Indiferença

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Não quero mais saber sobre as notícias do mundo. Não estou mais me importando com as manchetes deturpadoras, com as mudanças no clima, com a água que vai acabar, com a crise econômica mundial ou ataque terrorista. Estou saturado de ver as pessoas apenas fazendo alarde, paradas, brilhando como estatuetas, quando poderiam fazer história. "Ah, mas aconteceu do outro lado do mundo". Pare com isso! Terrorismo acontece o tempo todo na sua porta e você não nota. O bem que faz é sempre por sua própria glória sustentada a míseros aplausos.

Não sei de outras épocas, mas nesta a cegueira branca de Saramago já deixou há muito tempo de ser ficção. Poucos são os que realmente querem fazer e fazem alguma coisa para melhorar a vida em comunidade e o fazem de coração. É isso! Vamos admitir, o coletivo é mais importante, no entanto, neste lugar de ninguém o que manda é o individual. A personalização de tudo. A satisfação do ego a qualquer custo. Tragam-lhe oferendas, sombra, água termal e suco gelado!

Cruzei meus braços. Parece que o mundo está me vencendo e com muito pesar estou me rendendo a uma vida de indiferença. Voltei a atenção para mim. Vou cuidar dos meus conflitos interiores e filtrar essa poça de lama que derramam todos os dias sobre meu eu estrangulado.

Informação demais machuca, dá desespero e enrosco no cérebro. O corpo não está dando conta do processo. É gente com depressão daqui, gente com depressão dali e hora ou outra uma crise de ansiedade, de pânico, estresse, desespero. Não. Não. Não. Em mim não. A partir de agora vou jogar fora toda essa porcaria, esse negócio de 10 maneiras disso, 4 daquilo e 17 de outro jeito.

Vou me alienar. Procurar o meu sossego. Ficar encostado na porta e ver o sol se por na espreita em sua paleta insana de cores quentes se dispersando até a chegada da nova, cheia, minguante, crescente. Deixar de ligar a TV na novela pesada e redundante. Vou ler o Guia do Mochileiro, ao invés de jornal. Vou rir da vida ao invés de rir dos vídeos do youtube. Vou colocar o balde na chuva para lavar meu quintal. Ligar para um amigo distante ao invés de curtir na rede social, vou ser assim mesmo. Fora da caixinha, longe desse planeta bichado, dessa vida gourmetizada, fit, padronizada, instantânea e mecanicamente processada.

Se quiser saber notícias, vou falar sobre o que acho da importância das constelações para os povos antigos, de como era admirável a sabedoria deles. Vou falar da relação que vejo entre os mitos e ouvir uma opinião diferente para tentar encaixá-la na minha lógica científica. Vou falar do amor como promessa bíblica. Da importância das palavras. De como são lindas nos textos literários. Vou fazer piada de duplo sentido, que não tem a mínima graça e por isso é tão engraçada. Vou falar sobre tantas coisas chatas, eu sei, mas você só fala que o outro não presta e que faz coisas erradas e que tem inveja.

Só me enche de tédio e silêncio. Também falo sobre o tempo, mas não quero perder tempo, prefiro ficar desse jeito mesmo, sem assunto.

Rasguei meus contratos. Quero ser alguém de fato e ninguém precisa saber. Com o propósito de uma vida honestamente vivida. Como deve ser. Sem vergonha de ser essência, sem me esconder em buracos, esquinas, imagens. Quem se importa? Comigo vai ser o que tiver que acontecer.

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⏰ Última atualização: Jan 24, 2019 ⏰

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