Doss

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Santa Bárbara,

Segunda, Dia 10 de Agosto de 2015.

Escola Easthood.

O ano letivo iniciava-se definitivamente agora, o nervosismo e a ansiedade a vetaram de ter uma boa noite de sono, como sempre. Sua colega de quarto não aparecera, então deduziu que a mesma talvez chegasse durante o período das aulas.

Acordou-se cedo demais, seus olhos eram involuntariamente esfregados pelos dedos finos e pálidos; em seu rosto, havia olheiras profundas adornando com negritude aquela área, juntamente às bolsas que acompanhavam a tão familiar escuridão debaixo dos olhos. Ela não possuía os artifícios normais que uma garota recorreria para escondê-las, a única coisa que possuía de maquiagem era um brilho labial — que usava com pouca frequência, na verdade —, inclusive o guardava no fundo da gaveta de roupas íntimas, para apenas usá-lo em casos extremos, como o ressecamento dos lábios, rachaduras, ou algo do gênero.

Ela não gostava de usar, Anny sempre lhe recomendara usar pelo menos um pouco das suas quando quisesse, apesar de sempre salientar o quanto seu rosto era bonito. Blue sempre negava com um gesto corpóreo, não possuía os atributos necessários para preencher os parâmetros impostos pela sociedade, mesmo que usasse dos milagres propostos pela maquiagem.

Após vestir o uniforme, ajeitar a saia em seu corpo — que parecia ter encolhido, ou algo assim —, alinhar os fios, ora claro, ora escuros, de cabelo em uma trança, longos, colocados delicadamente sobre o ombro esquerdo, ela inspirou e expirou, preparando-se mental e psicologicamente para mais um ano, que ela esperava ser mais agradável. Estava determinada a 'tentar' seguir os conselhos e recomendações da mãe, ela precisava esquecer seus demônios internos.

Blue, a princípio, pressupôs que a mulher pudesse estar blefando, pensando demais, entretanto, lá no fundo, a garotinha acreditava que talvez fossem sinais de mudança — mesmo satisfeita com a vida que levava.

E mudanças significavam — ela presumiu — que sua vida talvez pudesse melhorar.

Na conversa que teve com a mãe, no carro, ela pôde respirar regularmente, sem se preocupar em transparecer qualquer coisa que não fosse verídica, ela gostou de saber que a mãe confiava nela. Várias vezes ela usou desta efetiva artimanha [sorrir] para satisfazer os pais, não porque admitia estar descontente com alguma coisa, ela só não gostaria de ser motivo de uma discussão, a pequena sempre prezou por manter a postura em frente aos seus pais — mas não mentia que quando deitava sua cabeça em um travesseiro, não chorasse pelos mesmos "motivos bobos" de sempre. Ela os amava, amava-os como nunca amou ninguém em sua vida, era o sentimento mais verdadeiro que tinha, é que... Às vezes, as coisas pareciam tão injustas, até mesmo para ela que permanecia complacente.

— Blue Wright? — uma voz doce e aguda soou atrás de si e, automaticamente, um susto lhe despertou, coagindo-a a levar sua mão até o peito, em busca de cessar as batidas que se desconcertaram com o surgimento repentino da voz.

Ligeiramente, pela visão periférica e em frente ao espelho, pelo reflexo pôde notar tratar-se de uma garota com um pequeno sorriso em seus traços joviais e semelhantes ao de uma singela boneca de cabelos exoticamente coloridos.

— Sou sua colega de quarto, Lucy. — Blue, hesitantemente, aproximou-se para apertar a mão da moça, entretanto fora surpreendida por seus braços em volta de si, abraçando-a com uma incomum ternura; Blue tentou retribuir o gesto com o mesmo entusiasmo, embora da maneira que podia não parecesse nem meramente semelhante ao de Lucy, o abraço não deixava de ser "reconfortante" para ambas, de uma forma estranha — Blue poucas vezes sentiu-se tão acolhida quanto naquele abraço.

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⏰ Last updated: Sep 24, 2016 ⏰

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