Prólogo

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Londres, 1849.

Vanessa Hastings saiu do cemitério com o colar entre os dedos.

Era relativamente pequeno comparado ao seu valor, com sua corrente de ouro fina e não muito longa com uma pequena chave que deveria ter o tamanho de sua unha do mindinho.

Ainda estava irritada por ter sujado seu vestido vermelho, mas se preocupou mais com o que Margareth faria quando ela chegasse em casa.

Bom, ela pensou, o preço de um vestido não deve ser tão grande comparado ao preço de violar um túmulo.

A garota revirou o colar nos dedos finos e longos e olhou as iniciais sob a lua cheia daquela noite. A letra "A" estava entrelaçada com a letra "M" de forma elegante atrás da chave dourada.

Vanessa abriu a porta da carruagem e entrou, olhando diretamente para Bryan com um sorriso vitorioso. Tudo o que ele fez foi erguer uma sobrancelha e a olhar com os olhos cinzentos charmosos.

-Um colar? -Ele finalmente perguntou. -Você está cavando túmulos há horas e tudo que trás é uma correntinha de ouro? -Ele deu alguns tapas no teto da carruagem e a mesma começou a andar com um sacolejo.

Horrorizada, Vanessa abriu a boca.

-Não é apenas um colar! -Disse, irritada. -É O Colar. Como você mesmo disse, passei horas escavando túmulos, estes que você deveria ter me ajudado, mas eu passei horas ao lado de cadáveres sozinha e certamente não sairia de lá agora apenas por conta de uma joia boba. Olhe as iniciais.

Bryan tomou o colar das mãos frias de Vanessa e a virou com cuidado.

-A.M.? -Ele perguntou e a olhou novamente. -E?

-Por Deus, Bryan, onde está seu espírito de investigação?

-Junto com alguma prova mais útil em algum túmulo.

-Alexander Matthews. O colar estava enterrado junto ao corpo de Melissa Matthews, a esposa dele. Sabe como ela morreu? -Vanessa perguntou animada, mas quando Bryan ia responder, ela o interrompeu. -Exatamente. Ela morreu, abre aspas, acidentalmente, fecha aspas, com um atiçador de lareira cravado atrás de sua nuca e o marido desapareceu por oito meses após o laudo médico. Ele tornou a aparecer novamente com uma riqueza monstruosa.

-Acha que Matthews a matou? -Ele perguntou, olhando para a fria rua de Londres onde a noite pertencia aos espíritos e aos assassinos.

-A não ser que o Papai Noel tenha ficado irritado pela lareira acesa e tenha matado ela, é exatamente o que eu acho.

-Mas, Nessa, o que o colar tem a ver com isso? É só uma joia.

-Ele tem tudo haver com isso. -Ela pegou o colar de volta das mãos de Bryan e o colocou no bolso do vestido. -Eu examinei o corpo, não me pergunte como, é desagradável e não se pergunta esse tipo de coisa a uma dama, mas como eu ia dizendo, Melissa estava grávida.

Bryan a olhou, os olhos tempestuosos parcialmente cobertos pelo cabelo castanho-avermelhado.

-Bom, isso muda muita coisa, não é? Se Melissa estava grávida, Alexander devia saber, mas então o que houve com a criança?

-É exatamente aí que as coisas ficam deliciosamente interessantes: Melissa tinha sangue mágico. Ela era meio Magician e meio humana e Alexander era um Visionário, ele podia ver.

-Magia, então. Alexander deve ter retirado a criança e tê-la usado para uma oferenda ou então a vendeu para aqueles clãs de magia negra do Norte. Deve ter sido assim que ficou tão rico, mas como ele descobriu?

-Costumes dela, talvez. Sabe como é, rezar para a Lua e tudo mais.

-Mas isso não diz nada a respeito do colar. -Bryan apontou para o bolso de Vanessa.

-Pertencia à Alexander e ele deu para Melissa depois do casamento. Podemos pedir ajuda para a única pessoa que conhecemos que faz buscas sem questionar.

O rapaz arregalou os olhos.

-Nem pensar.

-Você não tem escolha.

-Tenho sim e ela se chama negação.

Vanessa riu alto, o cabelo castanho se soltando e caindo em ondas sobre os ombros.

-Achei que gostasse dela.

-Ela é louca.

-Ela é uma sereia. Honestamente, o que esperava?

-Uma sereia louca. Da última vez que nos falamos, ela tentou me drogar com pó de alga e me despir. -Ele ruborizou e Nessa riu.

-Bom, ela sabe fazer o Mapa das Conchas.

-Ela também sabe como traumatizar um homem e nem por isso eu requisitaria seus trabalhos.

-Bryan... -Ela disse em tom de aviso.

Com um suspiro, ele passou a mão no rosto enquanto a carruagem parava.

-Tudo bem, mas se eu for violentado, irei sussurrar em seu ouvido até você dizer chega.

-Fico gratificada. -Ela sorriu e a carruagem parou de uma vez. Vanessa abriu a porta, sem esperar por Bryan que foi atrás dela em seguida.

-Onde estamos?

-No porto do Tâmisa. -O garoto parou, irritado e empalidecendo.

-Você sabia que eu concordaria em vir.

-Na realidade, eu esperava que tivesse que amarrá-lo ou pedir para o senhor Pingley para fazer isso. -Vanessa respondeu e Bryan olhou para a carruagem onde o senhor Pingley estava parado. Senhor Pingley era o cocheiro e mesmo que um pouco surdo e no auge dos seus noventa anos, ele segurava uma corda ameaçadoramente. Vanessa o dispensou com um simples gesto de mão. -Mas já que concordou, não vejo necessidade alguma disso.

Dizendo isso, ela subiu na amurada, o vento frio em seus cabelos castanhos, os jogando para trás.

Londres era agradável durante a noite, o silêncio reinava e podia-se ouvir música das tavernas ao redor com seus marinheiros bêbados e risadas das damas noturnas e mesmo que o cheiro fosse perturbador, Vanessa se sentia privilegiada por viver ali.

Bryan subiu logo em seguida, retirando o relógio de bolso e respirando fundo.

-Vamos ficar violentamente resfriados amanhã. Você sabe, não sabe? -Ele perguntou a olhando e guardando o relógio.

-Que seja. -Vanessa retirou um botão do bolso e o jogou nas águas escuras do Tâmisa. O som do botão contra a água foi inaudível, mas a água negra começou a brilhar em um tom de dourado suave e a girar em um redemoinho que se expandiu. -Pronto?

-Para rever minha ex-noiva assassina e psicótica? Claro. Sonho com isso desde que fugi dela. -Ele respondeu, fazendo-a rir e esboçou um sorriso minucioso, segurando a mão de Vanessa. -Damas primeiro.

-O que? -Ela perguntou antes de ser empurrada e gritar, puxando Bryan junto.

Assim que os dois passaram pelo redemoinho, a luz cessou e o redemoinho parou quase no mesmo instante e Londres voltou a ser apenas Londres em uma de suas noites sombrias.

Os Segredos das Legiões - Floresta dos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora