Capítulo 1

28 5 2
                                    

À medida que o táxi que foi buscar Elisa ao aeroporto Humberto Delgado se aproximava, mais as suas mãos tremiam e a sua mente delirava. Ela olhava pela janela e sorria, tentando esconder todas as perguntas que pairavam pela sua mente. Perguntas essas que só lhe traziam ainda mais receios em relação a sua chegada a Portugal, mas para as quais brevemente iria ter respostas. Ou não...

-Elisa, meu amor, estás a ouvir-me?- a rapariga estava tão distraída que nem havia reparado que a sua avó lhe falara.

    -Sim? Desculpe, não estava a prestar atenção.-lamentou.

    -Não faz mal. Eu estava a dizer-te que a partir de amanhã teremos um novo membro na família.- a neta arregalou os olhos- Lembras-te do Bernardo?

    Depois de refletir um pouco, Elisa respondeu:

-Acho que sim. O seu vizinho, não é? Ele não é muito novo para a senhora, avó?- rapidamente a rapariga ficou vermelha e tapou a boca ao perceber o quão desrespeitosa a sua pergunta foi.

-Calma, amor.- a avó riu- Eu e o Bernardo somos apenas bons amigos, ele é como um filho pra mim.

-Desculpe. Eu faltei-lhe ao respeito e não o devia ter feito.- Elisa sentia-se realmente culpada pelo que tinha dito. Achava que tinha ofendido a sua ente querida e tudo o que esperava em resposta era um longo sermão, tal como a sua progenitora faria. Mas a sua mãe não era a avó.

-Não tens porque pedir desculpa, minha querida. Não te preocupes com isso.-sorriu, o que diminui parcialmente a preocupação da neta.- Como eu estava a dizer, o Bernardo vai mudar de casa e a sua cadelinha acabou de ter filhotes. Ela teve apenas dois, mas infelizmente, não pode levar nenhum. Então, eu vou adotar um deles e os vizinhos novos o outro.

    Ao ouvir tais palavras, Elisa sorriu sem nem se dar conta desse seu ato. Ela adora animais, mas a sua mãe nunca a deixara ter um devido a bagunça que eles fazem. Tudo o que ela tem são peixes vermelhos num aquário, no corredor de casa. Por isso, a ideia de ter um cão a acordá-la todas as manhãs e lamber-lhe a cara agradou-lhe imenso. A garota trocou mais duas palavras com a avó e voltou a olhar para a janela como fizera antes, só que desta vez a sorrir de verdade.

    Rapidamente chegaram, tiraram a única mala que Elisa tinha levado do porta bagagens e entraram. A casa estava tal e qual a adolescente se lembrava, mas ainda assim a sua avó insistiu em mostrar-lhe todos os cômodos. Começaram pela sala de estar que ficava ao lado da entrada, depois a cozinha e lá foram até aos quartos. Ela iria ficar num que um dia pertencera à sua mãe. O lugar mais importante para uma adolescente é o seu quarto e Elisa, mais do que ninguém, sabia perfeitamente disso. Por esse motivo, ela achava estranho dormir rodeada de todos os segredos e aventuras que ela supunha que a mãe vivera durante a sua juventude. Claro que entretanto aquele quarto mudou imenso e restam muitas poucas provas de que um dia aquele ja foi o cantinho da mãe dela. Mas as memórias nunca desaparecem.

    Depois de ter visto todas as divisões, a sua avó deixou-a sozinha para ela poder descansar da viagem que fizera. Mas Elisa decidiu que iria aproveitar esse tempo para arrumar a bagagem dela. Tinha que manter a mente ocupada, pois sabia que se ficasse sem fazer nada, iria acabar por pensar demasiado e isso era tudo o que ela menos desejava. Colocou as roupas no armário branco e preto, as bijouterias numa caixa de jóias que havia encontrado numa gaveta e a maquilhagem na cômoda, mesmo à frente do espelho. Por fim, decidiu pôr o calçado na sapateira que vem incluída no armário.

    Quando deu por terminada a arrumação, Elisa separou um pijama, pegou nos seus produtos de higiene e foi tomar um banho. Tentou ser o mais rápida possível, mas ainda assim um turbilhão de pensamentos invadiram-lhe a mente. Sobretudo coisas derivadas ao facto de não se ter despedido do pai. Ele era uma das pessoas, ou mesmo a pessoa mais importante da sua vida e, para ela, era muito difícil imaginar-se sem ele. Então despedir-se do pai era algo realmente importante. Pessimista como é, tinha medo que algo acontecesse entretanto e não voltasse mais a vê-lo.

Já pronta para dormir, Elisa foi até a cozinha e encontrou a sua avó a preparar o jantar. Ao aperceber-se da sua presença, a gentil senhora dirigiu-lhe um sorriso e depois, olhou-lhe de cima a baixo e perguntou:

-Por que já estás de pijama?- sem a deixar responder, continuou- Ah, desculpa, esqueci-me de te avisar que temos visitas. Que velha tonta que eu sou! Os nossos novos vizinhos vêm aqui jantar. Decidi convidá-los para festejar a tua chegada a Portugal e a mudança deles para o bairro. Espero que não te importes.

Tudo o que ela menos queria fazer naquele momento era receber visitas e ter que conviver com pessoas desconhecidas. Mas ainda assim fez um esforço para agradar a avó.

-Claro que não, vózinha. Deixe-me só ir trocar de roupa e depois venho ajudá-la.- a senhora Lúcia acenou e Elisa subiu.

Ela optou por vestir umas calças jeans pretas, uma blusa florida e umas sapatilhas pretas, também. Apanhou o seu longo cabelo escuro numa trança, passou perfume e desceu.

Quando voltou a cozinha, perguntou a avó quantos convidados iriam ter e de seguida, começou a pôr a mesa. De facto, Elisa não estava nada habituada a fazer tarefas: a sua mãe havia contratado uma empregada quando mudou de país e antes disso, consideravam-na nova demais para tal coisa. Mas sempre lhe ensinaram a fazer tudo porque, segundo a mãe dela, nenhum homem quer uma mulher que não saiba tratar da casa. Elisa não tinha exatamente a mesma opinião que a sua progenitora, mas não podia, nem iria dizer o que pensa sobre um assunto se tão pouca importância quanto aquele. Apenas lhe faltava colocar os talheres e já sentia o doce aroma do Caldo verde e do Bacalhau à brás que a sua avó estava a preparar. Esse odor fez-la lembrar da última vez que comeu esses pratos. Foi no dia em que a mãe anunciou que se iam mudar para Amesterdão, durante um jantar de família, naquela mesma casa. Ficara tão feliz na altura! Infelizmente, essa felicidade durou pouquíssimo tempo.

-Elisa! Podes ir abrir a porta?- foi tirada dos seus pensamentos pela sua avó. Ser apanhada de surpresa era uma das coisas mais chatas com as quais uma pessoa pensadora tinha que lidar. Mas aquilo acontecia-lhe tantas vezes que ela tinha acabado por se habituar.

-Já vou.- Elisa respondeu num tom ligeiramente mais alto e dirigiu-se para a entrada.

A rapariga abriu a porta e sorriu para o casal que se encontrava à sua frente. Para além deles, havia uma menina que aparentava ter entre oito e dez anos e um rapaz que parecia ter a idade de Elisa.

-Boa noite! Entrem, por favor.- arrumou-se para o lado, dando-lhes espaço para passarem.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 20, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Bolha de sabãoOnde histórias criam vida. Descubra agora