Capítulo 2

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Pov – Annie

Um vento frio bate me fazendo estremecer e ergo a gola da jaqueta, dobro os joelhos me encolhendo um pouco, gosto desse lugar. A escada de incêndio do pequeno apartamento de Trace.

Não tenho mais ninguém além dela e se não estivesse na pior não estaria aqui de modo algum. Seu marido Ted me odeia com todas as suas forças, se não fosse a culpa que Trace carrega talvez não me recebesse.

Trace e minha mãe eram amigas de infância, minha mãe foi a primeira a casar e nasci no primeiro ano de casamento. Depois foi a vez de Trace se casar com Ted. Os dois não tiveram filhos e acho que a humanidade agradece. Um filho de Ted teria que carregar apenas os genes de Trace para ser aceitável.

O homem é intratável. Não é verdade admito constrangida, seu ódio é dirigido apenas a mim. Quando se casaram, Trace teve que se afastar da minha mãe e no fim ele estava certo. Quem quer ter amizade com um casal que o marido é nada além de um trapaceiro? John Keller era conhecido por seus pequenos golpes, era assim que sustentava a família e Ted afastou as velhas amigas.

Quando minha mãe morreu e ficamos apenas eu e meu pai Trace tentou ajudar. Me lembro de ser deixada em sua casa horas a fio enquanto meu pai saía para seu trabalho de enganar pessoas e limpar seus bolsos.

Eu tinha sete anos, amava meu pai, ele me amava. Eu sabia, mas não entendia seu trabalho, ouvia Ted esbravejar a cada vez que chegava do trabalho e me via encolhida em seu sofá assistindo desenho.

Como tinha medo dele, ainda tenho, no fundo mesmo todos esses anos depois eu ainda tenho e se tivesse qualquer outra opção não teria batido justo nessa porta, mas não tem mais nenhuma outra porta para mim.

Não tem nada para quem vem de onde eu vim. A estadia no inferno não me fez mais forte, só mais solitária.

Ted fez o que tinha que fazer ou obrigou Trace a fazer, entregaram meu pai, quando ele foi preso me levaram para ser cuidado pelos auxiliares do demônio e foi lá que cresci. Só uma vez Trace se atreveu a me visitar, eu tinha onze anos, um olho roxo e escoriações, ela não fez nada.

Quando saí me deu dinheiro. Trezentos dólares que meu pai deixou como herança antes de morrer de pneumonia na prisão. Eu tentei. Venho tentando desde então, um tempo aqui, outro em Los Angeles, garçonete, ajudante de cozinha, faxineira de motel, nunca dura muito e dessa vez eu não tive escolha.

As garotas com quem dividia apartamento há seis meses simplesmente me mandaram sair e sem dinheiro e emprego só Trace me receberia.

Olho uma garota passando de mãos dadas com um rapaz, os dois sorriem um para o outro ao atravessarem a rua, acho bonito, mas não para mim.

Annie Keller nunca vai ter essa chance. Quem ficaria com uma garota com meu passado? Filha de um trapaceiro e criada em um abrigo? Sem formação, emprego e família? Mas se isso não for o bastante para fazer qualquer um correr ainda tem todos os traumas, pesadelos, insônia, claustrofobia.

Respiro fundo afastando todos os pensamentos ruins. Não sou o tipo que se dobra e se rende a infelicidade, gosto de sorrir, de tentar, sou um tanto atrapalhada, com duas mãos esquerdas como Trace diz, e uma das razões para ter perdido pelo menos dois ou três empregos. Mesmo assim não desisto.

─Vai congelar aí fora Annie. – Trace surge na janela e me sorri. – Vem jantar, o Ted está chegando.

─É tarde, ele está bem atrasado. – Comento quando passo para dentro.

Paixões Gregas - Sempre te amei (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora