Capítulo 6 #UmEfeitoCalmanteOquartoDosSonhosLivros

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- De onde vocês vieram? - pergunta AngelLee.

- Estados Unidos - responde Sam.

- E aonde vocês aprenderam a brigar daquele jeito? - quer saber ela.

- Nosso pai - responde Sam - Para ele não eram apenas técnicas de luta, eram uma filosofia de vida.

- Eram?

- Ele faleceu - afirma Jéfrey - Em uma luta. O oponente dele errou um golpe. Foi fatal.

- Eu sinto muito - AngelLee diz se sentindo muito mal por ter perguntado.

- A minha teoria é de que foi proposital! - afirma Kürt.

- Outra vez essa história, Kürt? - indaga Sam - Foi um acidente.

- Um acidente que aquele assassino desgraçado provocou!

- Você deveria ter mais cuidado com o que fala. Não foi provado nada contra o cara - interrompe Jéfrey.

- Todos sabiam que aquele cara e o nosso pai não eram só oponentes em campeonatos, eles eram oponentes o tempo todo! Mas ao contrário do nosso pai, aquele cara usava as técnicas para fazer o mal, e ele fez o pior mal que um ser humano poderia fazer. Ele nos deixou sem um pai!!! - Kürt jogou o sanduiche na bandeja, encarando Sam.

- Ei... - diz AngelLee.

Kürt se surpreende ao sentir o toque delicado na mão dele, ao olhar para a garota, ele sente a ira se dissipar, profunda é a doçura presente no olhar dela.

- Sinto muito, muito mesmo em ter tocado no assunto. Eu nunca deveria ter sido tão indiscreta. Eu entendo e conheço a sua dor, eu também perdi o meu pai. Há coisas que podemos passar a vida toda procurando as respostas e nunca as encontraremos, sabe por quê? Por que não há respostas... Vida e morte, duas incógnitas.

Kürt fica cabisbaixo, e ela sussurra no ouvido dele.

- Não olhe para o seu irmão como se ele fosse o culpado. Ele não é. Ninguém é.

Ele a encara, e faz uma leve menção positiva com a cabeça.

- Experimente esse - ela entrega a ele o próprio sanduíche - Está muito bom!

- Obrigado - é visível que ele está mesmo agradecido.

Sam e Jéfrey entreolham-se, eles percebem que a garota nova exerce um forte efeito calmante sobre o gênio indomável do irmão, e isso, é inédito, ao menos no caso de Kürt.

*** - E esse... - fala Sam - é o seu quarto!

- Ohminhanossa!!!!

- Isso quer dizer que você gostou? - indaga Jéfrey.

- Se eu gostei? Eu amei! - ela responde entusiasmada.

As paredes do quarto possuem duas tonalidades de rosa, a cama de casal envolvida em uma colcha de cetim é um convite ao descanso. Há duas mesas de cabeceira, ambas com abajur. No canto do quarto, há uma escrivaninha com um computador e uma poltrona. Um guarda roupas, TV, e então, os olhos de AngelLee encontram o que há de mais belo e encantador no quarto... Prateleiras fixadas à parede recheadas de livros, de diversos tamanhos, cores e conteúdo, inúmeros autores, cada qual, com um segredo a ser revelado. O olhar de AngelLee se ilumina, um sorriso se forma nos lábios dela. É o quarto dos sonhos.

*** AngelLee se une a Kürt na sala. Ele não parece gostar de conversar... E nem de interpretar textos.

- Eu não sei como conseguem encontrar tantas respostas em um texto tão pequeno! - reclama Kürt.

- Por isso chama-se interpretação - afirma AngelLee.

- Isso é perda de tempo! Quando eu vou usar isso?

- O tempo todo. A começar pelas provas no Colégio. Há também os concursos, entrevistas de emprego, a leitura de um livro, desde o mais simples ao mais complexo.

- Não pretendo ler nenhum livro complexo, na verdade, não pretendo ler livro algum.

- Ler para que, não é? Você não precisa de leitura. Seu nível de interpretação é tão elevado que essas simples questões em que você está encalhado insultam a sua inteligência.

- Engraçadinha! E eu não estou encalhado, só estou... Pensando.

- Encontre a palavra-chave, é o que tornará claro o sentido da pergunta.

- Se eu soubesse, eu já teria respondido, não acha?

- Mas que doce.

- Você acha?

- Não. Mas também não acho que seja tudo o que falam sobre você.

- E o que falam sobre mim?

- Que você é um grande cretino arrogante e orgulhoso, que sofre de uma séria síndrome de superioridade, e é um completo babaca pretensioso metido a besta.

- Você tem muita coragem.

- Devo me sentir honrada?

- Sorte sua ser uma garota.

- Por quê? Se eu não fosse uma garota você me mostraria o quanto estão certas as pessoas lá fora? Pessoas que deturpam o seu caráter sem conhecê-lo?

- E o que te faz pensar que não sou o que dizem? Você também não me conhece.

- Se você for o que dizem, prefiro continuar sem conhecer.


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