Sweet Soul

Prólogo

Evie olhou para a advogada em puro choque.

— Deve haver algum tipo de engano. — disse ela, a voz vacilando com incredulidade. — Como posso ter sido inclusa no testamento do sr. Barney, eu era apenas a enfermeira dele.

— Não há engano. — disse Olivia Rossi, batendo no documento à sua frente. — Tenho informações aqui em branco e preto. Lewis Barney mudou o testamento algumas semanas antes de falecer.

Evie permaneceu sentada, em silêncio. Tinha cuidado do multimilionário... E morado com ele... Por 18 meses, e nem uma vez imaginara que uma coisa como essa pudesse acontecer.

— Mas, não entendo... — disse após um momento. — Por que ele me deixaria metade de sua propriedade?

— É exatamente isso que o filho dele está questionando. — respondeu Olivia Rossi. — Acredito que ele esteja vindo de Nova York neste momento. Como único herdeiro, era natural esperar que Barney Village e todos os outros bens do sr. Barney passassem diretamente para o filho dele.

Evie mordiscou o lábio.

— Você me falou que os termos do testamento são estranhos...

— Bastante estranhos. — concordou Olivia. — Para herdar sua parte, você deve estar legalmente casada com Peter Barney dentro de um mês e permanecer casada com ele por um ano.

Evie sentiu um nó se formar no estômago.

— Casar-me... Em um mês? — gaguejou ela. — Por um ano?

— Sim. Caso contrário, todos os bens serão automaticamente passados para ex-amante de Lewis, uma mulher chamada Ella Henning. Ele já lhe falou sobre ela?

— Acho que não... Mas, ele era um homem reservado. Não falava muito sobre nada, especialmente no final.

A advogada folheou o documento antes de olhas novamente para Evie.

— Sr.Barney estipulou que, na ocasião do casamento com o filho dele, você receberá a soma total de cinquenta mil libras, e então, durante cada ano que permanecer casada com Peter, receberá uma pensão. — disse ela. — Muito generosa, na verdade.

O estômago de Evie se contraiu ainda mais.

— Quão generosa?

A advogada nomeou uma quantia que fez as sobrancelhas de Evie se arquearem.

— Suponho que seja uma quantia muito alta para recusar... —murmurou ela, pensando no telefonema recente de sua irmã. Cinquenta mil libras não resolveriam completamente a situação financeira de Emily, mas certamente a ajudaria a reerguer.

— É muito dinheiro para recusar. — concordou Olivia. — Mesmo sem calcular a pensão, a propriedade, como você sabe, é considerada uma das maiores obras de arte de Londres. Você seria uma tola se perdesse um bem como aquele, até mesmo metade dele.

— Como é Peter Barney? Quero dizer, como pessoa? — perguntou. — Vejo fotografias dele na imprensa de tempos em tempos, mas Lewis quase não o mencionava. Pelo que sei, ele não estava no funeral. Tenho a impressão de que pai e filho não se davam muito bem.

— Eu não o conheci pessoalmente.-disse Olivia. — Aparentemente, ele saiu de casa quando era um jovem, para estudar no exterior. Agora é um ambicioso investidor de ações. Mas, sim, sempre aparece em revistas de fofoca mundo afora. Dizem que Peter é um mulherengo muito rico.

— Sim, tive essa impressão. — suspirou. — Mas e se ele não concordar com os termos do testamento? Se é tão rico, por que concordaria em se casar com uma completa estranha?

— A propriedade envolve grande quantidade de dinheiro, mesmo para um homem rico. — apontou Olivia. — Ademais, a mansão foi onde ele passou a maior parte de sua infância, até ir estudar no exterior. Não acho que ele vá fugir de uma mina de ouro sem ao menos inspecionar a candidata que o pai lhe escolheu como noiva.

Evie sentiu os pelos da nuca se arrepiarem.

— Eu não disse que concordei em me casar com ninguém. Especialmente com alguém que não teve ao menos a decência de visitar o pai que estava morrendo.

— Considerando que Peter quase não teve contato com o pai pela última década, você pode ter dificuldade de explicar seu relacionamento com Lewis. — disse Olivia. — Sei que você trabalhava cuidando de Lewis, mas a imprensa nem sempre viu a situação assim, e suspeito que Peter Barney também não.

Evie se endireitou na cadeira. Logo que aceitara o emprego para cuidar de Lewis Barney, não estivera preparada para o fato de que a imprensa pudesse interpretar de forma equivocada seu relacionamento com ele. Sempre que o acompanhava em público, os paparazzi estavam lá para documentar, frequentemente fazendo-a parecer uma "caçadora de fortunas", contente em estar com um homem que tinha três vezes a sua idade. Ela ainda tremia ao pensar na última fotografia que tinha aparecido na imprensa. Enfraquecido pelo câncer progressivo dos ossos, Lewis era orgulhoso demais para usar uma bengala, e passara a contar cada vez mais com o apoio de Evie. O fotógrafo havia capturado um momento quando os braços de Evie estavam ao redor da cintura de seu empregador, para evitar que ele caísse, dando a impressão de que os dois estavam intimamente envolvidos. Até mesmo sua irmã Emily lhe telefonara da Austrália para perguntar se os boatos eram verdadeiros.

— Ele pode pensar o que quiser, mas não houve absolutamente nada impróprio no meu relacionamento com Lewis. — declarou Evie. — Ele era inválido, pelo amor de Deus. Empregou-me para cuidar de sua necessidades diárias. Passei a gostar dele, claro, mas isso acontece com todos os pacientes de quem cuido. Cuidar de uma pessoa que tem os dias contados é muito comovente. E desde o começo percebi que Lewis Barney era uma alma solitária. Possuía riqueza, mas não saúde e felicidade.

— Bem, vamos esperar que Peter Barney entenda sua situação. — disse Olivia. — Enquanto isso, você continua morando na mansão?

— Sim. — replicou Evie. — Eu não sabia mais o que fazer. Os empregados tiraram férias, e eu não queria abandonar o lugar até ouvir sobre o filho dele. Tenho procurado por uma acomodação alternativa, mas sem sorte até agora.

— Percebe que Peter Barney vai perder muito dinheiro se você não concordar com os termos, não é — perguntou Olivia.-Embora ele possa não precisar, ainda seria sábio se você pensasse antes de tomar uma decisão final, tanto para o bem dele quanto para o seu próprio.

Evie suspirou.

— Entendo que é uma situação difícil para ele... Mas não tenho certeza se posso concordar com isso. Não parece... Certo. — após uma pausa, ela acrescentou: — Você mencionou que o casamento tem de durar um ano. Há alguma forma de negociar esse tempo?

— Lamento, mas não há. Todavia, como falei, para cada ano que você permanecer casada, receberá uma pensão. — Olivia estendeu o braço sobre a mesa e oferece a mão. — Seja qual for sua decisão, espero que tudo dê certo, srta. Elliot. Sr. Peter obviamente gostava de você. Imagino que ele não tenha sido uma pessoa fácil, uma vez que houve tantas tragédias na família. A esposa morreu quando os filhos eram pequenos, e como se isso não bastasse, o mais novo dos dois meninos, Theo, morreu num acidente trágico quando tinha oito anos. Com o passar do tempo, sr. Peter se tornou amargo e solitário, para não dizer terrivelmente teimoso.

— Sim, ele era muito teimoso. — concordou Evie. — Mas se tornou doce e suave no final. Eu realmente gostava de Lewis.

— Talvez o filho dele se torne o marido perfeito. — murmurou a advogada com um sorriso. — Não seria o primeiro casamento de conveniência transformado em algo totalmente distinto.

Evie saiu do escritório da advogada com um sorriso tenso e se dirigiu aos elevadores, e durante toda a descida para o térreo sentiu um desconforto no estômago, como se centenas de traças estivessem freneticamente procurando por uma saída.