O PEDIDO ‒ fevereiro

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Tudo começou no final da segunda semana de aula do meu único filho.

Voltei do canavial, no mesmo horário de sempre, às seis da tarde.

Estava cansada e com fome. Tinha sido um dia difícil, não só pelo trabalho, como sempre exaustivo, mas pelo calor insuportável de fevereiro. Não via a hora que a estação mudasse...

Entrei em casa e vi minha mãe dando fubá para o meu filho, Toninho. Na verdade, seu nome é Antônio, mas sempre o chamamos de Toninho.

Quando ele me viu, sorriu. Fiquei feliz, pela primeira vez, naquele dia.

Meu filho foi a melhor coisa que aconteceu nos meus 25 anos de idade.

Quando tinha 17 anos, conheci um rapaz. Ele também trabalhava como cortador de cana-de-açúcar, mas em outra fazenda, como a maior parte dos jovens que eu conhecia. Ele tinha 21 anos, nos apaixonamos e queríamos ficar juntos para sempre.

Depois de três meses de namoro, engravidei e ele mudou-se para a minha casa. Eu vivia com minha mãe e tinha outros irmãos e irmãs que moravam em cidades próximas e também trabalhavam em plantações de cana-de-açúcar.

No começo, Antônio adorou a ideia de ser pai. Quando Toninho nasceu, ele ficou do meu lado e nos meses que se seguiram ao seu nascimento ele não via a hora de voltar para casa para ver Toninho.

Eu era tão feliz!

O tempo foi passando e, à medida que Toninho crescia, meu marido mudava. Foi ficando cada vez mais distante de nós. Chegava do trabalho e saía de novo. Sofri muito durante esse período; pensei que seríamos uma família, mas não aconteceu.

Um dia, ele chegou muito nervoso e começou a arrumar as suas coisas. Minha mãe saiu de casa para que conversássemos. Ele disse que iria para a capital tentar uma vida melhor e que quando conseguisse um emprego voltaria para nos buscar.

Nunca mais deu sinal de vida e, assim, eu e minha mãe criamos Toninho.

Minha mãe já não tinha mais idade para trabalhar no canavial, então ela cuidava da casa, fazia comida, costurava nossas poucas roupas e, até aquele mês, tinha cuidado de Toninho, que ficara em casa até o primeiro ano do ensino fundamental.

‒ Oi, mãe. Oi, Toninho.... Como foi seu dia na escola? ‒ perguntei, feliz.

Eu não tinha tido a chance de estudar, passara toda a infância e a adolescência ajudando meus pais na roça. Na minha mente, frequentar uma escola era algo tão distante quanto viajar para qualquer lugar.

Ninguém da minha família havia frequentado uma escola. Mas matriculei meu filho porque não queria que ele tivesse que trabalhar em canaviais.

‒ Foi muito legal! A professora colou um monte de pecinhas coloridas na parede na sala. Ela chama essas pecinhas de letras! Parecia um jogo, mas é um jogo que nos fará aprender a ler!

‒ Que bom, filho. ‒ eu disse, imaginando a sala de aula.

Minha mãe também sorriu. Se para mim era difícil imaginar o mundo da leitura e da escrita, para ela era algo que fazia parte de outro mundo, não o nosso.

Quando meu filho terminou de comer, correu na minha direção e me abraçou.

‒ Mãe, posso te fazer um pedido?

‒ Claro. ‒ respondi.

‒ Você pode se apresentar na escola comigo no final do ano? – ele, finalmente, perguntou.

O PEDIDOOnde histórias criam vida. Descubra agora