O projeto inacabado

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Carlos acordou cedo. Levantou-se da cama e observou o lado de fora pela janela, os adultos seguravam seus celulares enquanto dirigiam para o trabalho enquanto as crianças usavam os aparelhos para brincarem com bolas e praticarem esportes.

Encostou a mão na parede e as luzes se acenderam imediatamente, levantou a outra mão e o computador iniciou seu sistema.

Desde que terminara a faculdade de Engenharia Tecnomágica, a vida de Carlos era assim, acordar cedo, pegar os projetos no computador e ir para o trabalho, depois voltar para casa terminar os mesmos projetos e dormir.

"Tudo é possível para satisfazer o cliente", esse era o lema da CreativeTM.inc uma empresa em ascensão no ramo da tecnomagia, e também o lema da vida de Carlos.

Sua vida era o trabalho, ganhava absurdamente bem para um jovem de 24 anos de idade, mas não gastava tanto, não saia, não costumava comprar coisas novas e quando tinha folga no trabalho costumava utilizar seus conhecimentos em casa mesmo fabricando coisas que só ele poderia usar como a cafeteira que era acionada por assovios e a batedeira que captava palmas e batidas de pé.

Estralou os dedos e a cadeira giratória recuou para que ele pudesse se sentar, ao sentar-se observou o calendário na tela do computador, era uma sexta-feira, o final de semana se aproximava, todos iriam receber folga para sair e assistir o festival da cidade, mas Carlos havia conseguido um lugar especial na equipe da empresa, para trabalhar o dia todo na concepção do evento, sozinho.

Ainda sentado, ele tirou o notebook do bolso e transferiu os projetos daquele dia para ele. Andou pelos corredores enquanto trabalhava no novo modelo para a empresa e assoviou para cafeteira que iniciou imediatamente a produção de um café expresso.

Enquanto se sentava à mesa do café, abriu um software no notebook e clicou no ícone "Biscoitos salgados". Depois trouxe a cafeteira, a xícara cheia de café e uma tigela. Todas em uma bandeja, para a mesa.

Arrastou um pouco a tigela, enquanto uma rampa descia do teto e dela vinham os seus biscoitos preferidos.

Quando viu que tinha se esquecido do leite, Carlos bateu na mesa e uma torneira subiu até a altura da xícara, derramando um leite quentinho.

Comeu rapidamente e quando acabou, dispensou a bandeja para a pia. Decidiu que lavaria aquilo quando voltasse. Guardou o notebook no bolso traseiro da calça, desceu as escadas e saiu do prédio.

Naquele pouco tempo que passou ao ar livre, Carlos viu as pessoas brincando com seus hologramas e clones virtuais, aqueles eram modelos que ele ajudara a criar na empresa onde trabalhava, nunca viu muita graça neles, mesmo que ele os criasse usando toda a sua criatividade.

Ao chegar à estação, bateu o pé duas vezes e no instante seguinte, se sentou na sua mesa de trabalho.

Deu bom dia e acenou para algumas pessoas aquelas que ele ainda aguentava conviver. Desde que entrara ali, Carlos não se dava bem com algumas pessoas.

Tirou o notebook do bolso e o pôs sobre a mesa, começou a trabalhar no seu projeto, era um holograma na forma de um garoto de uns 12 anos de idade.

Iniciou o trabalho de ilustração ajeitou os cabelos castanhos, a tonalidade dos olhos claros, a cor da pele meio parda, cada detalhe passava pelos ajustes dos cliques do mouse.

Ele ajustou os detalhes do software, a programação do holograma, a fala, traços de personalidade, entre outros. Passou horas assim, era algo que ele já fazia há anos, mas justo aquele garoto estava dando bastante trabalho.

Quando finalmente terminou tudo, e estava pronto para inicializar o projeto, se deu conta de um último detalhe. O nome.

Ainda não tinha dado um nome para aquele projeto e já havia perdido tempo demais com ele, decidiu por deixar o nome como aleatório.

Testou e enviou o projeto do holograma, e foi logo começando o trabalho para o festival, não como se ele fosse fazer algo diferente no outro dia.

Depois de mais um dia de trabalho, guardou o notebook no bolso e despediu-se das pessoas com quem ele ainda mantinha contato, indo logo depois para a estação e em seguida para o seu apartamento.

Ao chegar e ligar o notebook para continuar seu trabalho, um holograma apareceu sentado na sua cama e o encarou diretamente.

Era o garoto que ele passara o dia criando.

Ele encarou isso como um erro e decidiu simplesmente encerrar o software do holograma.

— Não faça isso, não ainda — disse o garoto.

— Como você está falando?! Você nem foi inicializado direito ainda!

— Eu não sei. Você que me criou, eu só sei de uma coisa, ou melhor, duas.

— E quais seriam? — perguntou Carlos

— Me chamo Gabriel e estou aqui para mudar tudo. — disse o menino

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