× Prólogo ×

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- Eles não vão nos pegar, eu prometo! - o anjo disse enquanto corria pela vila segurando a mão esquerda da mulher já que a direita estava a segurar o bebê.

A mulher não falou nada, apenas continuou sua corrida em direção a pequena cabana que ficava na outra extremidade da vila. O bebê não ousava proferir um grunhido sequer e o silêncio caía no local como uma capa negra em um viajante, dando um ar de mistério acrescido a um estranho sentimento de perigo.
O primeiro grito veio de algum lugar atrás de ambos e foi seguido por um coro de outros que acabaram por fazer com que o bebê desse início a um choro reprimido como se não soubesse qu deveria chamar atenção para si. Mas por ironia do destino eles chegaram ao seu alvo e adentraram para dentro da casa, fechando-a bruscamente.

- Oziel - a mulher disse ofegante -, eles não podem pegá-lo. Me prometa... Me prometa!

- Eu prometo! - o anjo gritou irritado. Ela só pensava no bebê, sobre o bebê e para o bebê. Ela nunca se lembrava deles desde que havia sido escolhida para ser mãe daquela aberração.

E ele não estava errado em pensar aquilo sobre o bebê já que os olhos do garoto eram de um azul fluorescente, sua pele tão pálida que suas veias eram ressaltadas e seu cabelo que estava a crescer era de um tom tão claro e de um liso tão intenso que assemelhava-se a um emaranhado de fios de seda.
O primeiro baque foi o pior já que ninguém estava esperando, mas quando a cabana brilhou com os as marcas de proteção Cristal se deixou suspirar. Logo um bater de asas foi-se ouvido e um ser apareceu a frente de Cristal fechando suas asas e arremessando algo em Oziel que gruniu e levou a mão ao peito batendo as costas contra a parede.
Oziel tentou dizer algo, mas só teve forças para retirar a adaga do cinto e jogá-la na direção do anjo recém chegado que a segurou e gargalhou olhando para Cristal que já não estava mais no local anterior.

- Vamos lá Escolhida da Luz - disse o anjo das trevas com sua voz aveludada. - Sou eu, Azazel. O seu anjo da guarda...

Assim que disse ele fechou seus olhos concentrando uma aura vermelha ao seu redor, logo toda a casa começou a tremer com a invocação de seu elemento, a Ira. E aquele local emanava toda a Ira de escravos que ali foram mortos, de pedreiros mal pagos e o de Oziel que amava tanto aquela mulher para vê-la se sacrificar por um filho com alguém que ela nem amava e que nunca a amaria.
E a onda se propragou pela casa quebrando tudo que se encontrava no caminho, mas assim que ela acertou o alvo Azazel teve uma surpresa. Cristal estava camuflada com a corda do arco enrijecida e a soltou no último instante antes de ser arremessada para trás a soltou fazendo com que uma flecha de pura luz se cravasse no abdômen do anjo de trevas.

- Desgraçada!!! - ele gritou retirando a flecha.

Ele arrancou em direção a mulher com toda sua energia dando tempo apenas para que a mesma se escorasse na parede e com um movimento de seu punho cravou a flecha no abdômen da mesma, contudo não percebeu que era uma armadilha da mulher que lhe enfiou uma Adaga Angelical no coração.

- Morra seu demônio! - ela tentou gritar, mas algum órgão vital havia sido perfurado e ela sabia que não haveria tempo para se curar.

Ela fez um movimento para retirar o corpo do demônio da Ira que estava sobre o seu, mas vacilou e acabou por fazer com que ele caísse sobre si mesma. Batidas foram ouvidas na porta e ela se concentrou, era salvar a vida de seu filho ou a sua e ela já havia feito esta escolha muito antes daquela primeira semana de agosto em que o eclipse aconteceu.

- Que as Trevas em mim sejam expurgadas - começou a entoar tentando ser o mais clara possível. - Para um novo receptáculo serão encaminhadas. Sangue do Meu Sangue é teu meu fardo. Libero-te do que sabes, mas com embargo. Elementine Luxem, Spes mea.

Assim que ela iniciou seu ritual pré-fúnebre toda a cor saiu de seu rosto e ondas de Trevas começaram a girar em volta da cesta do bebê que havia acabado de sair do feitiço de camuflagem. Um movimento circular era desferido por elas e a pele do garoto começou a escurecer, seus olhos se tornaram castanho escuro e seu cabelo enrolou-se e enegreceu até que ele não irradiava mais aquela onda de intensidade e mistério.

- Cristal Wise.

Uma voz doce disse ao adentrar na cabana com passos sincronizados com a outra figura encapuzada.

- Salve-me. - implorou Cristal.

A mulher apenas riu por trás do capuz e apontou a palma da mão em direção a Cristal, de modo que aquele simples gesto fez a temperatura do local aumentar em 5°C e o bebê começou a chorar.

- Por favor. - Cristal disse começando a chorar. - Não faça isso! Não faça.

- É a nossa obrigação Cristal. - a mulher respondeu calma. - Você traiu o conselho.

- Por favor não! - suplicou quando todo o punho da mulher brilhava intensamente. - Não! Não faça! MATTHEW!!!

E foi a última coisa que gritou antes de toda a casa ser invadida por um clarão e logo em seguida só restar o bebê chorando, as duas figuras encapuzadas e cinzas onde antes estava Cristal Wise.

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