Nos mudamos quase três semanas depois. Durante todo esse tempo, minha mãe conseguiu tirar férias no trabalho e passou muito do tempo livre dela na nova casa, decorando com a filha de alguma colega que trabalha como designer de interiores. Enquanto isso, eu e meu irmão empacotávamos tudo o que víamos pela frente, e aproveitei para vender alguns livros antigos e decidi também doar algumas roupas velhas. Para nossa nova moradia, trocamos quase todos os móveis, uma completa decoração nova, aproveitamos apenas alguns tapetes e a mesa da sala de jantar que era nossa, além das oito cadeiras que faziam parte do conjunto.
Na semana anterior à mudança, os novos móveis foram sendo colocados na casa. E tanto eu quanto Miguel e Brian acompanhamos a escolha das novas respectivas mobílias e suas melhores localizações nos quartos. Desse jeito, ao menos, só teríamos de transportar nossos pertences.
No dia marcado, acordei bem cedo pela manhã, na verdade, eu mal consegui dormir, despedindo-me do apartamento onde vivi desde que cheguei nessa cidade quando eu tinha 9 anos. E, da outra vez, foi assim também, eu não consegui dormir por causa da nostalgia que já sentia antes mesmo de me mudar. O caminhão da transportadora chegou no horário combinado e os homens levaram todas as caixas de papelão lacradas com fita adesiva para dentro, além dos poucos móveis que levaríamos. Provavelmente a mesma coisa acontecia no prédio de Elias e Brian naquela hora.
Com o caminhão cheio e a casa vazia, olhei pela última vez para o segundo lugar que aprendi a chamar de lar e seguimos para nossa nova residência. E assim que chegamos lá, foi a vez de esvaziar o automóvel. O transporte com o namorado de minha mãe e seu filho chegou dez minutos depois da gente.
Fui inteligente o suficiente para identificar as minhas caixas, sendo assim, comecei a pegar aquelas que tinham meu nome, as que não pareciam pesadas, deixando essas para os carregadores, e os orientando onde colocá-las. Peguei uma delas e comecei a levá-la para dentro da casa, assim como todo mundo. Entretanto, não esperava que fosse tão difícil, talvez fosse o fato de ter vários livros, e eles pesarem bastante, bem mais do que pensei. Quando passei pela porta de entrada, vi Brian descendo de mãos vazias e ver o quanto eu estava me esforçando para levar o que eu tinha em mãos. Ele deu um meio sorriso sarcástico e me olhou de cima abaixo.
- Quer ajuda?
- De você? Não, obrigada. Estou bem.
- Não é o que parece.
Ironicamente, nesse momento, meus dedos começaram a ceder devido ao peso. Ele ao menos serviu para me ajudar e não deixar a minha caixa cair no chão, pegando o objeto pesado em suas mãos com convencida facilidade.
- Pode deixar que eu levo essa pra você. Procure uma mais leve.
Rolei os olhos, irritada. Como ele é metido! Dei meia volta e peguei uma das caixas menores e mais leves. Tudo bem, ele pode ficar com a força física, eu prefiro ficar com o meu cérebro mais desenvolvido. Virei jogando a cabelo preso num rabo de cavalo.
- Querido, cuidado, desse jeito suas costas não vão aguentar.
Ouvi a voz de minha mãe e, curiosa, olhei na direção dela. Vi Elias carregado dois caixotes de papelão de uma vez. Ela correu pra dividir o fardo dele. Não sei o que ele tinha na cabeça pra fazer isso, mesmo assim, foi um gesto simplório que mostrava o quanto a minha mãe se importava.
Parte de mim queria muito poder lutar mais e ser contra essa união, contudo, vendo momentos como esse, a pequena vontade de separá-los diminuía consideravelmente. Mesmo não gostando de ter de viver com Brian agora, não queria tirar a felicidade que ela merecia.
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Um Ano Com Você {Degustação}
RomanceMelanie é introspectiva, pensa bem antes de falar, e tem amigos que são unha e carne com ela. Brian é extrovertido, fala o que pensa, e é amigo de toda a escola. Mesmo se conhecendo desde crianças, eles não têm muito em comum, exceto pela casa onde...