Bruno logo dormiu e essa noite lhe pareceu diferente de qualquer outra, teve um sonho daqueles que se parecem reais, e no sonho ele ganhava muitos presentes e roupas novas, e isso o fazia muito feliz, pois não gostava muito das roupas que tinha, mas a ideia de mesmo assim ter essas, era melhor que andar nu pelas ruas. Hoje é exatamente 20 de dezembro de 1997, e faltam apenas três dias para as férias de final de ano. Está quase amanhecendo, e o clima se encontra num frescor adorável.
Bruno acordou com o barulho de uma porta de carro se fechando fortemente, e ainda com os olhos embaçados levantou e olhou pela única janela em seu quarto que não abria devido à velhice e estar enferrujada. Havia apenas um pano largado sobre onde deveria estar o vidro. Pôde ver que era Vítor e o mesmo entrara em sua casa, e isso era diferente para Bruno. Ele não se lembrava de algum dia já ter visto um dos clientes aparecerem de manhã em sua casa.
"Será que ele vai morar aqui?", perguntou a si mesmo. Tentou se lembrar se havia o visto ir embora na noite anterior, mas teve a conclusão de que se saiu, ele já estava dormindo. Ao sair do banheiro se lembrou das bolsas que Vítor havia trago e foi até a sala: "Bom, não tem ninguém", disse a si olhando para um lado e para o outro e já ia colocando suas pequenas mãos em uma das sacolas, mas logo tomou um susto ao ser surpreendido por Vítor que apareceu do nada, pensou Bruno. Mais uma vez passou a mão em sua cabeça bagunçando seus cabelos que acabará de pentear e perguntou:
"Será que um jovem tão bonito quer presentes?", Bruno não sabia se podia dizer algo ou não, mas olhou para um lado e depois para outro novamente, para se certificar se sua mãe estava por perto, e não a viu.
"Gosto dos gibis do Batman, mas só tenho um", disse isso na esperança de ganhar mais um gibi, afinal ele amava as aventuras do Batman. O homem riu bem baixinho como se o que acabara de ouvir fosse engraçado. Mas Bruno o olhava seriamente.
"Bom, não tenho um gibi do Batman, mas tenho algo que você deverá gostar mais ainda". Bruno o olhou com uma cara de quem queria dizer, "Não há nada melhor que os gibis do Batman". Nesse momento o homem puxou uma enorme caixa de dentro de uma das bolsas, e Bruno pôde ver que era algo que já tinha visto na televisão, antes que pudesse dizer algo, o homem disse: "Sabe o que é isso, né?". Ele arregalou seus olhos como se estive contemplando toda uma coleção de gibis do Batman, ele sabia ler e conseguiu ver que se tratava do mais novo videogame, já tinha visto aquele desenho de um homenzinho narigudo com roupas vermelhas, e um imenso M escrito em seu chapéu. Pegou a caixa nas mãos e ao virá-la, conseguiu ler Nintendo 64.
"Esse daí é bom, sei que você irá gostar. Iremos jogar muito. Quer ligar?", perguntou Vítor sorridente. Bruno que já estava abrindo a caixa, concordou balançando a cabeça. Vítor então ligou o videogame à televisão de tubo que já não era tão boa, por ser muito velha. Antes que o videogame pudesse ser ligado, a mãe de Bruno apareceu. Olhou para ele, e Bruno podia jurar que estava vendo fogo sair dos olhos dela.
"O que está fazendo menino, já para o quarto!", Bruno fez menção de se levantar, mas antes que pudesse, Vítor o encostou como se não o deixasse ir e disse rindo para a mulher:
"Iremos jogar um pouco, é o presente dele". Ela por sua vez parou e olhou para Bruno como se não estivesse acreditando naquilo. Bruno conhecia esse olhar, e sabia que nele se passava muitas informações, algumas até que ninguém nunca conseguiria expressar em palavras, era um olhar de ódio. Ela acirrou os dentes e disse algo:
"Ahhh sim, então podem jogar", disse engolindo em seco. Bruno percebeu que enquanto estava com ele, sua mãe não lhe dava ordens, e por um momento pensou que poderia ser assim para sempre. Finalmente o videogame pôde ser ligado, e a cada segundo da animação inicial, era visível à quilômetros a alegria de Bruno.
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Não
RomansaO que você faria se lhe dessem algo em troca de poder fazer qualquer coisa quando tinha 9 anos? Ou o que diria se o medo e o pavor lhe dissessem quem você deveria de ser? Para Bruno não bastava se trancar no quarto ou apertar o peito para tentar sup...