Capítulo 2 - Apagada

109 3 0
                                    

"Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!"

-Mario Quintana


Rowena caiu no chão como um fruto cai da árvore. Foi um baque surdo, porém que ecoou na cabeça de Arya como centenas de sinos.
Por um instante, ninguém se moveu, mas em segundos Rowena estava sendo carregada para cima por Ryan e por Licia. O salvador de Rowena estava de costas com a cabeça abaixada e as mãos nos bolsos. Algo na sua forma de se mover era familiar para Arya, mas tudo soava familiar para ela naquele momento, então ela considerou algo bobo. Ela se virou para a escadaria.
Ryan e Licia deveriam estar levando Rowena para a enfermaria, então ela iria logo atrás.
No topo da escada, Arya olhou para baixo uma última vez. O garoto havia desaparecido.


 -Deve ter sido um Gullok.
 -Ou uma reação alérgica. -Era a voz de Acácia. -Vê como aqui está inchado? Está começando a formar bolhas.
 -E o que vai acontecer se não cuidarmos das bolhas? -Um garoto perguntou, o mesmo dono da primeira voz.
  Acácia hesitou em responder e alguém mexeu em algo de ferro.
 -Bom, ela morre. As bolhas estão começando nas mãos, então o perigo não é tão grande. Seria pior se fosse próximo ao coração.
  Arya engasgou e deu um passo para frente da porta de madeira, procurando Rowena.
  Ela estava deitada na cama da enfermaria com as cobertas até a cintura. Seus cabelos, uma mistura violenta de rosa e laranja em contraste com a pele pálida. Ela suava frio e Licia colocava um lenço em sua testa para abaixar uma possível febre. Acácia estava sentada na ponta da cama com um livro de capa vermelha. Um livro de medicina, Arya pensou e olhou para o garoto que segurava uma mecha do cabelo de Rowena. Seus cabelos eram violentamente cacheados como uma tempestade de chocolate que realçava os castanhos claros. Ele tinha uma pequena marca sob o olho direito, um pássaro pequeno em um tom rosa claro, como se fosse um rubor.
  Arya pigarreou levemente e o garoto levantou o olhar preocupado para Arya, olhar este que logo se transformou em confusão. Ele olhou ao redor como se tivesse se dado conta de algo que estava faltando na sala e olhou para Arya novamente, os olhos arregalados.
  Ele abriu a boca para falar algo, mas Acácia o impediu, levantando-se e fechando o livro.
  -Ary, claro. Se está procurando Ryan, ele...
  -Eu vim ver a minha irmã. -Arya a cortou, entrando na enfermaria. Licia trocou o pano de Rowena. -Eu vi quando ela chegou. Um rapaz de preto trouxe ela para dentro porque ela caiu lá fora e ouvi a conversa. -Ela olhou para Rowena, o coração apertado por vê-la assim. -Ela vai morrer?
  Acácia olhou com pesar para Arya e lhe deu um sorriso bondoso.
  -Não, menina, ela não vai morrer. Ela pode ter entrado em contato com alguma planta ou algum inseto que tenha alergia.
 -Ela não tem alergia e ouvi você falando que ela poderia morrer.
  Licia se moveu, inquieta e cutucou o garoto que havia voltado a segurar a mão de Rowena.
  -O que? -Ele pareceu atordoado.
  -Arya, este é Gabriel Belmont. Gabes, está é Arya Hastings, irmã mais velha da Rowie. -Disse Licia formalmente.
  Gabriel se levantou. Ele era mais alto que Arya, o suficiente para que ela tivesse que inclinar a cabeça um pouco para trás para olhá-lo, mas pensando bem, Arya notou, ela não era a pessoa mais alta do mundo.
  -Muito prazer, -disse ele com as mãos nas costas - e sinto muito por nos conhecermos nesta situação.
  -Eu não te conhecia antes, não é? Seria desconfortável ter que te conhecer novamente. -Arya respondeu com um sorriso fraco enquanto se sentava ao lado de Rowena. -Você é o namorado da Row?
  Gabriel empalideceu, as bochechas tomaram a cor de um vermelho intenso enquanto ele pendia o corpo de um lado para o outro.
  -Não precisa responder se não quiser...
  -Arya -Acácia chamou. Ela havia colocado o livro em uma outra cama e agora segurava uma seringa maior que um lápis. -Sei que ela é sua irmã, mas a extração de algo assim pode ser um tanto feia para os olhos. Sugiro que você saia.
  Arya arregalou os olhos para a seringa enquanto Acácia colocava um líquido rosa vibrante no compartimento.
  -Você vai colocar ISSO no braço da MINHA IRMÃ? -Ela exclamou, erguendo a mão sobre Rowena. Licia havia se levantado e procurava algo nas prateleiras de madeira branca e dourada, assim como toda enfermaria que era iluminada da mesma forma que a biblioteca. A chuva ainda estava caindo, embora mais fraca. -De jeito nenhum.
  -Precisamos saber o que há dentro das bolhas ou não...
  -Não, não. Meu Deus, não. -Arya ergueu as mãos. -Olha, esquece. Só faz minha irmã ficar bem.
Gabes sorriu de lado e Licia riu. Acácia balançou a cabeça, os cabelos negros balançando juntos. As escamas se mexeram levemente e Arya saiu, fechando as portas.

Os Segredos das Legiões - Floresta dos EsquecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora