Em meados de 1997, ao chegar da escola, Bruno se deparou novamente com a porta de sua casa trancada e após várias tentativas desesperadas de abri-la, não conseguiu nenhum sucesso. Então se lembrou da janela da cozinha ao lado da casa e foi correndo tentar abrir, mas de tão velha e suja, ela não abria o suficiente para que ele pudesse passar. Olhou para um lado e para o outro procurando algo que pudesse forçar, mas não havia, somente mato e alguns tijolos. Sem mais o que fazer, se sentou na beirada da calçada em frente à casa e após um longo e profundo suspiro disse: “De novo não! Não gosto quando ela faz isso”.
Sem muitas coisas para fazer, abriu sua mochila que estava bastante velha e um pouco rasgada e pegou um velho gibi do Batman - que é seu herói favorito e já o leu mais de 10 vezes, mas nunca se cansa - Após um bom tempo lendo, só o que o fez parar de ler foi ao ver duas meninas que estavam longe, rindo e sussurrando bem baixinho. Observou que davam pequenas olhadelas para ele o incomodando, serrou os olhos e levantou o pescoço na tentativa de conseguir ouvi-las. “Será que a mãe dele não compra roupas para ele? ”, dizia uma delas ainda o olhando de canto vez ou outra.
Bruno é um menino solitário e não tem amigos, vive muito tempo isolado em seu quarto porque sua mãe sempre o obriga. As luzes da rua Alimada vivem falhando, mas a luz do poste em frente à sua casa era a única que raramente falhava, e por isso as crianças se concentravam ali para jogarem bola ou brincarem de pique-bandeira. Seu bairro é conhecido como Lavanda, mas Bruno sabia que seu real nome era Don Fluig. Sua casa era pequena e não havia pintura bonita e nem plantas na parte da frente igual às dos vizinhos. Bruno à considerada como a menor casa de toda a vizinhança e dizia que parecia mais um barraco caindo aos pedaços.
Não era a primeira vez em que ouvia alguém dizer coisas para si como aquelas meninas. Após continuar lendo seu gibi do Batman, viu que elas não estavam mais ali. Olhou para baixo reparando sua calça e depois sua blusa. Não ficava mais triste por causa dos rasgos e furos. Olhou para trás observando também sua casa e assumia que por muitas vezes tinha vergonha dela. Vergonha pela pintura falha e pelo excesso de mato. Não gostava quando a primavera chegava e as plantas dos vizinhos floresciam, a cada casa que passava, sentia vergonha e constrangimento.
Sua mãe era a mulher mais conhecida entre os homens do bairro e dos bairros vizinhos. Bruno já viu quase todos eles em sua casa à noite, por isso não havia quase homem algum da vizinhança que não conhecesse. Nunca conseguia definir se isso era algo bom ou ruim. Olhou para o Céu e observou que quase não havia estrelas, e a Lua estava somente pela metade. Voltou para seu gibi.
As pessoas que passavam pela rua, sempre o olhavam com um olhar de pena e solidariedade, fazendo expressões que ele sempre fazia quando via algum gato ou cachorro na rua machucados, expressões que conhecia bem.
“Quer alguma ajuda jovenzinho? ”, perguntou uma senhora ao passar por ele, mas à ignorou, na verdade, não gostava quando pensavam assim dele ou faziam essas impressões, e sabia que ignorar não era uma coisa boa, mas em situações como essa, não sabia o que fazer. Muitas pessoas passavam, e também muitos carros bonitos, mas nada era bom o suficiente para o fazer parar de ler seu gibi. Para ele, cada vez que lia parecia que um mundo era aberto em sua frente, e nele ele era o protagonista, e quando lia Batman, ele era o herói de capa e armadura preta, que salvava as pessoas dos perigos.
Após cerca de 3 horas, Bruno que já se encontrava quase cochilando encostado em sua porta, ouviu um barulho alto de um carro que pensou que estive bem perto dele, e ao abrir os olhos se deparou com um farol muito forte vindo de um carro muito bonito, e parecia com o que via na televisão, pensou ele. Quando pôde enxergar melhor - pois o farol estava muito forte em seus olhos - percebeu alguém vindo em sua direção, e logo descobriu que era sua mãe, mas para Bruno, sua mãe pareceu que não o havia percebido ali, pois ela vinha acompanhada de um homem que a esfregava e a cheirava e falava palavras que ele aprendeu que eram proibidas, mesmo não sabendo seus reais significados. Era comum cenas como essa, e Bruno não se escandalizava ou incomodava.
Bruno se levantou rapidamente e parou por um instante enquanto guardava seu gibi do Batman e observou o homem que acabara de passar, porque o tinha esfregado a cabeça, e nesse mesmo momento Bruno tentou reconhece-lo, mas não conseguia, então teve a conclusão de que era alguém novo, ou como já ouviu sua mãe dizer: “Um cliente”.
Nunca entendia porque ela dizia isso, na escola aprendera que cliente são as pessoas que vão no mercado comprar alguma coisa, ou iam à alguma loja, e não entendia o porquê desses homens também serem clientes. Terminou de fechar sua mochila e entrou em casa, que mesmo não tendo gatos, fedia como casas que tinha gatos, dizia ele.
Era uma casa muito pequena, situada na rua Alimada no Rio de Janeiro, com um enorme número, 888, pintado com tinta verde no lado de fora. Havia apenas cinco pequenos cômodos. As paredes eram velhas e esburacadas. Vez ou outra Bruno via alguma barata entrar por esses buracos. Odiava o verão porque sua casa ficava muito quente, e imaginava que o telhado ajudava.
Ele sabia o que podia e não podia fazer quando sua mãe trazia alguém, e para ele já era algo automático e muito comum, pois quase que diariamente ela trazia alguém, e isso o irritava muito, pois gostava de assistir tevê nessa hora, mas muitas vezes não podia, como hoje.
Como de costume, Bruno foi direto para seu quarto e não disse uma palavra se quer, pois era proibido de fazer isso. Enquanto estava no corredor em direção ao seu quarto, ouviu o homem dizer: “Não sabia tinha um filho tão lindo”, o que para ele era algo estranho vindo de alguém que não o conhecia e aparentemente nunca o tinha visto antes.
Antes de entrar no quarto, parou por um tempo e mais uma vez tentou reconhecer o homem, que nessa altura já estava no seu sofá, mas novamente não conseguiu e prosseguiu até seu quarto.
Bruno é um menino de nove anos, ou como prefere dizer, "nove anos e meio", possui os cabelos pretos, bem lisos e espichados para o lado. Sua pele é bem clara como um fantasma, e possui os olhos verde bem claro. Não sabia de quem tinha puxado essa cor, porque sua mãe tinha os olhos bem castanhos. Era o mais alto de sua sala de aula. Para um menino de 9 anos ele era bem alto, e isso era uma das poucas coisas que o deixavam feliz, porque na escola sempre conseguia pegar os livros e cadernos nos lugares mais altos para seus colegas. É considerado por sua professora Mary, um garoto muito inteligente, conseguia fazer contas e responder questões que os outros alunos da mesma série não conseguiam. Mas Mary também o considerava um menino muito calado e isolado de seus colegas, em uma certa vez ela questionou sua mãe acerca desse comportamento isolado que tem, e a única coisa que ele se lembra desse dia, é de sua mãe dizendo palavras que ele sabia que não podia dizer, mesmo não sabendo seus reais significados.
Ao chegar em seu quarto, largou sua mochila no chão e foi direto para a cama. Olhou para um lado e para o outro, e não tinha muitas coisas em seu quarto com que pudesse se distrair, então sem muitas escolhas, pegou um travesseiro, deitou de barriga para a cama e cobriu a cabeça, pois não gostava de ouvir os barulhos que sua mãe fazia e por muitas vezes eram muitos irritantes, e sabia que logo começaria a ouvi-los.
Ele acabou dormindo e após cerca de meia hora, acordou com um barulho de um cachorro latindo do lado de fora de seu quarto, reclamou baixinho e levantou. Olhou pela janela do quarto e de tanto se esticar, conseguiu ver que o carro do homem ainda estava no lado de fora de sua casa e que o mesmo ainda estava em casa com sua mãe, o que o deu muita raiva, estava com muita fome, mas não podia ir até a cozinha. Observou o cachorro se distrair com um pedaço de carne jogado no chão por um senhor da casa ao lado. Pensou em pegar seu gibi do Batman para o ler novamente, mas percebeu que ainda estava com a roupa da escola. Foi até sua cômoda que estava no outro canto do quarto, que dava de frente para a porta. Retirou sua camisa à puxando pela manga esquerda e antes de jogá-la no canto de roupas sujas, reparou nas manchas coloridas de tintas que havia deixado cair do pincel na aula de artes de hoje. Retirou o cinto e o jogou sobre a cama, tirou a calça, dobrou e a guardou na cômoda. Por último retirou sua cueca que tinha um estilo samba canção e estava com alguns furos, à juntou com a camisa no canto de roupas sujas. Ao virar para a porta, Bruno tomou um susto e teve uma reação muito rápida, imaginou que ele nunca se moveu com tanta rapidez, encostado em sua porta estava o homem que estava com sua mãe e ele ficou sem reação, ficou rapidamente vermelho, pois sua cor era bem branca e dava para perceber quando ficava com raiva ou com vergonha. Sem saber se ficava com vergonha ou raiva formou uma concha com as duas mãos e cobriu o que ele chamava de ‘regiões baixas’, e perguntou: “O que você quer? Não sabe bater na porta não? ”, mesmo sabendo que o errado era ele por ter deixado a porta aberta. Mas o homem não disse nada e o ficou olhando com um sorriso de canto.
“O que está fazendo? Vá dormir! Já te disse sobre quando tiver alguém em casa, não já? ”, perguntou sua mãe ao aparecer na porta, e saiu dali com o homem que a continuava cheirando e esfregando. Apesar da raiva, Bruno pegou outra cueca de dentro de um saco plásticos de mercado que estava em uma das gavetas da cômoda e à vestiu. Foi para o banheiro tomar banho, mesmo sabendo que não podia ficar andando pela casa com um cliente em casa. Durante o banho, ouviu o homem se despedindo da sua mãe. Enquanto as águas do chuveiro caíam em sua cabeça, olhava para o chão e observava a água escorrer pelo seu pé. Começou a imaginar se com os outros meninos que conhecia era assim também. Se eram obrigados a ficarem no quarto esperando o cliente ir embora. Ao terminar, saiu do banheiro e antes de entrar no quarto se lembrou de que o homem havia indo embora. Pensou melhor e decidiu ir à cozinha primeiro. Passou pela porta do quarto da mãe, olhou estreitamente e viu que não estava nele. Olhou para trás e viu que sua mãe deixou um prato de comida na cozinha e imaginou que fosse para ele, sem pensar duas vezes e com muita fome, foi comer, não sabia exatamente o que era o que estava no prato, mas com sua fome, não pensou muito e começou à comer. Ouviu alguns passos se aproximando, olhou para trás de sua cadeira e viu sua mãe.
“Quem era aquele homem? ”, perguntou rapidamente, antes que ela pudesse sair dali.
Ela, que tinha aberto a geladeira deu uma golada e retirou a garrafa de água da boca, olhou para ele. “É o Vitor, um cliente novo. Ele é professor de engenharia”. Guardou a garrafa e procurava algo na geladeira. Bruno não sabia o que significava engenharia, nem conhecia essa palavra, franziu a testa tentando lembrar se algum dia já ouviu, mas não conseguiu.
“O que é engenharia? ”, perguntou ele sem conseguir saber se já ouviu essa palavra. Deu mais algumas garfadas na comida. Sua mãe era sempre seca com ele, o ignorava e o dava ordens o tempo todo, mas ele não se importava com isso, cresceu com esse comportamento dela.
“É o que homens importantes fazem. Vá dormir seu burro e vê se estuda para ficar que nem ele! ”. Apesar de ser considerado inteligente, ele não sabia e nem conhecia muitas palavras, afinal ainda era um menino de nove anos, ou nove anos e meio, como preferia. Decidiu não perguntar mais nada. Continuou comendo e à viu fechando a geladeira com uma expressão de frustação ao não conseguir achar o que procurava.
Sua mãe era sempre vaidosa, buscava andar sempre com as roupas lindas e usava muita maquiagem, e isso as vezes fazia Bruno se perguntar se era necessário as mulheres usarem tantas maquiagens assim. Ela era um pouco magra e alta também para uma mulher, tem lá para os seus trinta e sete anos. Bruno nunca sabia o porquê sua mãe saía quase todos os dias, afinal nem sabia se ela trabalhava, e nunca teve a coragem de perguntar. Só sabia que era chato sempre ter gente em sua casa, ele se lembra de um dia em que sua mãe trouxe três homens, e que ficou a noite toda acordado porque faziam muito barulhos, e chegou a desejar que ela nunca mais fizesse isso.
Ao terminar de comer, lavou o que usou e foi para o banheiro escovar os dentes. Após ter feito tudo, voltou para seu quarto. Bruno olhou para todas as paredes, e desejou ter um enorme pôster do Batman nelas, mas nunca conseguiu comprar um. As paredes de seu quarto eram muito feias, e a tintura verde que estava nela, se misturava com a cor do cimento, porque estavam se descascando. Deitou em sua cama, e logo dormiu.
Ao amanhecer Bruno acordou com sua mãe gritando e o mandando comprar cigarros na lojinha da esquina, ele ia tanto nessa lojinha que o dono só de o ver de longe, já separava o pacote certo de cigarros, mas ele gostava de ir lá, sempre quando ia recebia uma bala e as vezes um pirulito. Suspirou profundamente e se levantou. Ainda estava de cueca. Pegou uma bermuda que ganhou de presente de sua professora Mary no ano passado. Foi ao banheiro e escovou os dentes e foi comprar o cigarro. Gostava de andar pela calçada, com os dedos médio e indicador passava pelos muros e portões, imaginando serem um corredor igual aos que viam nos livros. Não era apenas ele ali na rua. Com sua imaginação, muitas coisas aconteciam. De repente, reparou que estava chegado ao final do quarteirão, e um carro estava no seu lado andando na rua. Começou a acelerar os passos, queria conseguir enxerga-lo ao virar a rua. Acelerou mais ainda, até que o carro virou e ele o perdeu vista. Sorriu. Comprou o cigarro e ao voltar passou em um lugar onde havia um espelho encostado em um portão e viu seu reflexo. Observou que não havia ninguém e então se aproximou.
“Não sabia que eu era tão magro assim”, disse olhando-se de cima à baixo, e levantando os braços. Nunca tinha percebido isso, e não sabia se era ruim ou bom. Segurando o maço de cigarros, continuou com o corredor em seus dedos até chegar em casa. Ao chegar entregou à sua mãe o maço e foi assistir televisão.
“O que pensa que está fazendo? Vá para a escola! ”, disse ela ao aparecer na sala, no que ele disse como alguém que não se importa:
“Só estudo de tarde! ”. Bruno adorava assistir à televisão nessa parte do dia, pois passava seu desenho favorito, Batman e Robin. Durante os comerciais, foi comer e pegou uma caixa de cereal que estava quase vazia, mas no fundo ainda restava alguma coisa e viu que na geladeira não tinha leite e nem suco, deu de ombros e comeu assim mesmo. Nunca tinha muita noção do tempo enquanto assistia os desenhos animados, e por isso passava horas em frente à tevê. Ria muito. Para ele, era um mundo diferente, a cada desenho se sentia mias em paz. Ao chegar à tarde, já estava arrumado para ir à escola e foi ir se despedir de sua mãe.
“Tchau, estou indo para a escola”, disse. Sua mãe do nada atirou um sapato nele e ele saiu correndo fechando a porta. “Não sei porque ela faz isso”, pensou. Sua mãe às vezes do nada dava algum tipo de ataque, já ouviu as pessoas do bairro e da sua rua à chamando de drogada alucinada, e não se importava com isso, afinal, não sabia o que isso queria dizer.
Para Bruno, a escola era um lugar bom, sempre gostava de ir para lá, e quando havia algo de diferente que fizesse estender o tempo lá, ele ficava. Ao término da aula, e já chegando em casa, entrou e viu que sua mãe não estava, como já era de costume, e como de costume, tomou banho, comeu e foi fazer as lições de casa, pelo menos dessa vez sua mãe havia deixado a porta aberta. Ligou a televisão e se mais uma vez se perdeu no tempo com risadas e até mesmo gargalhadas. Já de noite, ouviu um barulho de carro em frente à casa e foi ver, era novamente sua mãe e o homem da noite anterior. Vítor o viu sentado no sofá e mais uma vez passou a mão em sua cabeça.
Se viu mais uma vez obrigado a ficar no quarto, mas dessa vez não queria estudar, pegou alguns bonecos quebrados que estavam guardados na última gaveta da cômoda e ficou brincando. Um dos bonecos tinha a perna quebrada, e o outro não tinha cabeça, mas nessas horas a sua imaginação dava um braço mecânico e uma cabeça de leão aos bonecos, sua imaginação era praticamente sem limites, com apenas dois bonecos dava mais vidas do que vidas davam bonecos para crianças darem vidas.
Ele era um menino como qualquer outro, e também sentia desejos estranhos, e se lembrou de uma vez que viu na sala de sua casa umas revistas e nela tinha algumas imagens de pessoas nuas e ele achou estranho, mas olhar para elas, faziam alguns desejos aparecerem, desejos que não conseguia interpretar, então nessa época Bruno conheceu o que muitos meninos da sua idade conhecia e já faziam, na escola já viu muitos de seus colegas reunidos no banheiro com revistas iguais, e nessa época foi que ele soube como desfazer seus desejos. Não entendia se isso era algo certo ou errado, mas pensou: “Porque algo que é legal, seria ruim? ”
“O que é isso? ”, perguntou certa vez à um grupo de colegas que estavam no banheiro agrupados como se estivessem vendo um gibi do Batman, pelo menos era assim que ele ficava quando via um.
“Vem cá vê! ”, disse um dos meninos que riu ao ouvir a pergunta. Haviam cinco meninos, de idades entre doze e catorze anos. Ao se aproximar, viu que estavam vendo uma revista em que tinha pessoas nuas, igual as que viu em sua sala de casa. Ao olhar para o lado, viu que eles estavam com as mãos dentro da calça, e imaginou o que poderiam estar fazendo, mas sempre achou que essas coisas era somente quando estava sozinho. As imagens da revista eram estranhas para ele, mas como os outros cinco meninos, fez o mesmo, e nessa tarde os seis levaram suspensão por chegarem atrasado na aula, pois estavam no intervalo, mas passaram do horário.
A porta de seu quarto havia muitos buracos de já corroída, e chegando perto, era possível ver a sala e o banheiro. Ainda em seu quarto, e passado algum tempo, sua mãe começou a fazer os barulhos já conhecidos, e pela primeira vez, Bruno teve a curiosidade de ver. Sabia que era expressamente proibido de sair do quarto, mas olhar pelos buracos em sua porta era o suficiente para descobrir o que acontecia em sua sala nesses momentos. Andou devagar até sua porta, com cuidado e acirrando os olhos, conseguiu olhar. Franziu a testa, ele nunca havia visto sua mãe ou alguém assim, aquela imagem penetrou em seu cérebro e sem desejar, os desejos em seu corpo se acenderam, se achou em uma situação delicada, e com mil coisas passando em sua cabeça, o coração disparou, um pouco de adrenalina correu em suas veias, e em um breve desespero, arriou as calças e ficou olhando fixamente para aquela cena, era algo novo e estranho ao mesmo tempo, pensou ele. Então começou o que era de costume quando esses desejos apareciam, e passados alguns minutos começou a sentir algo que nunca tinha sentido antes, era um desejo e uma vontade incontrolável, e ia cada vez mais forte e rápido em seu desejo, até que não pode mais aguentar e uma coisa diferente aconteceu, olhou para baixo e viu no chão e em sua mão algo que ao mesmo tempo achou nojento, achou muito bom. Essa foi uma grande descoberta para Bruno, e depois dessa vez, veio outras e outras e mais outras ao longo dos dias. Continuou olhando pelo buraco.
Hoje é Sexta-Feira, e Bruno já está abrindo a porta de sua casa ao chegar da escola. Ele sempre gostou da Sexta-Feira, pois sabia que iria ficar dois dias sem ir à escola, o que o fazia pensar se realmente gostava de Sexta-Feira, mas assim poderia assistir seu desenho preferido por mais vezes. Ao abrir a porta, se deparou com o homem, Vítor, em sua casa, mas olhou para trás e não viu o carro dele. Vítor veio em sua casa durante a semana inteira, e Bruno estranhou demais, pois sua mãe nunca ficara mais do que um dia com o mesmo homem. Na quarta-feira, enquanto olhava pelo buraco, reparou no momento em que o telefone de Vítor tocou.
“Oi amor”, disse ele ao se levantar rapidamente do sofá. Bruno reparou que as regiões baixas de Vítor estavam iguais as suas, mas que rapidamente as de Vítor murcharam, conforme ouvia a pessoa do outro lado da linha.
“Não, eu estou indo agora. Estou no engarrafamento da Estrada Balgon. Devo levar cerca de meia hora para chegar”, continuava conversando enquanto vestia sua roupa freneticamente.
"O que faz tão cedo aqui?", perguntou ele sem hesitar, no que o homem se levantou e passou a mão em sua cabeça, o que o fez ficar com raiva, não gostava quando ele fazia isso.
"Vim buscar sua mãe, hoje iremos jantar fora!", disse Vítor dando um sorriso.
“O que é engenharia?”, perguntou Bruno ao cansar de ficar o encarando. Vítor o olhou e riu. Essa questão ficara em sua cabeça durante dias, e viu que esse era o momento perfeito para perguntar.
“É muitas coisas, eu costumo dizer que engenharia é a parte complexa de qualquer estudo”. Bruno o olhava e a cada segundo franzia a testa, pois não sabia o que significava complexo.
“E o que você faz? Onde trabalha?”, perguntou Bruno.
“Eu desenho casas para as pessoas”, disse.
“E você ganha dinheiro com isso?”, perguntou Bruno cruzando os braços.
“Sim, e bastante”, disse cruzando os braços também.
“Não acredito que você ganha dinheiro desenhando casas! Meus colegas também desenham casas e não ganham dinheiro com isso!”, disse Bruno. Não conseguia acreditar como alguém poderia ganhar dinheiro dessa forma. Vítor o olhou e arregalou os olhos e tentava conter os risos.
“Não é exatamente assim. Os desenhos que faço são diferentes, quando eu lembrar, trago um para você ver”, disse Vítor. “Olha, sua mãe está vindo, tome aqui e compre sorvete para você ali”, disse Vítor ao puxar do bolso uma nota de dez reais e apontar para uma carrocinha que estava passando pela rua, anunciando diversos sabores pela imensa caixa de som embutida na parte de cima.
“Obrigado”, disse Bruno o olhando com os olhos arregalados. Ninguém nunca antes havia dado dinheiro para ele, ainda mais esse valor.
"Não perturbe menino, vá, vá!", disse sua mãe ao aparecer de repente e o espantando dali como ele já viu fazerem com animais. Bruno foi correndo comprar o sorvete, e escolheu um de chocolate com cobertura de morango. Esperou sua mãe sair de perto da porta de sua casa e entrou.
"Só vejo esses homens uma vez, mas esse veio a semana toda", pensou ele indo para seu quarto. Bruno fez seu ritual cotidiano, tomou banho e foi para o quarto até sua mãe sair com a visita indesejada, como pensava ele sobre todos os homens que apareciam em sua casa. Quando finalmente saíram, foi correndo para a sala assistir televisão. Estava muito feliz, porque sabia eu veria seu desenho favorito durante vários dias, pois faltava muito pouco para as férias. Quando se está beirando às dez horas da noite, ouviu o barulho do carro e logo imaginou que possa ser Vítor e sua mãe, e por sua vez já se trancou no quarto e chegou à porta para mais uma vez ver e sentir seus desejos acender, mas quando pôde ver melhor, o homem estava com muitas bolsas dessas iguais de Shopping em sua mão e por um instante tentou imaginar o que poderia ser: "Será que é roupas para mim?". Pensou em ir até lá, mas se lembrou das regras e ficou apenas olhando e ao decorrer dos minutos, mais uma vez pôde satisfazer seus desejos olhando-os. Bruno não sabia exatamente o que era aquilo, e nem o porquê eles faziam, mas sabia que o que provocava a ele era bom.
O novo cliente de sua mãe, era alguém diferente, pensava ele. Seu relacionamento com sua mãe era muito fraco, e aprendeu cedo a fazer muitas coisas como passar roupa, lavar e cuidar da casa. Não sabia se outros meninos da sua idade faziam isso, mas sempre foi ensinado e acostumado por sua mãe a fazer essas coisas. Por muitas vezes, olhava pela janela de seu quarto outras crianças da vizinhança brincar de bola ou pique-esconde, e ansiava estar com elas, mas era proibido, no início se irritava e fugia, mas quando era pego por sua mãe, apanhava, e não gostava quando ela o batia com vassouras, cintos, ou tacava coisas nele que o machucava, então se contentava com o anseio, e viu que muitas vezes era melhor ansiar do que realizar. Para Bruno, olhar por esses buracos era algo fantástico, e nessas horas, não era sua mãe e Vítor que estavam ali, em sua cabeça não conseguia interpretar aquilo, pois não passava de um menino de nove anos, nessas horas, o que importava era realizar seus desejos, e em sua mente não havia culpa e nem maldade, existia apenas uma porta e alguns buracos, pelos quais um mundo novo queria existir. Ficou ali por um tempo, olhando pelos buracos, depois sentou em sua cama e não conseguia parar de sorrir. Na verdade, não sabia o porquê estava feliz. Na escola não tinha amigos, e vivia isolado por causa dos meninos valentões. Vítor de alguma forma havia quebrado seu cotidiano, e por alguma razão isso o fazia feliz, o fazia sorrir. Afinal, é apenas um menino de nove anos.
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RomanceO que você faria se lhe dessem algo em troca de poder fazer qualquer coisa quando tinha 9 anos? Ou o que diria se o medo e o pavor lhe dissessem quem você deveria de ser? Para Bruno não bastava se trancar no quarto ou apertar o peito para tentar sup...