Era ela?

Terceiro Conto

Estive apaixonada durante meses pelo meu melhor amigo, seu nome não importa, todos o chamavam de A., abreviação para Anjo, eu quem lhe dei esse apelido, estive também muito entregue para uma amizade da qual eu não sabia se me fazia bem ou não, o nome da minha melhor amiga? Sara, mais conhecida por S.
Eu sou P., mais conhecida como a vadia louca que já fez tudo que os outros tiveram vontade, minha suposta morte foi dia 16 de Novembro, banheiro da escola, cortes no pulso, minha suposta morte porque eu devia ter morrido, mas alguém me salvou, com uma condição, eu teria que permanecer morta por algum tempo, ser a rainha de tudo me trouxe muitos inimigos e a pessoa que me salvou queria ser a nova rainha, sempre achei esse título escroto, eu só vivia minha vida, por que todos não podiam fazer o mesmo? Bom, a pessoa levava muito a sério isso de título de rainha da galera e eu tive que morrer, foi fácil, com o dinheiro da minha família, uma casa chique, um carro de vidros escuros, até em festas eu podia ir, desde que disfarçada, foi a exigência, mas eu não queria ir em festas, eu queria ver quem eu amava, fui no meu enterro, todos estavam lá, foi estranho, pessoas que eu nem sequer considerava de verdade estavam chorando por terem perdido a personagem que sempre fiz durante toda a minha vida, mas lá estava ela, S. lendo um elogio fúnebre pra mim, nem saberíamos o nome daquilo se a gente não tivesse visto A Culpa é das Estrelas uma milhão de vezes, foi um texto bom, mas falso, nossa amizade não era a mesma fazia quase um ano, minha mãe devia te-la obrigado, minha vontade era ir até lá, contar o que estava acontecendo, mas seria muito arriscado, Anjo estava chorando tanto e mesmo chorando estava tão lindo, o funeral acabou, todos foram embora e eu também naquela limousine que meu vô arranjara pra mim, apenas ele e a nova querida rainha sabiam que eu estava viva, voltei para a mansão e lá fiquei, saia as vezes, mas a maior parte do tempo fiquei por lá mesmo, lendo e chorando por ter sido abatida, que motivo mais tosco para ameaçar meus amigos, como alguém valorizava tanto o título que eu levava ao ponto de ameaçar alguém? Ameaçar meus amigos? De início até pensei que fosse brincadeira, mas depois percebi que não, eu não poderia arriscar, a menina era louca e sabia segredos sobre a minha família, sobre a família de todos, ela deveria ter pesquisado muito, pois sabia demais.

Passaram-se dois meses, eu acho, fui numa festa A. e S. estavam lá, eu deveria ter ido embora, mas não consegui, fiquei dançando longe deles, mas eu sempre ficava de olho, eu queria tanto ir lá, abraça-los, dizer que tudo bem, eles me viram, ambos ao mesmo tempo e li em seus lábios "era ela?", por que era tão difícil sair de lá? Eles não podiam saber, era arriscado demais, quando a razão né dominou, tentei sair de lá e então Sara passou mal, a polícia foi chamada e deixaram ela lá, grandes amigos que abandonam uma garota em perda total, fui obrigada a sair do meu casulo forçado para cuidar dela, claro que cuidei, deixei ela em casa, troquei a roupa dela e ela acordou, de início bateu um pouco de desespero, mas ela estava tão louca que nem lembraria disso então fui embora, no meio do caminho da casa dela até aonde eu estava ficando estava a casa dele, eu deveria ter chamado o carro, não ter ido embora, fiquei olhando a casa onde passei tantos dias vendo filmes, conversando, a casa onde teve as melhores festas e eu não consegui me conter, sabia onde escondiam a chave, entrei, todos dormindo, menos ele, entrei em seu quarto mas antes peguei vinho na cozinha, se fosse pra aparecer, que fosse deslumbrante, talvez ele só fosse achar que era um fantasma, entrei em seu quarto, ele me olhou com surpresa nos olhos, falei com ele, acendi um cigarro e forcei sorrisos, se era pra eu me passar por um fantasma, que eu fosse um fantasma feliz, dormi lá, com ele e dormi novamente, e novamente, e novamente, durante meses, todos os dias eu ia lá, 02h eu chegava, 07h eu ia embora, conhecia os horários daquela família.
Visitei algumas vezes Sara, foram bem poucas, a mente dela estava mais sã e eu não podia me arriscar tanto, já Anjo estava tão destruído que achava que eu era mesmo um fantasma.

Certo dia teve a festa do ano, meu aniversário, todos foram, A. e S. foram juntos, eu sabia que eles estavam ficando mas não pensei que fossem fazer isso em minha festa, fui escrota o tempo todo, humilhei os dois nessa festa, usei todas as minhas armas de manipulação até que eles não fossem mais nada e então a festa acabou e com isso a vergonha de mim mesma bateu, eu os amava, por que fiz aquilo?

Não consegui visitar ele uma noite, a menina foi até onde eu estava dizer que não queria mais fazer tudo aquilo, nossa conversa durou a noite toda, em uma outra noite tentei visitá-lo, consegui e ele fez perguntas, ainda não podia explicar, então só o beijei e fui embora, em outra noite eu ia na casa dele explicar tudo, escrevi uma carta pra ser mais dramática, porém fui parada na rua e arrastada por chapados, mas antes deixei uma carta com o irmão dele, aquela carta declarava a minha liberdade, S. estava na festa que fui arrastada, consegui deixar um bilhete em sua bolsa, eles saberiam que eu estaria voltando.

Passou mais um tempo, minha família já sabia do que tinha acontecido, eles conversaram com a polícia, explicaram a história, foi uma burocracia muito chata e eu só queria voltar pra casa, pros meus amigos, pra minha vida, quando tudo finalmente acabou eu fiquei numa felicidade tão plena, eu tinha conseguido minha liberdade e iria aproveita-la da melhor forma possível, sai de casa com uma roupa diferente do normal, sempre usava vestidos vermelhos, saltos, mas dessa vez não, eu mudei e meu estilo também, eu não queria mais ser a rainha ou coisa assim, vesti a coisa mais simples que achei, um short jeans, all star, blusão branco e jaqueta vermelha, troquei as lentes de contato por óculos, não abri mão dos meus colares ou anel, eles fizeram parte da minha versão original, já estava escurecendo, eu soube que tava rolando a festa de um dos novos meninos populares, no caminho fiquei treinando o que eu iria falar, criei um discurso de desculpas e explicações e declarações, estava de carro, um acidente aconteceu, algum bêbado em alta velocidade bateu no carro do meu vô, todos que estavam no carro morreram, inclusive eu.