Capítulo 1

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Minha mãe sempre quis uma família grande, por isso, não foi muita surpresa quando ela disse que queria se casar de novo. Ela começou a namorar uns dois ou três anos atrás. Não foram tantos assim, pois, como ela dizia, não tinha muito tempo pra isso. Mas até pela internet ela tentou.

No início foi difícil de lidar com os namorados dela, sério, às vezes parecia que ela competia pra arranjar um pior do que o anterior. Teve um que ainda estava na faculdade, não deveria ser nem sete anos mais velho do que eu, e o babaca ainda falava comigo como se eu fosse criança. Por sorte, esses namorados não duravam mais de dois encontros.

De fato, o único que durou mais tempo foi o Elias. Eles se conheceram, por incrível que pareça, numa fila para pagar algo numa loja, não lembro bem dos detalhes apesar da minha mãe ter me contado umas cem vezes. Acho que depois da segunda vez, passei a ouvir sem escutar, abstraindo parte da conversa. De qualquer forma, os dois chegaram ao mesmo tempo e só então notaram a presença do outro. Eles pararam, trocando olhares sem graça e insistindo para que lhe passassem a frente. Deve ter sido uma cena meio engraçada e ao mesmo tempo comum.

Por fim, minha mãe cedeu, sorriu e entrou na frente dele na fila. E poderia ter acabado ali, só que isso não aconteceu. Os atendentes estavam demorando e, para passar o tempo, Elias se inclinou para frente e comentou como seus olhos eram bonitos. Dá pra acreditar? Essa deve ser a cantada mais antiga do mundo, logo depois daquela "parece um anjo que caiu do céu" ou "você é um colírio para os olhos". Mas acabou dando certo, fez a minha mãe rir, bastante. Depois, para complementar, ele admitiu que só falou aquilo por não ver aliança no dedo dela. Não preciso dizer que ela ficou totalmente lisonjeada.

Mesmo após pagarem o que precisavam, continuaram conversando por bastante tempo, e, no fim, quando tiveram que se separar, trocaram telefones. Ao se virarem, ele ligou para ela só para garantir que o telefone estava mesmo certo e não era qualquer número que ela tivesse inventado na hora. Admito, ele foi uma graça. Naquele final de semana, os dois saíram para seu primeiro encontro.

Só vi o Elias uma ou duas vezes e me pareceu ser bem gentil e amigável, e o mais incrível foi que, quase três meses depois de sair com a minha mãe, ele a pediu em casamento. Quando ela falou isso a primeira vez, achei até que estivesse brincando. Demorou para entender que falavam a sério. Minha mãe mencionou algo sobre estar ficando mais velha e, tanto ela quanto ele, não queriam mais perder tempo. Até aí, tudo bem, só me assustei quando ela disse que ele tinha um filho de um casamento anterior.

Se ele fosse como o pestinha do meu irmão, não sei se sobreviveria por muito tempo. Mas logo depois me acalmei ao lembrar de que não tinha como o filho dele ser tão ruim ou pior do que o Miguel, então, eu estava vacinada contra isso. Segundo minha mãe, o filho dele parecia ser um bom garoto e mais ou menos da minha idade estudando no mesmo colégio que eu.

Fiquei um pouco aliviada. A única pessoa que se encaixa nessa faixa etária que eu realmente não suporto é o Brian, um colega de sala desde que me lembro. E desde aquela época ele vem me perturbando absurdamente. Mas claro, quais seriam as chances disso acontecer? É engraçado só de pensar.

Brian é um garoto imaturo, mimado e, muitas vezes, patético. Nada a ver com o Elias. Mas os dois tem uma coisa em comum, digo, o Brian e o misterioso filho do noivo da minha mãe. Ambos tem nomes com iniciais B, só que, pelo o que ela me falou, ele se chama Bruno. Sei que tem um Bruno na escola, talvez um ou dois anos mais novo do que eu. Nunca sequer troquei mais de três palavras com ele, nada além de "bom dia", entretanto, ele parece ser um garoto legal, só espero não estar enganada pela aparência de menino comportado dele. Só que o Brian não tem cara de ser um bom garoto como minha mãe o descreveu.

Um Ano Com Você {Degustação}Where stories live. Discover now