Transgress

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Santa Bárbara,

Agosto de 2015.

Todos indagavam (inclusive frequentemente Anny, sua melhor amiga), o motivo de obedecer tão injustamente às ordens entoadas de sua família... Entretanto, ela nunca soube como respondê-los com palavras precisas, nunca soube qual forma especificaria que não se passava de proteção, enfim, como se expressar mediante as especulações recorrentes. Mas, internamente surgia consideração, respeito, gratidão... Eles eram a sua família. Não era assim que os adolescentes deveriam agir ante a sua família?

Ela nunca se viu sem eles, sem o apoio que eles forneciam, embora entendesse que um dia não estaria mais próxima a eles. Respeito? Amor? Hierarquia... Talvez? Pensando por um lado, quase todos os alunos de sua escola ou eram jovens emancipados, ou simplesmente não ligavam para suas famílias, não se preocupavam com regras, limitações e restrições. Ela sempre achou algo triste, constatava que, às vezes, ter alguém ao seu lado é sempre um bom pilar para prosseguir, evoluir, ter sustentabilidade, ao menos até obter capacidade suficiente para continuar sozinho, talvez pudesse dizer isso da próxima vez que alguém questionasse seu comportamento.

Sua escola, onde cursou todo o ensino fundamental e agora o último ano do ensino médio, mais precisamente uma instituição particular, obviamente havia as pessoas as quais lhe inquiriam descaradamente o motivo sobre o sistema imutável que "ela" regia sua vida — mesmo que não conhecesse nenhum dos interpeladores, nem mesmo casualmente, nem sequer um mero comprimento, eles tinham a curiosidade e a necessidade de saber —, ela educadamente os respondia monossilábica e pragmaticamente, a fim de não alimentar mais um assunto que julgava dispensável como aquele, porém, apenas uma palavra mal proferida, era o suficiente para desencadear uma série de comentários ofensivos e abusivos por parte dos colegas. Ela só gostaria de compreender como e por que aquelas pessoas sabiam a vida que ela levava. E por que eram tão curiosos quanto a isso?

À companhia de seu pai, ela comia silenciosamente, todavia irrequieta, e ele sorvia de uma caneca de café extraforte. Era inegável, ela amava a bebida quente. Porém, seus pais sempre replicaram que não era saudável para uma jovem em crescimento, e o quão prejudicial poderia ser a bebida aparentemente inofensiva para sua saúde; nunca julgara seus conselhos, era melhor segui-los. Mas, na verdade, apenas uma vez, bebeu um pouco. O gosto do líquido lúgubre era tão bom quanto refrigerante nos fins de semana, ou tão bom quanto obras literárias aos sábados. Ela gostava, apreciava a temperatura e o gosto amargo que reunia um compilado gostoso e autêntico de sabores em sua boca, mas era inadmissível que bebesse sem o consentimento de seus pais, por isso, a partir daquele dia, aprendeu com seu pequeno erro infantil, a relutantemente esquecer-se do sabor apreciável daquela bebida quente, que seu paladar tanto imediatamente gostara.

Especialmente hoje, ela encontrava-se um tanto inquieta. O motivo de seu alvoroço externo e, evidentemente, interno, era o primeiro dia de aula, na mesma escola em que estudava desde o ensino fundamental que, entretanto, sempre a enervava, porque não trazia reminiscências aprazíveis. Em agosto, seus nervos ficavam à flor da pele, como em todos os anos, o que condizia ao tique de remexer suar pernas para lá e para cá debaixo da mesa, já que seus pés não encostavam ao chão, e, de quando em quando, suspirar ou resfolegar nervosamente.

Os olhos repreensores de seu pai, ocasionalmente, não estavam ali para censurá-la de tal ato, ele reconhecia sua ansiedade. Mas um coquetel de ansiolíticos seria de extrema e efetiva eficácia naquele momento (rá, rá).

— Está ansiosa demais, Blue. — o timbre jocoso se sobressaiu em sua fala, ouvir sua observação sem repreensões fora como respirar mais tranquilamente depois de perceber que ele não lhe chamara a atenção por algo tão instintivamente dela; ela encolheu-se por dentro, no entanto.

FlamesWhere stories live. Discover now