Parte 1.

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Mariana narrando:

Viemos brigando dentro do carro mais uma vez. Música alta, velocidade alta e voz alta.

Eduardo respirava fundo e esfregava o rosto diversas vezes. Eu competia com o rádio num choro com soluços, mas não sabia se o sentimento que escapava era raiva ou tristeza... Talvez os dois misturados.

A briga seguiu até o meu apartamento. Já no elevador, ficamos mudos. Eu encarando o espelho, tentando limpar a maquiagem borrada e Eduardo sem dizer uma palavra. Completamente distantes. O ar estava tão cheio de verdades que o orgulho não cabia num diálogo. Era impossível trocar palavras sem farpas.

— Me deixa sozinha, por favor... — Pedi.

Eduardo assentiu calado. Permaneci parada na sala enquanto seguia, com os olhos meio embaçados, seus poucos passos para o quarto. Não demorou muito. Eduardo voltou com uma coberta, um travesseiro e uma roupa de dormir. Acho que o nosso orgulho deve ser grande demais porque não nos permitimos dar o primeiro passo.

Fui para o quarto. Sozinha dessa vez. Sempre que brigamos, a fala se torna algo raro. Vamos para o quarto, trocamos de roupa e deitamos, virados para lados opostos. É sempre assim. Mas hoje não...

Me joguei na cama tentando não pensar em nada que fosse voltado à ele. Fracassei. Na escrivaninha ao meu lado, várias fotos nossas. Peguei algumas e chorei piedosamente naquele quarto silencioso. O urso que ganhei último dia dos namorados continua com o cheiro do Eduardo. É Mariana, a noite vai ser longa...

***

Assim que acordei, senti o estrago da noite passada. A dor de cabeça apareceu sem permissão e minha vontade de levantar desapareceu. Precisava um café urgentemente para conseguir ter que encarar a triste realidade de frente.

O orgulho falou mais alto e eu continuei inerte na cama. Meus olhos moviam-se de um lado para o outro, totalmente perdidos. Minha cabeça girava e, apesar do quarto fresco com o cheiro gostoso da manhã, não consegui achar nenhuma solução para tal problema. Argumentos pra quê? É o fim!

Resolvi levantar e fui até o banheiro do quarto. Olhei para o espelho e não fiquei surpresa com minha imagem. Estava acabada, destruída. As olheiras fundas, a famosa cara inchada de choro, a maquiagem totalmente borrada que acabei esquecendo de tirar e o pior... O brilho natural dos meus olhos...

Porque as pessoas nos fazem sofrer? Prometem tudo e acabam não fazendo nada. O que querem afinal? Cadê as promessas feitas na hora da paixão? "Juro amar-te por toda a minha vida." Isso é fachada. Pura mentira. E de mentira eu já estou cheia!

Ainda encarando o espelho, resolvi tomar um banho. Me despi por completo e entrei no box para lavar tudo que ainda estava preso em mim. Não foi fácil. As lágrimas vieram mais rápido do que eu pude imaginar. A dor me consumiu e não tive nenhuma força para mandá-la ir embora.

Após um longo e tenebroso tempo comandado pela dor, sai do banho. Encarei o espelho e dei um sorriso fraco. Não era o melhor que eu tinha, mas estava tentando. É o fim, minha mente dizia. Ou talvez um novo começo, a parte tranquila falou mais alto.

∆∆∆

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