Eu estava tão eufórica que não consegui prestar atenção em nenhuma das aulas que tive de manhã, na sexta-feira. Eram cinco e meia quando saímos de casa para irmos ao aeroporto. Cam estava mal humorado e bufava constantemente ao meu lado, no carro, deixando claro para todos a sua má vontade em fazer aquilo, quase dizendo: "olha, Victoria, estou fazendo isso porque fui obrigado, entendeu? Não pense que estou me divertindo com isso". Não que eu esteja, de qualquer maneira.
Quando Paul me deu as malditas (ou benditas, dependendo do ponto de vista) passagens, Cam fez uma cara de perplexidade que me deixou sem graça. Não era confortável para ele, mas também não era para mim. Mas o que eu poderia fazer quanto a isso? Ou eu concordava, ou não iria. É claro que ele não abriu a boca para protestar, mas era nítido de que não queria ir. Talvez por querer me ajudar (ainda mais) com tudo que estava acontecendo, talvez pelo olhar que a mãe lhe lançou ou até mesmo por não ter coragem de recusar, agora estávamos indo juntos até Nova York.
Ao contrário dele, Sierra estava empolgadíssima entre nós dois, cantando alguma música nova da Miley Cyrus que tocava no rádio enquanto Paul e Maggie conversavam sobre alguma coisa que eu não fazia questão de prestar atenção.
A cada quilômetro eu me sentia menos a vontade com aquela situação. Se a vontade de rever meus amigos e meu namorado não fosse tão grande, com certeza eu voltaria trás.
Foram as duas horas mais tediosas, mais desconfortáveis e mais demoradas da minha vida. Sem dúvida.
Quase chorei de felicidade e alívio quando chegamos no aeroporto. Depois de colocar as malas no carrinho, fomos fazer o check in e esperar pelo voo, com todo o resto da família acompanhando. Ainda iria demorar alguns minutos para que pudéssemos ir para o avião.
Cam sentou num banco afastado de Maggie e Paul, enfiando as mãos dentro do casaco de moletom vermelho, cobrindo a cabeça com o capuz, enquanto ouvia Kings Of Leon no último volume para que ninguém enchesse seu saco.
Estava sendo um verdadeiro babaca. Sim, um babaca atraente, mas ainda sim um babaca.
Eu o olhava de longe, dentro de uma lojinha de souvenir, esperando Sierra olhar todos aqueles cartõezinhos de aniversário, dia dos namorados e mais todas as comemorações que podem existir. Pode soar um tanto quanto idiota da minha visão, mas daquele ângulo, ele não parecia apenas puto. Sua expressão também era de uma frustração sem tamanho.
- Tchau, Vic, volta logo para gente poder jogar mais. - Sierra me deu um beijo e um abraço forte diante da fila do portão de embarque.
- São só dois dias, Sierra. Eu volto logo, prometo. – Dei um beijo na testa dela. – Além do mais, existe celular pra quê?
- Não é a mesma coisa – ela disse, fazendo bico. Por incrível que pareça, ela já estava fazendo falta.
- Cam, não se esqueça do carro alugado. É da mesma empresa da agência – disse Paul, entregando um papel para ele ao qual eu deduzi ser o recibo do aluguel do automóvel.
- Não se esqueçam de ligar quando chegarem ou eu vou enlouquecer sem notícias. – Maggie recomendou como uma mãe coruja, dando um beijo em nós dois.
- Acho melhor a gente ir logo – disse Cam, se afastando da mãe, virando antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa. Ele foi até a fila de embarque e eu suspirei, chateada, dando tchau aos outros, ajeitando a pequena mochila que estava apoiada em um ombro para acompanhá-lo.
Logo estávamos dentro do avião, sentados nas poltronas um ao lado do outro, em silêncio. Eu olhava para fora, avistando a pista de decolagem, enquanto Cam voltava ao seu mundinho que se resumia aos fones de ouvido e música alta. Se eu estivesse num dos meus momentos surtados, os fones seriam tirados com brutalidade dos seus ouvidos e eu diria umas poucas e boas, diante dos passageiros e as aeromoças. Só que havia um risco nisso tudo. Eles poderiam me achar louca e me colocar para fora do avião.
Eu queria chegar o mais depressa em Nova York para que não pudéssemos ficar tão próximos de uma maneira tão constrangedora e incômoda.
Uma das aeromoças deu as devidas recomendações e colocamos nossos cintos de segurança. Ouvindo os motores em funcionamento e a movimentação do avião, deixei que meus pensamentos voassem na velocidade da luz, até Brian, Brooke e meus outros amigos. Fiquei imaginando a cara de surpresa deles quando me vissem. Nenhum deles fazia ideia de que eu estava indo lá. Eu tentei me conter durante a semana toda com Brian e Brooke – ela finalmente apareceu pedindo desculpas me contando que estava passando um tempo na casa da avó doente, o que já estava acontecendo a um bom tempo antes mesmo antes de eu me mudar para Los Angeles. – Eu sempre fui péssima em guardar surpresas, mas dessa vez aguentei firme e não deslizei um minuto sequer, mesmo quando a euforia de vê-los começou a me dominar nos últimos dias, quando minha mala já estava pronta num canto do meu quarto e as passagens devidamente guardadas.
Cam se mexeu ao meu lado, ao que eu percebi, evitando roçar nossos braços, ainda ouvindo música no último volume. Já começava a ficar furiosa com a atitude dele. Se ele não queria vir, por que estava aqui, afinal de contas? Eu estava agradecida por ele ter concordado, mas se era pra ficar com essa de "não vou falar com você", era melhor eu ter tido outra briga feia com Paul do que ter que ficar aturando isso. Cameron estava igualzinho a uma criança birrenta, com direito a bico e tudo. Resolvi me desligar disso e não deixar que o mau humor dele me atingisse, não agora que faltava tão pouco para rever minha cidade. Peguei o meu iPod dentro da bolsa, deixando tocar aleatoriamente, voltando a pensar nas pessoas de antes e na conversa que eu teria que ter com Brian, nas coisas que eu queria fazer quando chegasse e outras diversas coisas.
O ar saia e entrava em meus pulmões com tanto alívio quando andei com Cam até a entrada do aeroporto depois de pegar nossas malas, que parecia que eu não respirava há muito tempo. E de certa maneira era verdade. Olhei ao redor querendo gravar aquela cena. Eu finalmente estava em Nova York. Não pude conter um sorriso nervoso e ao mesmo tempo feliz, mesmo quando ar gélido da noite bateu em meu rosto, arrepiando minha pele e levantando algumas mechas do meu cabelo, me fazendo apertar o casaco grosso mais contra meu corpo. Era incrível como eu estava com saudade de tudo e todos. Ansiosa para rever cada detalhe.
Já era bem tarde quando tomamos o caminho para minha casa, o que indicava que provavelmente chegaríamos depois das vinte e duas horas, se o trânsito ajudasse. E não ajudou, é claro. Ficamos presos num engarrafamento quilométrico, agonizante e silencioso dentro do carro, tirando o fato do rádio estar tocando uma música lenta e gostosa, o que nada tinha a ver com o momento. Cam bufava de segundo em segundo, passando as mãos pelo cabelo, apertando o volante até os nós dos dedos ficarem brancos. Só depois de quarenta minutos conseguimos tomar a última entrada para a cidade. As ruas estavam quase desertas, o que era bem comum àquela hora da noite, onde o relógio marcava meia noite e meia. Estávamos na avenida principal e meu estômago roncou em sinal de que precisava de alimento.
- Podemos parar no McDonalds ali na frente? – Pedi baixinho, olhando para frente.
Ele não respondeu, como já era de se esperar. Cheguei a pensar que ele não tivesse escutado ou simplesmente resolveu ignorar meu pedido, mas logo virou no estacionamento da lanchonete. Desci na frente, fazendo o mesmo no aeroporto: olhando ao redor. Ali era o lugar onde eu e o pessoal costumávamos comer antes de ir para algum lugar ou quando estávamos voltando, já que ficava aberto até as cinco da manhã. Por um momento cogitei a hipótese de encontrar alguém, só que provavelmente estavam reunidos em alguma festa ou na casa da alguém. Eu teria ido à casa de Brian ou Brooke depois de comer se não fosse tão tarde, mesmo para uma sexta-feira, ou melhor, a madrugada de um sábado.
Meu estômago reclamou de novo e minha boca ficou cheia d'água quando senti o cheiro de hambúrguer e batata frita. Cam entrou atrás de mim com a mesma cara de faminto. Não era novidade a lanchonete estar cheia, ela ficava o dia inteiro assim, eu só queria que naquele momento não estivesse ou eu morreria de fome.
- Você vai querer o quê? – ele perguntou, seco, olhando para o cardápio pendurado na parede.
- Um McChicken – respondi, procurando por algum rosto conhecido.
- Quem você está procurando? – Cam indagou, como se me acusasse de alguma coisa. Eu respirei fundo para não mandá-lo se foder.
- Ninguém. Só quero ir ao banheiro.
- Então vai logo, vou fazer nossos pedidos pra viagem. Aqui está muito cheio e eu estou cansado.
Afastei-me revirando os olhos. Definitivamente quando Cameron Dallas quer ser irritante, ele consegue e muito!
Não vi ninguém no caminho, não que desse para achar alguém ali. Parecia que todo mundo resolvera ir lanchar àquela hora da noite. Lavei o meu rosto, tentando espantar o ar de cansada e arrumei o meu cabelo, o prendendo num nó frouxo. Meu celular apitou na bolsa avisando duas novas mensagens:
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Life Changes
FanfictionVictoria Johnson pensava ter uma vida perfeita em Nova York, mas tudo muda quando sua mãe decide se mudar para Europa e ela se vê sem saída optando em morar com o Pai em Los Angeles. A partir dessa mudança, tudo na vida de Victoria muda. Principalme...