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Nina:
Abro meus olhos e vejo a luz ofuscante do Sol me dando "bom dia" e o seu calor me fazendo carícias. Eu não sei vocês, mas eu acho que o calor do Sol pela manhã é uma das melhores sensações que pode existir. Essa sensação que sempre me deu paz é uma das coisas que tenho em comum com Anne. Me lembro quando começamos a conversar através de um App e eu comentei sobre como as carícias do Sol de manhã era uma das coisas que mais dava sossego e ela disse que ela fazia questão de manter a sua janela aberta para sentir o calor dele pela manhã. Me lembro do quanto fiquei impressionada em saber disso.
Me levanto e pego meu celular. Tem uma mensagem de Anne:

Anne online

Anne: Bom dia. Eu queria me desculpar por não está te dando atenção, mas eu ando meio ocupada. Quando puder me chama aqui. Sinto sua falta...

Leio a mensagem de Anne e de imediato abro um sorriso enorme. Ela de alguma forma sempre sabia o que me dizer.

Nina: Bom dia, amor! Eu também sinto sua falta :c
Anne: Me desculpa por ser tão idiota, amor. Quando você sair do hospital me avisa que eu quero te ligar.
Nina: Tudo bem, quando eu chegar eu te aviso. Agora eu tenho correr senão vou me atrasar e a residente anda pegando no meu pé. Beijo.
Anne: Nos falamos depois... Beijo.

Saio do meu quarto e Lucy pula em cima de mim.
-Bom dia, garota - digo e ela começa abanar o rabo freneticamente.
-Bom dia, Nina. - escuto Débora dizer saindo do seu banheiro.
-Bom dia Deb. Você pode me dar uma carona hoje?
-Posso sim. Mas não demore muito pra se arrumar, eu saio daqui há 20 minutos.
-Ok.
Vou até o meu box e faço minha higiene. Saio do banho cantando umas das minhas músicas preferidas da Guns n' Roses e escuto Débora falar alguma coisa mas não consigo entender o que ela diz. Saio do quarto e vou até a cozinha.
-O que você di... - tomo um susto em ver um rosto familiar na cozinha, sem ser o de Débora.
-É.. - ela diz me olhando de uma forma envergonhada.
-Nina, essa é a Marielle. Mas vocês duas já se conhecem, não é? - ela diz e eu coro.
-Ah.. Oi, Marielle. Eu.. Achei que você estava falando comigo, Deb. - digo apertando a toalha para mais perto do meu corpo. -Eu irei me trocar. - digo e vou até meu quarto o mais rápido que consigo andar. Me tranco no meu quarto e me ponho com as costas na porta.
"Respira Nina, respira Nina" repito para mim mentalmente várias vezes.
A Marielle está na minha cozinha com a Débora. O que ela está fazendo aqui? O que será que ela quer?
Vou até meu espelho e tento me acalmar. Olho para minha cama e Lucy está deitada.
-O que será que ela quer, Lucy? - pergunto e Lucy me olha e abana o rabo.
Será que isso significava alguma coisa?
Coloco uma calça jeans azul e uma blusa branca de manga curta. Pego meu tênis branco o coloco.
Saio do meu quarto com minha mochila e vou até a cozinha.
-Ah! Achei que não iria mais sair daquele quarto. - Débora diz com um sorriso de lado.
-É... Me desculpe, eu acabei me distraindo. -digo envergonhada.
-Sei... - Débora diz em um tom sarcástico. - Nina, a Marielle é minha nova parceira.
-Ah, que bacana. Eu não sabia que você se interessava por essa área. - digo e Marielle se levanta da cadeira.
-Nem eu sabia disso. Acabei fazendo a prova apenas para testar meus conhecimentos e passei. - ela sorri - Por sorte me mandaram ficar com a Deb.
-Faz muito tempo que vocês duas estão trabalhando juntas? - questiono e encaro Débora.
-Não, Nina. Descobri que ela é a minha nova parceira ontem a noite. - Débora diz irritada. - Agora, podemos ir?
-Ah! Claro. - digo e vou até a sala. Escuto Deb sussurra algo para Marielle e depois elas passam por mim na sala.
Entramos no carro de Débora e eu me sento no banco de trás.
-Fiquei sabendo que você agora é enfermeira. - Marielle diz quebrando o silêncio
-É... Acabei fazendo o técnico depois que... - digo e reparo a sua expressão.
-Você me largou... - ela completa.
-E aí Nina? Por que a sua superior pega tanto no seu pé? - Deb pergunta mudando de assunto. Eu respiro aliviada pela intervenção dela.
-Ah! Eu sou novata. Ela tem motivos pra ficar no meu pé - digo e Débora olha para trás de relance.
-Que bom que você se conformou. - ela diz e e solta uma risadinha. - E a Anne? Já estão bem? - respiro fundo e a tensão volta a tomar conta de mim.
-Sim, estamos bem. - digo e tento parecer mais natural possível.
-Anne? Quem é essa? - Marielle pergunta olhando fixamente para mim.
-É a minha... - respondo gaguejando.
-A namorada dela. - Deb me interrompe. - Na verdade, a namorada virtual dela.
-Débora! - digo furiosa.
-O que? Mas não é isso que ela é?
-Virtual? - Marielle pergunta confusa.
-É... Virtual. - respondo de uma forma ríspida.
O resto do trajeto até o hospital o silêncio predominou. Diversas vezes eu vi a Marielle me olhando de rabo de olho, como se ela estivesse tão incomodada com o silêncio quanto eu. Débora liga o rádio e está passando Crazy Love, da Beyoncé. Ela então grita: -Eu amo essa música!
Ela começa a cantar e fazer movimentos frenéticos com os braços.
-É uma das minhas favoritas também! - Marielle começa a cantar com Débora. -Ah! Nina. Eu sei que você gosta dessa música, não fique intimidada com minha voz maravilhosa. - ela diz e sorri.
Começo a cantar e quando percebo estou fazendo os mesmos movimentos que Débora.
Quando a música acaba estamos na frente do Hospital Central.
-Chegamos, senhorita enfermeira. - Débora diz me encarrando.
-Obrigada, senhora Menezes. - digo me referindo ao seu sobrenome - Agora, vou ter que entrar e da alguns pontos em umas feridas. Obrigada pela carona Deb. E foi bom revê-la Mar. - digo e saio do carro.
Respiro fundo e passo pela porta principal do enorme hospital. Vejo Bruna com dois copos de café nas mãos.
-Acho melhor você ir falar com a carrasca. Ela chegou soltando fogo pela ventras. - ela me entrega um dos copos. - E bom dia.
-Bom dia! - digo e vejo Bruna se afastando.
Vou até o vestiário e troco de roupa, colocando meu jaleco branco.
-Nina, preciso falar com você. Quando terminar aí, vá direto pra minha sala. - Fernanda sai da sala batendo a porta logo em seguida.
Fernanda era a residente mais antiga do Hospital Central. Ela era tão rígida que foi apelidada de "carrasca". Eu não me importava muito com a forma que ela me tratava, afinal, ela era responsável pelas enfermeiras novatas e pelos internos.
Saio do vestiário e vou até a sala da Fernanda, bato na porta e entro.
-Pode se sentar. - Fernanda diz estendendo a mão apontando para a cadeira em sua frente. - Você sabe o motivo que te chamei aqui?
-Não faço idéia, Dr. Fernanda. - digo e respiro fundo.
-Bom, você recentemente presenciou uma parada cardíaca de um dos meus pacientes mais antigos - ela diz e engole seco - O senhor Sérgio.
-Sim... - digo e acabo relembrando algumas cenas.
-Pois é, eu imagino que você tenha ficado bastante assustada. - ela diz e se inclina na cadeira
-Eu fiquei sim. Mas isso também faz parte da minha profissão. - digo tentando parecer confiante.
-Você se parece bastante com sua mãe. - ela diz me olhando fixamente.
-Ah.. A senhora a conhecia.
-Sim, eu a conhecia. Ela me ajudou em diversos casos. - ela diz como se tivesse se lembrando de algo. - E eu queria saber como você se sente trabalhando na mesma área que ela.
-Ah... - engulo seco - Ela iria gostar de saber que eu escolhi a mesma área que ela, e além do mais, eu estou gostando bastante de trabalhar aqui.
-Fico feliz em saber disso. - ela sorri. - Tem um caso que eu gostaria de te mostrar. Quando não tiver muito trabalho na emergência, eu te chamo e apresento o caso.
-Tudo bem..
-Agora, está dispensada.
-Com licença. - digo e me levanto da cadeira. Vou até a porta e vejo Beatriz conversando com uma das médicas da emergência.
-Bom dia, Dr. Gonçalves.
-Bom dia, Nina. - ela sorri- Estávamos falando de você agora mesmo.
-É? o que vocês diziam? - pergunto curiosa.
-Sobre sua reunião com a carrasca. - Beatriz diz e solta uma gargalhada. - O que ela queria com você?
-Ah, ela só me disse que tem um caso interessante que queria me mostrar, nada de mais.
-O que? Um caso? - Dr. Gonsalves pergunta.
-Sim.
-Acho que tem alguém aqui que está agradando a chefia hein. - Beatriz diz com tom sarcástico.
-É... Quem sabe. - digo dando de ombros. - Agora preciso fazer algumas suturas. Até mais, meninas. - saio de perto delas e vou até a emergência.
Pego uma prancheta com os nomes dos pacientes e eu até os suas macas.
Vou até a maca de uma menina de 9 anos que caiu de cima de uma árvore. Seu ferimento na perna era um tanto superficial, mas era necessário suturar.
-Bom dia, Ellen. Meu nome é Nina, vou cuidar nesse seu machucado aqui. - digo passando uma gase em cima do seu ferimento.
-Isso vai doer muito? - ela pergunta com uma expressão assustada.
-Não. Eu prometo que não irá doer. Vou te anestesiar para que isso não aconteça. - digo e ela sorri.
Depois de dá o primeiro nó percebo que o andamento do ponto vai ser mais rápido do que imagino.
-Nina, pega essa paciente pra mim? - Bruna me pedi me tirando a atenção da perna de Ellen.
-Que paciente? - pergunto dando o último no na sutura da Ellen.
-Uma policial tomou um tiro ombro. Se você não estiver com muitos pacientes e puder quebrar essa pra mim.
- Tudo bem. - digo olhando para ela. - Acabei Ellen. Já pode voltar a subir em árvores. - ela sorri e se levanta.
-Obrigada, Nina. - aceno positivamente para ele e pego a prancheta com o nome da policial.
"Marielle Rosa da Silva" . Leio novamente o nome e fico estática. Será que ela está bem? Saio correndo até a maca dela e a vejo com uma blusa estancando sangue.
-O que aconteceu? - pergunto preocupada.
-Ah, não foi nada. Em uma troca de tiro com um meliante acabei sendo atingida. - ela diz e força um sorriso.
-Deixa eu vê isso aqui. - tiro a blusa que estava em cima do ferimento e vejo que a bala atravessou o braço.
-Você passou por algum médico daqui né?
-Sim, a Dr. Fernanda deu uma olhada. Me disse que eu só precisava de alguns pontos.
-Já passou pelos exames da triagem? - pergunto e ela sorri de lado.
-Sim, senhora. Eu só preciso que você me costure.
-Tudo bem. - vou até o balcão e pego o necessário para poder da os pontos na Marielle.
Volto até perto da sua maca a vejo me olhar de um jeito estranho.
-O que foi? Por que está me olhando assim? - pergunto intrigada.
-Você fica bem nesse uniforme. - ela diz e da um sorriso de lado.
-Você também fica bem de farda. - ela me olha novamente e faz uma expressão de dor. - Pode deixar que eu vou anestesiar.
Começo dando o primeiro nó e depois a passar a linha na pele da Marielle.
-Pronto acabei aqui na frente. Vou da os pontos na parte de trás do ombro. - digo e ela acena positivamente com a cabeça.
Minhas mãos começam a tremer quando vejo as costas de Marielle. Por algum motivo o cheiro vindo do seu pescoço me deixa familiariazada. Ela ainda usa o mesmo perfume.
-Você ainda tem o mesmo cheiro. - sussurro sem querer.
-Sim, eu ainda uso o mesmo perfume. - ela diz dando uma gargalhada baixa.
Termino de da o último nó no seu ombro.
-Acabei. - digo tirando minhas luvas.
-Obrigada. - ela sorri delicadamente. - Como eu posso recompensar pelo trabalho bem feito?
-Ah, que isso. É só o meu dever. - digo tentando parecer indiferente.
-Tudo bem. Eu iria te oferecer um sorvete, mas parece que você não é esse tipo de enfermeira. - ela diz e eu solto uma gargalhada.
-Já saiu com muitas enfermeiras? - questiono.
-Na verdade, não. Se você aceitar, será a primeira.
-Tudo bem, eu aceito o sorvete.
-Irei cobrar isso hein. Mas agora eu tenho que ir, a cidade não está a salvo sem minha vigilância. - ela diz em um tom animado.
-Ok, senhorita incrível. - ela se levanta e fica na minha frente. - Mas, não poderá salvar essa cidade por alguns dias. Você precisa repousar, senão os pontos iram se abrir. E eu não quero te ver aqui nem tão cedo.
-Que pena, estava pensando em tomar outro tiro só pra você me costurar novamente. - ela sorri e se aproxima de mim. - Obrigada, mesmo.
-Não agradeça, me pague o sorvete.
-Combinado! - ela vai até a porta e passa por ela.
O resto do meu dia foi tranquilo. A única coisa que fiz foi dá vários pontos em pessoas diferentes. Mas o que mais me intrigou foi o fato da Dr. Fernanda não ter me chamado para ver o caso tão especial que ela mencionou. Talvez ela tenha ficado ocupada durante o dia todo.
-Você deveria ter ido embora há 15 minutos. - Beatriz me chama a atenção.
-Eu sei, só estava olhando quantos pacientes passou pelas minhas mãos hoje. - digo fechando vários prontuários. - Mas estou indo agora, até mais Bea.
Chego em casa e Lucy vem me receber na porta.
-Já estava com saudades, garota? - pergunto e ela começa ficar ainda mais animada.
-Débora! - grito da porta da sala.
-O que foi? - ela responde assustada.
-Nada, eu só queria saber se estava em casa. - digo e ela da de ombros.
-Como foi no hospital?
-Ah, nada fora do normal. Dei vários pontos em pessoas diferentes; em uma menina de 9 anos, em um senhor de 76, e na sua parceira. - digo e cruzo os braços.
-Que sorte ela ter sido atendida por você. - ela passa por mim e vai até a cozinha. - Quer cerveja?
-Não, estou muito cansada. - digo entrando no meu quarto. - Quando você iria me contar? - grito do meu quarto e Débora vai até a porta do meu quarto.
-Eu achei que você não acreditaria, por isso a chamei para vim aqui hoje mais cedo. E o encontro de vocês não poderia ser mais adequado. - ela da um gole da cerveja. - Ela te viu nua de manhã e depois você deu uns pontos nela.
-Deb! - digo e jogo um dos meus ursos de pelúcia nela.
-Ah! Vai me dizer que não gostou de ve-la?
-Eu ainda não sei. Sempre é estranho vê uma ex depois de muito tempo. Mas a pior parte é que ela ainda tem mágoas do passado. - digo e olho fixamente para o chão.
-Só acaba sendo estranho quando se sente alguma coisa ainda. - ela da mais um gole na cerveja. - Agora, vou para o meu quarto. Boa noite, Nina.
-Boa noite, Deb.
Me deito na cama e fico relembrando da cena da manhã. Começo a sorri em imaginar o quanto fui boba em te agido daquela forma. Mas, afinal, ninguém imagina encontrar sua ex na sua cozinha em plena terça de manhã.
Meu celular toca me tirando do transe. É a Anne:
-Boa noite, amor. - escuto a voz de Anne abafada.
-Boa noite, Annezinha - digo a escuto bufar.
-Amor, eu já te disse para não me chamar mais assim, por que gosta tanto de me irritar? - ela me pergunta e eu sorrio.
-Os sons que você imite quando está com raiva são bons de ouvir.
-Sério. Você foi realmente feita pra mim. Como pode ser tão estranha? - ela sorri e eu lembro da Marielle momentaneamente.

Minha ex aparece na minha casa, minha namorada me liga e me faz lembrar da minha ex. Qual será o meu problema?

Namoro Virtual (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora