Capítulo 9

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A SECA QUE ENGOLE OS CONFORTÁVEIS

Depois de tentar , por inúmeros meios, ajuntar uns metais e fazer capital sonhando quem sabe , " estabilizar " acabei por perder até o pouco que tinha...no entanto sem jamais perder o norte, a gente começa a compreender um modo menos sofrido de avançar nesse mundo de batalhas dos egos...

Quando se está na miséria material, feliz daquele que herda dos pais a riqueza da fé, a facilidade em acreditar que se pode viver dignamente com o mínimo...quando se vive as circunstancias mais pobres somos fustigados pelas ondas de revanche, de ódio , de inveja, de querer simplesmente colocar a culpa no sistema, no poder constituído. Assim, nos acomodamos lavando as mãos e apontando o dedo para aqueles que retem tudo e não nos permite ao menos comer de suas migalhas...

Depois de viver alguns anos em Atibaia e ter sobrevivido diante de alguns problemas até financeiros, resolvemos regressar para Mairiporã já que por aqui o aluguel estava mais em conta...mas deixei clientes conquistados em Atibaia que vez ou outra me chamavam para atende-los: criação de logotipos, projetos de campanha varejista para supermercados, projetos para fachadas de lojas, decoração de casas de shows etc...

mas deixei clientes conquistados em Atibaia que vez ou outra me chamavam para atende-los: criação de logotipos, projetos de campanha varejista para supermercados, projetos para fachadas de lojas, decoração de casas de shows etc

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Houve nessa época um tempo de vacas magras...minha esposa adquiriu câncer de seio, tive que parar de trabalhar e estar mais ao seu lado...ela cozinhava salgados e eu saía vende-los para pagarmos a consulta de médico particular, pois se fosse tudo pelo sus teríamos que aguardar vagas...e foi nessa época que me ligaram da cidade de Atibaia: " Sr. Neri , um cliente seu nos deu seu número de celular, você trabalha ainda com pinturas artísticas? " - " Sim, se compensar, pois estou passando por uma fase especial, mas do que se trata?" -" Temos uma casa de shows e gostaríamos que você fizesse algumas decorações por aqui, como as que você fez no " Xamego Danças " e no " Morango e Jerimum "...

Combinamos que eu iria visitá-los no outro dia. A Vera ficou feliz pois poderia descansar uma semana enquanto eu trabalhava em Atibaia. No outro dia eu estava apertando a campainha da casa de shows...quando fui atendido percebi que era uma zona de prostituição. Entrei. Um casal me atendeu explicando que desejavam deixar a casa com melhor aparência. Verifiquei o que esperavam de meu trabalho...teria que pintar só anatomias humanas..Uma semana de trabalho bem puxado e o que iria receber valia a pena...Nessa época eu já havia passado pelo primeiro, segundo e terceiro " quebra cara ", estava despido de preconceitos, importava-me sim cuidar de minha esposa e filhos....mas mesmo assim eu me questionava: " Senhor que queres que eu faça? "...anos atrás eu havia pintado a 'Anunciação " e dias atrás havia pintado o céu no teto de uma capela e agora eu estaria pintando numa zona?...eu tentava fugir mas a resposta que me vinha através das orações era: ' vá! ". Teria que evitar de dizer a verdade pra Vera. Foi o que fiz. Trabalhei uma semana e a cada dia que passava fui conhecendo as mulheres e as amando do fundo do coração. Elas desciam de seus quartos as onze horas para o café da manhã, eram jovens e mulheres já maduras, algumas me provocavam outras pareciam interessar-se pelo trabalho que estava saindo melhor do que eu poderia imaginar...mas enquanto estava trabalhando e conversando com elas fui conhecendo outro lado da moeda...Cada uma com uma história até que na quarta feira veio uma já com seus trinta e cinco anos e começamos a conversar...os donos da casa foram buscá-la na Capital e disseram que Atibaia era onde se podia ganhar muito. Ela estava toda cheia de esperanças pois planejava deixar essa vida brevemente." Isso não é vida, não, meu senhor!" - " Mas porque você está aqui? Porque não procura um outro emprego? " A mulher abaixou a cabeça e vi lágrimas em seus olhos: " Voce acha que não faço isso em todas as semanas? Tenho filhos lá em São Paulo, sou mãe de família, não tenho marido, ele me abandonou..." Essa e outras passavam por ali e deixava um dedo de prosa...

QUEBRANDO A CARAWhere stories live. Discover now