Capítulo 01 - O Início de uma jornada

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Era uma noite aparentemente normal para os moradores de Sentene, o vento assoviava pelos becos e corria por suas ruas desertas, fazendo ressoar a calmaria. A lua brilhava através de um céu nublado. A brisa noturna deslizava sobre todas as árvores e casas e a quietude tomara todo o lugar. E, como todo bom Ezoriano, que tem conhecimento mínimo saberia, calmaria demais na maioria das vezes não significava coisas boas. Naquela escuridão e silêncio, uma forma se estabelecia entre as árvores e tomava a direção da vila. Nenhum morador estava acordado a essa hora, e caso estivesse, não sentiria prazer de estar.

Desdobrando-se pelos cantos escuros, uma forma nebulosa andava pelas ruas, trazendo consigo uma noite congelante com o ar rarefeito, e apenas uns poucos feixes de luz das estrelas e da lua transpassavam por entre as nuvens. Adiante havia uma pequena luminária, no que aquela cidadezinha do fim do mundo poderia chamar de praça, com uma luz fraca de uma vela que lutava para não se apagar. O vulto parou sobre a fraca claridade da luminária e olhou ao seu redor, sem pressa, porém mantinha uma respiração ofegante. A forma fitara algo, e repentinamente acabara mudando seu rumo. O que parecia ser o seu rosto, encarava uma loja comum. Uma placa de madeira, meio torta na parede e agredida pelas forças do tempo, debatia-se sob o ataque alternado do vento. Talhadas em sua estrutura, podiam-se identificar letras e ler, com certa dificuldade, "Distribuidora de Extralípidos". 

O vulto avançou, dirigindo-se aos fundos da loja. Uma porta vermelha adornada com uma sineta, usado para controlar a entrada e a saída de clientes da loja, chamou sua atenção por um breve instante. Da sombra, então, revelou-se o que parecia ser uma mão humana, e enfiou-a entre os panos que aparentemente lhe cobriam o corpo, fazendo-a desaparecer por segundos, até que voltasse com uma enorme cesta alçada por um punho cerrado. Qualquer homem de bom senso que visse a cena, afirmaria, com certeza, que uma cesta daquele tamanho não poderia caber em qualquer parte daquele estranho ser. O corpo sombrio não parou por aí, voltou a enfiar a mão sob suas vestes e tirou desta vez, uma caixa de cor negra. Quando a colocou no chão, o vulto bateu na porta e deslizou para trás, até um ponto em que se misturasse à escuridão o máximo possível e ali permaneceu, vigiando. 

Uma mulher robusta, ladeada por cabelos avermelhados, abriu a porta e, a poucos metros de seus pés descalços, viu a cesta. Aproximando-se, olhou melhor, percebeu duas crianças, uma com aparência de um ano e outra recém- nascida. Sem saber o que fazer, a senhora, desnorteada pelo sono e pela escuridão, cruzou os braços, nervosa, apertando-os sobre o corpo e procurando alguém nos arredores. Não percebeu o que a espreitava oculto nas sombras. Tomando coragem, respirou fundo, olhou com pena para as crianças, pegou a cesta com ternura e a levou para dentro, protegendo-a do vento e do frio. A sombra se dissolveu na escuridão.

— Acorde!

Jack passara boa parte da noite sem dormir, estava empolgado demais para esse dia, ele remexia nos cabelos castanhos sem parar, tocar no seu moicano o acalmava, porém ele continuava agitado. Apesar disso, quando já era quase de manhã, adormeceu.

— Acorde! Qual é o seu poder? Anda, qual é o poder que sempre imaginou? Está na hora de mostrar o seu poder! – Quando os primeiros raios de sol ascendiam ao longe, o irmão de Jack o acordou, enchendo-lhe de perguntas.

Jack abriu seus olhos castanhos escuros por um segundo e voltou a fechá-los.

— Você já sabe, sou um Fusionário, me deixa dormir.

— Sim, eu sei. Mas lembra do porquê de eu estar perguntando?

— Calma, Forges, você já falou um milhão de vezes, é a apresentação básica nas cidades planejadas.

— Sim –, Disse Forges – por ordem do rei, todos os Ezorianos têm uma classificação de acordo com o poder. Quais são?

— Sério isso? – Jack levantou a cabeça – Não, eu vou dormir. Me acorde em uma hora.

As Crônicas de Ezorion - A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora