IV Thomas

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Hades estalou os dedos e quando terminei de piscar, já estávamos no mundo inferior. Quando abri os olhos e respirei fundo, de alguma forma, este lugar me fazia sentir melhor, apesar de não gostar nem um pouco do cheiro de morte que aqui havia. Segui Hades em uma trilha que segundo ele dava direto em sua arena. Tudo no mundo inferior era um pouco parecido com o mundo lá em cima, só que mais incendiado, sem um sol para iluminar o ambiente. Só as chamas que brotavam das pedras iluminavam o lugar, o mundo inferior parecia o nosso lindo planeta Terra depois de uma 3° guerra mundial. Enquanto descíamos pude ver milhares de pessoas se contorcendo, gemendo e gritando por ajuda, e eu, não podia fazer absolutamente nada, Hades parecia nem dar ouvidos, olhei para o relógio, já eram 15 horas da tarde, mas quando se está em um ambiente como esse, creio que os espíritos não fiquem pensando que horas são. Cérbero, o Rottweiler do deus, já não era mais um cachorro de três cabeças qualquer – não que se visse todos os dias um cão de três cabeças nas ruas -, o cachorro se transformara diante dos meus olhos em um gigantesco monstro de três cabeças, com um corpo de leão, e um enorme rabo de serpente, aquilo realmente me deixou surpreso, Cérbero olhou para mim e rosnou, a primeira coisa que veio a minha cabeça fora a morte, mas logo o cachorro se virou e saiu correndo trilha abaixo. Hades olhou para mim, sorriu e disse:

- Está gostando de conhecer sua nova casa Thomas?

Ele não parecia ter sido sarcástico, mas eu tive que ser.

- Claro Hades, seu mundo é incrível – porém Hades não achou que eu tivesse sido sarcástico com ele, deu um sorriso e seguiu falando.

- Demorei séculos para arrumar este lugar, e ainda falta muita coisa, mas em breve, creio que consertarei tudo por aqui.

- Gosta mesmo desse lugar? Quero dizer, não se sente mal por haver tantas almas sendo consumadas eternamente, gemendo e sentindo dores? - perguntei realmente preocupado com as almas que vira.

- É a mesma coisa que ver mendigos em seu mundo Thomas, vocês tem pena e dó, mas não podem fazer nada que mude a vida deles. Tudo o que você planta no mundo dos mortais, você colhe quando morre.

Suas palavras me atingiram como um taco de baseball acerta uma bola e a arremessa para a fora da arena.

- Mas aqui é diferente! Você é o deus desse mundo.

- Não é tão simples assim, são almas pecaminosas demais, eles foram julgados, e agora se encontram pagando o preço.

Resolvi mudar de assunto, pois ele realmente sabia melhor que eu sobre isso.

- E como você quer que eu lute para ter minha mãe? Eu não sei usar nenhum poder, e nem sei fazer mais que ver as horas desse relógio – perguntei.

- Antes da luta te explicarei, se te contar agora, os esqueletos saberão te derrotar com facilidade.

Não tinha percebido antes, mas os três esqueletos ainda estavam conosco, olhando da mesma forma para mim, pareciam que não tiravam os olhos de mim – bem... eles não tinham olhos mesmo, mas é uma forma de dizer ok? -, as espadas ainda continuavam em seus punhos, pronto para receber uma ordem de Hades e me atacar, tropecei em uma rocha e Hades me segurou, empurrei seus braços de volta e não o agradeci. Ficou 16 anos fora e agora acha que pode voltar e bancar o pai bonzinho?

- Estou bem, quando lutarei com os esqueletos?

- Agora mesmo. Chagamos a arena de batalha – disse Hades olhando para frente.

Quando vi a arena, não era do mesmo jeito que tinha imaginado, pensei que fosse um enorme campo de batalha. Mas na verdade era do tamanho de um campo de tênis, só que com várias rochas espalhadas no campo, algumas delas em chamas. Só se percebia que era um campo de batalha, por causa da faixa branca que contornavam a arena. Estremeci, pois queria muito minha mãe, perguntar várias coisas, ter certeza de que nada iria acontecer com ela, olhei para o relógio, e ele parecia o mesmo, sem nenhuma surpresa, não brilhava, não tinha mais que um botão, estava do mesmo jeito.

O Filho da VingançaWhere stories live. Discover now