigas de fazer valer o direito individual:

"Toda sociedade, qualquer que seja a sua complexidade, necessita de dispositivos para fixar normas, regras e fazê-las obedecidas pelos seus integrantes. A comunidade grega, visando à paz, harmonia e solidariedade, aciona os dispositivos estratégicos de manutenção da ordem, forçando o cidadão lesado a não fazer uso da vingança individual, incentivando-o a trazer a sua indignação ou ofensa para o espaço público do debate no tribunal bruxo."

Mesmo com todo esforço civilizatório, a Pólis não poderia interferir em todos os campos da vida do cidadão. Bruxos e trouxas viviam em conjunto, o que fazia com que se subjugassem às mesmas normas, e encontrassem-se juntos em mesmos debates. Em conflitos amorosos, por exemplo, o Estado se vê de mãos atadas, pois não pode punir ninguém sem uma acusação formal. A situação das mulheres é emblemática, já que a feitiçaria muitas vezes era um dos únicos meios de se fazer temida e até respeitada. Ou seja: a magia era, à época, a tentativa de fazer valer sua vontade perante quem detinha o poder.

A documentação textual produzida desde Homero até Tucídides nos aponta para a existência de práticas mágicas que integravam as cerimônias religiosas e públicas. Os rituais de magia praticados pelos gregos nas cerimônias beneficiavam toda a comunidade visando atender aos que estavam doentes, em perigo ou diante de qualquer necessidade. Havia rituais mágicos públicos para fazer chover (com a criação do Feitiço Atmosférico, e consequentemente também dos feitiços Impervius e Meteolojinx Recanto) a fim de se ter uma boa colheita, ritos para a fertilidade dos animais, para o nascimento de crianças saudáveis do sexo masculino e ritual de cura de doenças realizados no Templo do deus Asklepio. O fenômeno aponta para o estabelecimento da relação culto/benefícios concretizados, por meio das oferendas votivas aos deuses e seres sobrenaturais tais como lume, incenso, flores, doces, grãos de trigo e cevada, água e mel. Podemos afirmar que algumas destas práticas de doação às divindades em troca de algum benefício na verdade sobrevivem até os dias atuais como o ato de acender velas nos templos e na forma de contribuição monetária e doações.

- O que é lume?

- Lume: jato de luz, brilho, clarão, claridade, fogo.

"Anteriormente, quando a religião era forte e a ciência fraca, os homens confundiam mágica com medicina; agora, quando a ciência é forte e a religião é fraca, os homens confundem a medicina com mágica." - Thomas Szasz, trouxa psiquiatra húngaro e divulgador científico. (Notas: ciência é a saída atual dos trouxas para tentar viver sem magia e explicar o mundo. Psiquiatra é aquele trouxa que estuda a mente humana.)

História da Magia - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora