Escrevia freneticamente no celular. Estava mandando uma mensagem para Brian, enquanto os outros andavam um pouco mais à minha frente, conversando. Eu escutava suas vozes, mas não conseguia entender qual era o assunto. Estava concentrada demais nas palavras que meus dedos digitavam. A todo o momento escrevia e apagava a mensagem. Não sabia como escrevê-la sem cobranças ou parecendo rude. Eu sabia que Brian estava treinando para as finais do campeonato de Nova York, mas ele não havia dado notícias há alguns dias, ou seriam semanas? Talvez sim. Eu realmente não estava prestando atenção nisso. Sim, eu estava com saudades do meu namorado, tinha muitas saudades de escutar sua voz. Sempre quando eu ligava para sua casa, ele estava treinando ou quando ligava para o seu celular, chamava e chamava, mas ninguém atendia e não tinha retorno. Estava ficando preocupada. Será que tinha acontecido alguma coisa? Decidi-me por uma mensagem simples e sem delongas:
Brian, está tudo bem? Você não tem dado notícias, estou preocupada! Quando ler essa mensagem, me ligue, pois precisamos conversar. Saudades, beijos.
Não, eu não pretendia terminar com ele. Eu pretendia visitá-lo. Já haviam se passado três semanas desde a minha chegada a Los Angeles. E, como eu disse antes, estava com saudade de Brian, dos meus amigos, minha cidade, Brooke e... da minha casa. Talvez fosse má ideia visitá-los assim tão recentemente. Mas o que eu iria fazer? Eu precisava vê-los. Precisava ter certeza que as coisas estavam como sempre estiveram. Então poderia não ser tão má ideia assim. Eu só precisava convencer Paul a me deixar ir sozinha, porque eu não o queria mais andando pra lá e pra cá comigo. Todo mundo precisa de privacidade e eu não sou diferente. Um final de semana, que tal? Semana que vem não está tão longe, hoje já é sexta. Eu poderia comprar as passagens na segunda e viajar sexta e voltar no domingo, depois do almoço, chegaria aqui antes do entardecer. Não era um plano perfeito? É claro que era! Só precisava convencer Paul a isso. E algo me dizia que Maggie e Sierra iriam me ajudar.
Olhei para o aviso de "Mensagem Enviada" no meu celular, rezando para que Brian lesse a mensagem logo e o fechei, colocando-o dentro do bolso da calça. Apertei o passo para chegar mais perto do pessoal, em tempo de escutar a voz de Nash.
- Minha cabeça vai explodir — reclamou, colocando a mão sob a cabeça, fazendo uma falsa careta de dor. — Nunca pensei que poderia acontecer um estupro mental comigo.
- Nash, você é tão idiota. — Lizzie revirou os olhos, andando ao meu lado como se estivesse irritada, mas eu percebi que era pura fachada.
- Nem todo o mundo é inteligente como você, Price. — Todos nós rimos quando ele pronunciou o sobrenome dela.
Era engraçada a relação deles. Eu e as meninas já tínhamos quebrado aquela barreira de apenas nos chamar pelo primeiro nome. Hailey vivia criticando Nash, não perdia uma oportunidade. Mas eu sabia muito bem que era porque queria esconder a atração que tinha por ele. Eu já tinha percebido seus olhares para ele, quando ele não estava olhando, é claro. E quando fazia menção de dizer algo, ela logo cortava e dizia que era pura imaginação minha. Aham, tá.
De certo modo, eu entendi o lado dela, afinal, ainda estava com Brad. Só que a relação deles era estranha. Ela quase nunca falava dele, só quando estava perto, aí sim, abria a boca e não fechava mais. Ou talvez fosse impressão minha. Talvez eu gostasse tanto de Nash que torcia para que ela lhe desse uma chance. As meninas também percebiam as mesmas coisas que eu e estavam na torcida, mas como se fosse surda, Hailey ignorava tudo o que dizíamos. Fingia-se de indiferente, mudava de assunto, nos xingava — sim, já estávamos no ponto dos xingamentos — e até mesmo nos batia! Ainda era cedo para definir o que ela sentia por Nash, mas de uma coisa eu tinha certeza, a presença dele não passava em vão.
Já ele era completamente diferente. Não fazia nenhuma questão de esconder que era doido por ela. Sorria, elogiava, tentava tocá-la... E, dura como uma rocha, Hailey não demonstrava nada. Mas de qualquer maneira, era engraçada a forma como ele a abordava em certas situações. Certo dia, durante a aula de artes — que era um das que todos tínhamos juntos — Hailey estava terminando sua aquarela, quando de repente — ok, não tão de repetente assim, todos sabíamos o que ele ia fazer — Nash surgiu por trás e sussurrou em seu ouvido alguma coisa que até agora eu não sei porque Hailey ficou tão puta que não quis mais tocar no assunto. Ela quase teve um treco e acabou borrando a tinta azul bem em cima da pintura. Não preciso dizer que ela quase o matou, né? Nash teve que desviar de não um e nem dois, mas cinco pontinhos de tinta, o que rendeu à turma muitas risadas.
— Vêm meninas, vamos ficar aqui. — Lily apontou para uma parte da arquibancada vazia. — Boa sorte, meninos. — Ela se inclinou para a frente para dar um beijo rápido em Shawn, antes de sentar.
Lá estávamos nós quatro, mais uma vez, acompanhando o treino do futebol deles, pela terceira vez só essa semana. O jogo para a classificação para o campeonato da cidade era amanhã e eles estavam treinando como animais. Então Lily teve a ideia de vê-los durante os treinos, na parte da tarde, depois da aula, já que o jogo seria em outra cidade e nenhuma de nós poderia ir para apoiá-los. Eu não poderia negar que a oportunidade de ver Cam sem camisa fosse uma coisa muito difícil. É claro que tinha plena certeza de que eu tinha um namorado, mas olhar não arranca pedaço, né? Quero dizer, depende do seu ponto de vista, pois sabia que se não desviasse os olhos de depois de olhá-lo por algum tempo, certamente sairia sim um pedaço.
Deus, Victoria, pare de ficar pensando essas coisas!
Mas ele é tão gostoso, não tinha como não pensar. São os hormônios.
Foda-se os hormônios, você tem um namorado!
Mas ele não sabe que eu estou olhando pro Cameron e tenho certeza que Brian também olha para meninas gostosas, é normal.
Você não pensa em Cameron só como um cara gostoso!
Ih, quem te disse?
Victoria, eu sou sua consciência, sabia? Sei tudo o que você pensa.
Então agora eu tenho um grilo tipo o do Pinóquio? Legal.
Não seja irônica, não distorça o que eu estou dizendo!
Eu tenho pensado em Cam sim, mas porque ele tem sido legal comigo desde que eu cheguei. Não posso ficar grata por isso?
Gratidão não é a mesma coisa que desejo.
Pelo amor de Deus, eu não o desejo. Ele é apenas um cara gostoso que está sendo muito legal comigo, não há problema nisso. Isso se chama atração física, se você não sabe.
Você gosta quando ele implica com você, gosta quando ele te olha de cima a baixo, gosta de ouvir o som da gargalhada dele, gosta do modo como ele chama seu apelido, e além do mais, você é viciada no perfume dele. Admita; você se sente atraída por ele.
Ok, eu admito, mas e daí? Ele é atraente, o que posso fazer?
Ele é seu irmão.
Claro que não. Só porque Paul casou com Maggie não quer dizer que ele seja meu irmão ou algo derivado disso. apenas é filho da minha madrasta e consequentemente mora na mesma casa que eu. Mas isso não nos faz ser parentes! Que consciência chata do caralho.
- Victoria, estou falando com você, sua imbecil. — Blair me chamou num tom mais alto, cutucando meu braço como se estivesse me chamando há algum tempo.
- O que foi, Blair? — perguntei, tentando disfarçar o meu mau humor, pois aquele papo com minha consciência tinha acabado comigo. Mesmo que a minha voz saísse falsamente natural, eu não conseguia desmanchar a expressão estampada no meu rosto indicando o contrário.
- Estava falando que os únicos que ficam bem com o uniforme são os meninos, não acha? — Ela disse no plural, mas estava na cara que ela queria dizer "Jack". Seus olhos não mentiam enquanto o olhava correndo pra lá e pra cá pelo campo.
- VAI, MEU AMOR, FAZ UM GOL — Lily gritou para Shawn, jogando as mãos pro alto, encorajando-o. Ele sorriu para ela, mandando um beijo no ar.
- É, ficam sim — concordei, pegando minha bolsa para ver se Brian tinha me respondido. Eu sabia que não tinha, mas eu precisava arranjar algo para me distrair. Não dava pra ficar babando no Cameron o tempo inteiro. Não assim na cara de pau, pelo menos.
Porra, porque Brian não me respondia?
- Hm, eles vão mudar de time agora — Hailey disse e vi que os quatro junto com mais alguns outros jogadores tiravam a camisa azul e colocavam a vermelha, como se fossem adversários.
Olhei para o campo, vendo Cam tirar sua camisa. Mesmo de longe eu conseguia ver suas entradinhas definidas e depois todo o seu tronco. Ele virou, mostrando suas costas largas e definidas. Puta merda, como um homem pode ter um corpo tão lindo e gostoso? Não é aquela coisa musculosa e bruta. É apenas definido, com tudo na medida certa, até mesmo um pouco delicado.
Reprimi um suspiro, olhando para o lado, tentando me concentrar em outra coisa, mas era impossível. Ainda mais sabendo o que eu estava perdendo. Não consegui me segurar e voltei a olhar para o campo.
Diferente de Lily, nenhuma de nós poderia fazer algum comentário sobre eles. Blair negava que ainda nutria alguma coisa por Jack — só que todo mundo sabia que era mentira — Hailey, bem, Hailey, como eu já havia dito, olhava para o Nash na frente de todos com o olhar indiferente, mas eu percebi que na segunda vez que eles trocaram de camisa, ela fechou as mãos e puxou o ar. Eu quase ri com a cena, mas não podia. Meu estado não estava diferente.
É claro que se eu fizesse algum comentário, ele não sairia dali, disso eu tinha certeza, só que bem... Eu não ia deixar que elas me encarassem surpresas por ter falado do físico maravilhoso do Cameron.
- Fecha a boca, Vic — Hailey falou baixinho para que só eu pudesse escutar. Virei meu rosto para olhá-la e vi um sorriso de entendimento nos lábios. — Ou a baba vai escorrer e todo mundo vai ver.
- Você está louca. — Neguei tentando ser convincente, rezando para que ela estivesse certa. — Eu não estou babando por ninguém, ao contrário de você. — E indiquei discretamente com a cabeça.
- Eu? — Ela uniu as sobrancelhas e me encarou, desmanchando o sorriso. Eu já sabia o que aquilo representava: Ela estava nervosa porque eu a tinha pego no flagra e sabia o que se passava na sua cabeça. — Quem está louca aqui é você.
- Tudo bem, então. — Dei de ombros. Eu sabia que estava certa, oras. — Você finge que me engana e eu finjo que acredito.
- Ai, que seja! — Hailey revirou os olhos fingindo impaciência, voltando ao tom natural da voz. — Que horas que o treino termina?
- Já devem estar terminando, Shawn disse que o treinador só queria observar os passes deles — respondeu Lily, não desgrudando os olhos do namorado.
- Eu não posso mais esperar, o Brad deve chegar daqui a pouco e ele não gosta de atrasos. — Hailey pegou a bolsa e o fichário, levantou-se dando um beijo em cada uma de nós. — Não se esqueçam, vejo vocês amanhã à tarde. E desejem boa sorte aos garotos.
- Avisa pro seu irmão não ficar andando sem camisa perto de mim. — Blair aumentou a voz, vendo que os meninos se aproximavam.
- Deixa de ser implicante. — Lily lhe deu um empurrão fraco. — Depois fica reclamando que o Jack dá em cima de outras.
- Mas ele dá mesmo — disse Blair, irritada, lançando um olhar do mesmo jeito para algum ponto do campo. — Ai, não acredito que essas garotas estão aqui. Será que a Harris e suas amiguinhas não têm mais nada pra fazer? O time de basquete não treina aqui.
- Controle-se e mantenha a classe. — Pedi, controlando a mim mesma. — Não vamos dar ibope para elas, além do mais, os meninos estão vindo pra cá, enquanto elas estão do outro lado.
- Por que você acha que elas estão ali? É o vestiário deles. — Blair ficou vermelha e eu cheguei a acreditar que ela fosse explodir. — Deus, elas não desistem.
Lily lhe deu mais um empurrão, levantando para falar com Shawn. Cam subiu a arquibancada, correndo com uma toalha de rosto jogado ao redor do pescoço e sentou ao meu lado. Mesmo suado ele ainda tinha um perfume muito bom, me deixando com vontade de cheirá-lo loucamente.
- Meu lindo — Lily deu um estalinho em Shawn, apertando suas bochechas. — E aí, estão preparados?
- Claro, depois de tantos dias treinando feitos loucos. Até meu cérebro dói. — Jack passou uma toalha que estava em suas mãos no rosto, limpando o suor e se sentou num banco abaixo de Blair. — Blair, faz uma massagem em mim?
- Ahn... Tá bom. — Ela fez uma cara de que gostou, segurando um sorriso e começou a massageá-lo.
Cadê toda aquela raivinha, hein?
- Cadê a Hailey? — Nash olhou para os lados, como se ela fosse surgir do nada. — Por que ela não esperou?
- Ela ia encontrar com o Brad — respondi e o semblante cansado, mas sorridente de sumiu instantaneamente e eu emendei, tentando amenizar a situação. — Mas ela desejou boa sorte pra vocês.
- Olha, que legal da parte dela, não é? — falou, sarcástico. — Eu não entendo porque o pedófilo do O'Connel nunca chega perto da gente.
- Deve ser porque você já deixou bem claro que não gosta dele e é doido pra ficar com a Hailey. — Cameron falou o óbvio, dando um sorrisinho debochado. — Ele está se defendendo.
- Eu não gosto mesmo e não faço questão de esconder. — fez bico, virando o corpo na direção do vestiário. — Enfim, estou morto e preciso descansar. Não vai ser fácil acordar às seis e meia se eu continuar no estado que estou. Encontro com vocês amanhã. Tchau meninas. — Ele nos deu um beijo na bochecha. — Torçam pela gente, okay?
- Tchau, Nash. — Apertei as bochechas dele, fazendo-o rir e depois lhe dei um beijo no local. — Até segunda e boa sorte.
Ficamos sentados por um tempo conversando e rindo. De vez em quando eu olhava para o vestiário, tentando ver alguma das líderes, mas nada. Elas pareciam ter se mancado. Finalmente, eu devo dizer, porque não aguentava mais aqueles olhares vulgares e nada discretos que a Richards lançava para o Cameron o tempo inteiro. Ela parecia que ia engoli-lo a qualquer hora como se ele fosse um chocolate delicioso. Não que ele não seja gostoso ou qualquer coisa do tipo. E não que eu ligue pela forma que ela olhava pra ele, não tinha nada a ver com isso, mas era meio incômodo. Meio não, totalmente.
No outro dia estávamos eu e ele conversando no intervalo e ela se meteu entre nós, me excluindo e começou a puxar papo com ele. É claro que eu não deixei barato e tratei de cutucá-la e mandá-la sair da minha frente da forma mais controlada possível. Ela me olhou, dizendo com um sorrisinho sem graça "Não precisa ter ciúmes do seu irmãozinho, Victoria". Irmãozinho? Quantas vezes eu preciso dizer que Cameron não é meu irmão? Além disso, que me irritava profundamente, eu odiava quando ela fala comigo daquele jeito cínico. E ela falava sempre. Era quase de lei fazer uma piadinha comigo quando eu passava. Eu tinha uma enorme vontade de socá-la até deixar aqueles olhinhos roxos, enquanto gritava "Hilary Richards, você é uma puta", mas me controlava porque ainda era novata e não queria confusões pro meu lado. Não iria tomar uma suspensão ou uma advertência por causa dela e ficar de castigo, sem internet e telefone. Como eu iria falar com Brooke e Brian? Então me fazia de "pessoa passiva", digamos assim. Só que o dia em que ela me pegar mau-humorada, coitada. Mal sabe que eu quebrei o nariz de uma garota no sétimo ano do meu antigo colégio.
Demoramos mais do que pretendíamos e chegamos em casa já no entardecer. Não passamos na escola da Sierra porque ela iria ficar o final de semana na casa de uma amiga, o que me deixou com ciúmes. Eu realmente estava me apegando a ela.
Fiquei pensando em como conversaria com Paul. Pensando nas palavras certas para tentar convencê-lo de que eu poderia sim viajar sozinha até Nova York. Eu não poderia esperar Sierra chegar em casa para me ajudar com isso. Tinha que fazer hoje mesmo.
Quando virou a esquina, vimos um caminhão em frente à casa. Entramos, passando pela sala que estava com as portas escancaradas, olhamos para o cômodo, vendo Maggie dar instruções a dois homens uniformizados e extremamente fortes.
- Ah, acho que não, vocês podem colocar do outro lado? Acho que vai ficar melhor naquele ângulo. — Ela pediu, apontando para o lugar vazio perto da lareira. Não reparou que eu e Cameron estávamos ali e continuou falando com os homens, que pareciam não ter gostado da sugestão dela. — Hm, acho que está bom. O tapete vai ficar lindo. — Ela falou consigo mesma, quase batendo as mãos de felicidade como Sierra fazia. — Vocês já podem pegá-lo no caminhão.
- Mãe, o que você está fazendo? — perguntou, entrando na sala com uma sobrancelha levantada, enquanto os homens passavam por nós.
- Finalmente vocês chegaram. — Maggie cruzou os braços, fazendo uma cara de mãe preocupada. — Onde estavam?
- Eu estava treinando e a Victoria ficou assistindo. Mas, afinal de contas, qual é a da mudança da arrumação da sala?
- Meu tapete chegou. — Maggie sorriu e olhou pela janela para ver o que os dois caras estavam fazendo. — E eu estava pedindo àqueles homens para mudarem um pouco os móveis. — Virou-se para mim. — Vic, Paul queria falar com você. Ele está no escritório.
- Ah, tudo bem. — Saí da sala em tempo de ver os homens voltar com um enorme tapete com uma mistura de azul e bege de fibras naturais. Eu adorava esse jeito que a Maggie tinha de se preocupar com o meio ambiente.
Passei pela cozinha antes de procurar Paul. Não porque queria alguma coisa de lá, mas sim porque já me acostumei em falar com a Gina assim que chego da escola. Entrei na cozinha, não me surpreendendo com o cheiro de dar água na boca que vinha do fogão.
- Que cheiro bom! — falei atrás de Gina, vendo o que ela mexia na panela. O cheiro estava bem mais forte. — O que temos para o jantar?
- Peixe com batata assada. — Gina empinou sua bunda de propósito, me fazendo chegar pra trás. — E pra sobremesa temos Scones, um doce inglês.
- Eu vou acabar engordando com essas comidas maravilhosas que você faz, Gina. — disse, já me adiantando para a geladeira para ver o doce. — Pena que a Sierra não está aqui para comer comigo. — Fechei a porta da geladeira, dando de cara com Gina me observando. — O que foi? — perguntei, achando a forma como ela me olhava estranho. Parecia que estava pensando em algo e tinha chegado à conclusão de que estava certa.
- Nada. — Ela deu de ombros sorrindo, voltando a mexer na panela. — Vai logo falar com o seu pai, ele quer conversar com você.
Levantei o cenho, continuando a andar em direção ao escritório onde Paul provavelmente estava revendo alguns projetos. Até Gina sabia que ele queria conversar comigo? Ei, o que está acontecendo aqui? O que aconteceu? Eu fiz alguma coisa errada? Eu juro que não comi o último pedaço de cheesecake. Talvez um pedaço dele, mas o resto foi tudo a Sierra. Respirei fundo antes de bater na porta. Minha relação com Paul ainda não estava estabilizada. Na verdade, ele era a única pessoa com quem eu raramente conversava. Eu ainda tinha certa raiva e o seu jeito carinhoso e calmo só faziam a situação piorar. É claro que ele tentava inverter esse papel, mas eu não queria. Eu não deixaria dez anos passarem despercebidos só porque agora estava morando com ele. Bati fracamente, rezando para que ele não escutasse, mas logo em seguida ouvi um "entre" abafado do outro lado. Girei a maçaneta, vendo Paul sentado numa cadeira preta giratória em espalmar alto atrás de uma mesa em madeira grande da cor tabaco onde continha um computador moderno e duas poltronas pretas à sua frente. Olhou para mim, desviando de uma planta civil.
- Maggie disse que você queria falar comigo. — Fechei a porta e fiquei em pé, de frente a ele, apertando meu fichário contra meu peito, ansiosa para saber o que ele queria e tentando criar coragem para falar sobre a viagem.
- Você não quer se sentar? — Ele indicou uma poltrona, mas eu neguei com a cabeça. — Tudo bem, serei breve.
Paulq passou a mão no cabelo, indicando que ele estava tão ansioso quanto eu. Vi que ele tentava controlar sua respiração, tentando se mostrar calmo.
- Eu andei observando você desde que chegou... — Ele começou, me fitando com seus olhos incrivelmente iguais ao meus. Não era só na voz que Paul transmitia tranquilidade. Todo o seu jeito era assim, mas não fazia efeito em mim. — Estou sabendo que você fez amizades no colégio com as amigas do Cameron. Elas são ótimas garotas.
- É, são. — Eu não estava entendendo todo aquele papo. Aonde ele queria chegar com tudo isso? — Me receberam muito bem desde o começo.
- Fico feliz com isso. — Ele sorriu, encostando-se no espalmar da cadeira. — Fico feliz que você esteja gostando de morar aqui.
Hm... É, eu não poderia mentir e dizer que não era verdade. Eu estava mesmo. Era meio complexo porque parecia que o que eu estava vivendo era em outra vida, outro mundo paralela à minha antiga. Não existia a melhor opção, pois as duas estavam ótimas. De certa forma, eu me sentia em casa morando aqui. Poderia ser por causa do jeito carinhoso de Gina e Maggie, ou por ter criado uma afinidade grande com Sierra, Hailey, Blair e Lily. Não esquecendo os meninos, é claro. Eu gostava de todos. O grande problema era a saudade que eu tinha dos meus amigos antigos. Da minha cidade. Eu ainda tinha um vínculo com Nova York e seus habitantes.
Paul não voltou a falar. Estava esperando que eu confirmasse o que tinha dito, mas eu estava pensando na viagem. Isso, Victoria, essa é a hora. Eu tinha uma chance de falar numa boa com ele. O clima não estava tão estranho como das outras vezes. Não estava relaxante como geralmente pai e filha têm, mas era alguma coisa, não era? Todas as ideias que eu tinha dito de como começar essa conversa estavam muito embaralhadas na minha cabeça. Não vi nenhuma muito convincente, teria que improvisar.
- Já que tocamos no assunto, eu queria saber... — Comecei, procurando as palavras certas. — Eu quero viajar até Nova York na semana que vem. Estava pensando em ir na sexta e voltar no domingo.
- Eu já imaginava que você falaria isso em algum momento. — Ele juntou as pontas dos dedos de uma mão com a outra, colocando-as em cima da mesa, inclinando-se para frente um pouco. Certo, ele queria jogar uma bomba em cima de mim, sentia isso. — Acho melhor você não ir, não sozinha. Principalmente agora que as coisas estão começando a se ajeitar.
- Por que não? Não há nada demais nisso e eu estou com saudade do Brian e da Brooke. Eu não vou fugir ou qualquer coisa do tipo. — Calma, Victoria, calma. Era a única coisa que eu pensava. Não vai se exaltar logo agora.
- Eu não disse que você fugiria. Eu só não acho uma boa ideia, Victoria. Você ainda está se adaptando, está mais envolvida com as coisas, fazendo amizades, não anda mais alheia às coisas ao seu redor como antes. Se você for agora para Nova York, talvez volte a ficar triste como antes.
- Eu vou ficar triste se não for lá. — Falei, num tom bem mais alto do que o normal, trincando meus dentes.
Fodeu, Victoria. Fo-deu.
- Tudo bem, não vou impedir que você vá, mas então eu irei também. — Ele não se abalou nem um pouco com o meu tom. Lá estava sua tranquilidade que me irritava. Como ele conseguia essa proeza?
- O QUÊ? — Gritei, jogando agressivamente meu fichário na cadeira à minha frente. A raiva começava a borbulhar em minhas veias numa velocidade incrível e eu não conseguia mais controlá-la. — Eu tenho dezesseis anos, sei cuidar de mim. Não preciso de ninguém atrás de mim como uma babá, principalmente você.
- Ou eu vou, ou nada feito. — Paul cruzou os braços me olhando desafiadoramente, deixando claro que não estava brincando. Ele provavelmente ficou puto com a minha última frase, pois seu tom calmo estava vacilando. — Eu não vou deixar você viajar sozinha.
- Você está fazendo isso de propósito. Sabe muito bem que não quero que você vá e está tentando me impedir de ir. — Semicerrei os olhos, cruzando meus braços também. Assim eu não teria o impulso de jogar no chão os objetos em cima da mesa. — Você está muito enganado. Vou para Nova York sozinha e você não pode fazer nada sobre isso.
- Eu tenho sido muito paciente com você, Victoria. Entendo que as coisas não estão sendo fáceis, mas você não pode falar comigo do jeito que acha certo. Não pode tomae decisões desse tipo sozinha. — Ele levantou, colocando as mãos em cima da mesa para deixar tudo mais claro. — Eu já falei, ou vou com você ou você não vai.
- VOCÊ NÃO VAI ME IMPEDIR, EU VOU SIM E VOU SEM VOCÊ. — Gritei de novo, tendo certeza que todos da casa escutavam. Eu tinha vontade de subir em cima daquela mesa e esganá-lo até ouvir seu último suspiro de vida. Precisava machucá-lo como ele estava fazendo comigo. — VOCÊ ESTÁ TENTANDO DESTRUIR A MINHA VIDA, MAS NÃO VAI CONSEGUIR.
- NÃO SE ATREVA A FALAR COMIGO DESSE JEITO. — Paul gritou como um louco, deixando o rosto vermelho púrpura, fugindo totalmente daquele jeito tranquilo de antes. Ele deu um soco na mesa, reprimindo, em vão, sua raiva. Lá estava a fera guardada dentro dele e eu, de certa forma, fiquei com medo. Era um Paul completamente diferente. Não duvidaria que ele me desse um tapa a qualquer momento.
- EU ODEIO VOCÊ, ODEIO! — Gritei mais alto que ele, apontando em sua direção. Ótimo, estávamos fazendo um campeonato de quem gritava mais alto. — ODEIO O FATO DE VOCÊ SER MEU PAI, ODEIO O FATO DE NÃO TER ESCOLHA DE ONDE VIVER. ODEIO O FATO DE TER QUE MORAR AQUI.
- Meu Deus, o que está acontecendo aqui? — Maggie entrou desesperada dentro do escritório, sem nem se dar ao trabalho de bater na porta antes. — Paul, Victoria, o que vocês estão fazendo? Pelo amor de Deus... — Ela veio até mim, me puxando pelo braço com delicadeza, eu a abracei com força e Maggie fez o mesmo. — Calma, ,Vic vai ficar tudo bem.
- Não, não vai. — Fechei meus olhos, só agora sentindo meu rosto muito molhado. A raiva que eu estava sentindo era tão grande que não tinha reparado que estava chorando e tremendo muito. — Eu não quero mais ficar aqui, quero ir embora. Não quero mais olhar para a cara desse homem que se diz meu pai.
- Victoria, eu.. — Paul tentou falar, mas Maggie o impediu.
- É melhor você subir e tomar um banho. — Ela me soltou aos poucos, me fazendo encará-la. Maggie estava com o cenho franzido. Seu semblante era de confusão e preocupação. — Me deixe conversar com pouco com o seu pai.
Não relutei. Peguei meu fichário jogado na cadeira, ajeitei a bolsa no meu ombro e enxuguei as lágrimas antes de sair do escritório. Eu sabia que outras mais desceriam e molhariam o meu rosto de novo, mas isso não me fez deixar de secá-las. Respirei fundo, enquanto subia as escadas e entrava no meu quarto, fechando a maldita porta com muita força.
Puta merda, o que eu iria fazer? Qual era o problema de eu viajar sozinha até Nova York, me diz? Eu não iria fugir. Não que essa ideia não fosse realmente tentadora, mas eu não ia arranjar mais encrenca pro meu lado. Como eu disse antes, eu estava tentando ser uma pessoa passiva. Estava controlando o meu lado explosivo, será que Paul não via isso? Custava alguma coisa ele me deixar viajar? Custava? Aquele papinho todo de "estou preocupado de que você volte a ficar triste como antes..." não me convencia. Não mesmo. Ele só estava concordando de eu ir com ele porque sabia que eu nunca aceitaria isso. Estava estampado na minha cara, não precisava ser nenhum gênio para saber. Minhas lágrimas ainda desciam e eu ainda podia sentir o tremelique pelo meu corpo. Eu estava há dias sem chorar, mas é claro que Paul achou isso muito tempo e revolveu me infernizar.
- Posso falar com você? — Cam perguntou, metendo a cabeça dentro do meu quarto e eu reparei que ele estava com aquele tom irritado, com a boca numa linha fina e sinuosa. Antes que eu falasse alguma coisa, ele tratou de entrar e fechar a porta atrás de si. Colocou as mãos no bolso, me olhando impacientemente. — Vic, será que você não pode facilitar as coisas pro Paul?
- Facilitar o quê, Cam? — perguntei no mesmo tom, levantando uma sobrancelha, deixando que mais lágrimas descessem pelo meu rosto sem ter o trabalho de impedi-las. — O que você quer que eu facilite pra ele? Quer que eu esqueça os meus amigos de infância? Quer que eu esqueça do meu namorado? Da minha casa, da minha vida em Nova York? Eu não vou esquecer nunca. Eles ainda são importantes pra mim e não importa o que você, Paul ou sei lá mais quem diga, isso não vai mudar. Eu só quero vê-los, é pedir demais?
- Ele não está impedindo que você vá, ele só não quer que você vá sozinha. Está preocupado. — gesticulava com as mãos, apontando para mim, como se me acusasse de um crime horrível.
Ele não faria com que eu me sentisse culpada, não mesmo.
- E você quer que eu vá com quem? Com o Jake? Legal, eu levo o Jake comigo então. — Meu tom de voz voltou a aumentar, informando minha elevada irritação com todo aquele papo. Eu já estava irritada, por que ele tinha que vir aqui me perturbar ainda mais? Aquela conversa não iria sair tão amigável.
- Por que você não deixa de ser egoísta, garota? Não vê o que o Paul está fazendo por você? É tão burra assim para não enxergar isso? Fica aí se lamentando, mas em nenhum momento pensou o que ele está passando com isso tudo.
- Oh, pobre Paul. — Debochei, dando um sorrisinho sem humor, enquanto ficava na sua frente, querendo reprimir a vontade de gritar na sua cara. — Deve ser realmente difícil ter que ficar com a filha que você abandonou há dez anos.
- Você acha que conhece o Paul, mas não sabe de absolutamente nada sobre ele. Não sabe o pai maravilhoso que ele é.
- Por que você está me enchendo com isso tudo? Não vê que não vai mudar minha opinião? — Qual era a dele? Por que ele estava tentando me convencer? — Você não sabe o que eu passei, não sabe o que eu e minha mãe sofremos quando ele foi embora. Ele nem ao menos me deu uma explicação. Agora vem você — O cutuquei com força no peito. — aqui para me encher a porra do saco, falando o quanto Paul é bonzinho...
- Eu tenho meus motivos para pensar desse jeito. — segurou minha mão que o cutucava, afastando-a e depois soltou. Fechou os olhos e quando os abriu, vi que eles estavam brilhantes, como se ele tivesse prestes a chorar também. — Ele me criou, é como meu pai legítimo. Me ensinou tudo o que eu sei, só quero que você dê uma chance a ele.
- Isso não vai acontecer, sinto muito por você. Além do mais, acho que ele já está bem grandinho para ter alguém como você para defendê-lo. — Me afastei por completo, andando em direção ao banheiro em passos largos ao mesmo tempo em que fechava a porta com força. Me trancando, escorando na porta, agarrando os meus joelhos.
Ouvi a porta do meu quarto sendo fechada com força, indicando que tinha ido embora, me deixando finalmente sozinha. Deixando que o meu choro de raiva acontecesse sem interrupções.
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Life Changes
FanficVictoria Johnson pensava ter uma vida perfeita em Nova York, mas tudo muda quando sua mãe decide se mudar para Europa e ela se vê sem saída optando em morar com o Pai em Los Angeles. A partir dessa mudança, tudo na vida de Victoria muda. Principalme...