Capítulo 1
Há dois dias ela estava dentro daquele quarto, andava de um lado a outro, palavras desconexas saiam de sua boca, suas mãos produziam gestos aleatórios, como se estivesse falando com alguém. De vez em quando distribuía tapas em seus próprios ouvidos, como se eles pudessem ser desligados.
Seus longos cabelos castanhos estavam embaraçados, sujos e sem brilho, gotas de suor escorriam por sua pele morena. Os olhos que na maioria das vezes lembravam a um astuto felino estavam vidrados e direcionados ao nada, procurando enxergar algo que ninguém mais via. Olhava tudo ao mesmo tempo em que não via nada. Muitas vezes pegava um lápis e fazia rabiscos indecifráveis, outros andavam e círculos falando com ela mesma.
Nesse momento estava sentada a um canto do quarto, joelhos encolhidos, a cabeça entre eles, balançava-se como se o equilíbrio já não mais existisse em sua vida.
Layla Salassya, uma das mais brilhantes mentes dos últimos tempos, estava em crise novamente.
Com o diagnóstico de esquizofrenia aos doze anos, há muito havia deixado as consultas e terapia, como os medicamentos exerciam efeitos colaterais terríveis essa só os tomava em momentos drásticos.
Nicole sua amiga de infância, a única a quem ela podia recorrer nesses momentos de profunda agonia, estava ao seu lado, ajudava como podia, servindo alimento, água, lembrando-se de ir ao banheiro, ou apenas fazendo companhia nos momentos de lucidez.
— Layla? Quem está com você? “Meio dia”? “Oito horas”? — Perguntou em tom tranquilizador, muitas vezes falar sobre o assunto era o único modo de distrai-la.
E Nicole como única confidente da amiga, sabia o nome da maioria das alucinações que a acompanhavam.
Ficaram separadas por um curto espaço de anos quando a mãe de Nicole falecera e ela foi morar com seu tio e depois nas ruas, Layla foi submetida a todo tipo de tratamento, de internações, padres, curandeiros e exorcistas, qualquer maluco que seu pai achasse que poderia curá-la.
Mas mesmo entre crises Layla era um gênio da informática, fez uma pequena fortuna criando softwares e vendendo para um grande site de busca internacional, infelizmente todo dinheiro foi embolsado por seu pai, que a declarou incapaz mentalmente para cuidar dos próprios bens.
Cansada do domínio paternal Layla fugiu, inventou uma nova identidade, um novo emprego e foi procurar Nicole que a essa altura estava morando em um abrigo junto a seus irmãos gêmeos.
Como uma mão lava a outra, mesmo entre amigos, Layla pagava uma ajuda de custo para Nicole cuidar de seus negócios assim como cuidar de sua saúde quando estava nesses momentos. Sempre quis pagar mais e Nicole nunca aceitou. Cuidar da amiga em tempos como esse nunca foi um trabalho, fazia porque a amava como a uma irmã, e logo ela faria vinte e um anos e não poderia mais viver no abrigo, como não tinha para onde ir, ficaria com Layla o que já era um favor sem preço.
Ela podia lidar com a maioria das alucinações de Layla, conhecia quase todas. Algumas vinham desde a infância em forma de vozes, como “Meio Dia” e “Número Oito”, que costumavam dar bons conselhos e ideias. Já “Meia noite” e "Vinte e quatro horas”, quase sempre a levavam a histeria e autopunição, a se cortar e arranhar. Ela nunca feriu outra pessoa, seus atos de violência normalmente eram dirigidos a si própria e objetos inanimados.
Ajoelhou-se ao lado da amiga e a abraçou.
— Diga Lay, quem está ai?
— Esse é novo. — respondeu tirando uma lasca de unha com os dentes.
— E qual o nome dele? — Perguntou, fazendo uma carícia em seus cabelos?
— “Mestre”, ele espantou "Vinte e Quatro Horas”, mas agora está discutindo com “Número oito”.
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Signos de Sangue
FantasyLayla é uma mulher de vinte e dois anos, praticamente solitária, diagnosticada com esquizofrenia logo na puberdade. Atormentada por vozes que a induzem a se auto flagelar, tem como únicos amigos Malik, um ilusionista mundialmente famoso, e Nicole qu...