O Livro de Merlin

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Fada e traça finalmente chegaram onde queriam: a Biblioteca Secreta de Merlin. Ela era tão secreta que às vezes até o mago se esquecia de sua existência. Ali, no centro da câmara, encimando um pedestal de mármore, se encontrava o que tanto buscavam: o Livro de Merlin.

Escrito séculos atrás pelo maior mago já existente, o livro era um grimório repleto de feitiços e segredos. Suas páginas eram fabricadas utilizando-se a celulose da madeira de um carvalho centenário atingido pelo mesmo raio duas vezes. A tinta que rabiscava as folhas de papel era feita do nanquim expelido por uma lula-unicórnio gigante. Sua capa, couro de um dragão de duas cabeças bipolar. E o fecho de bronze que cerrava o livro, era só bronze mesmo.

Fada se aproximou encantada pelo exemplar. Leu a capa, escrita em letras em alto relevo: Livro de Merlin – Escrito por Merlin. Devia ser aquele mesmo.

− Posso? – pediu ao ex-mago.

− Mas é claro, mocinha – ele respondeu.

Ela agarrou o fecho com seus delicados dedos e o abriu, revelando a contracapa que dizia:

Livro de Merlin

Autor: Merlin

Revisor: Merlin

Ilustrações: Merlin

Editor: Merlin

Diagramador: João da Silva

Fada então começou a folheá-lo, lendo os feitiços em voz alta:

− Paz Mundial em três passos; Acabe com a fome do mundo; Encontre seu amor verdadeiro e tenha a certeza que ele será milionário. Mas que droga! – exclamou a fadinha. – Não tem nada de útil nessa porcaria!

− Tente a página 47 – aconselhou a traça-mago.

− Como falar com garotas – a fada leu e encarou o mago com olhos estreitos.

− Acho que não é essa – Merlin disse corando. – Tente a 87.

A fadinha abriu o livro na página pedida e leu:

− Magia de reversão para um feitiço que deu errado transformando todo mundo em traças por utilizar-se dos ingredientes: língua de gato, saliva de porteiro, cigarra democrata e um pente sem dente de um mergulhão prepotente. Hmm... – resmungou Fada. – É mais específico do que imaginei.

E então ela virou a página (pois apenas o título da magia ocupava uma por inteiro) e leu as palavras mágicas sem recitá-las.

− Isso não pode estar certo – enunciou.

− É claro que está certo! Fui eu que escrevi! – o mago reclamou ofendido.

− Não pode ser. Eu não passei por tudo só por isso.

− Está corretíssimo – a traça fitou a página. – Essa é realmente a magia para reverter o feitiço em questão.

− Não acredito – Fada ainda não acreditava.

− Apenas leia, mocinha – pediu Merlin. – Concentre em sua magia e leia em voz alta.

Fada respirou fundo, concentrou em seu poder mágico e exclamou:

− Abracadabra!

Subitamente uma explosão de luz os cegou por alguns segundos. Do lado de fora do castelo era possível ver fachos luminosos escapulindo pelas janelas e inundando o céu. Quando a comoção cessou, um velho barbudo de chapéu pontudo se encontrava ao lado de Fada. Era Merlin (ele havia pulado de seu decote no momento exato da transformação).

− Funcionou! – O mago pulava e batia palmas.

− Sim, funcionou! – A fada estava extasiada.

Os dois pularam, gritaram e se abraçaram. Depois Fada disse que precisava retornar à Universidade para garantir que todos tivessem voltado ao normal. Merlin ainda tentou convencê-la a ficar para um jantar a luz de velas e uma taça de vinho, mas ela recusou educadamente. O mago então invocou um portal para teletransportar a fada e poupá-la de voar por duas horas.



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Fada e as Traças MágicasOnde histórias criam vida. Descubra agora