A menina de mechas coloridas

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Meu avô sempre dizia que se uma pessoa quer alguma coisa, devia lutar por ela até alcançar seu objetivo. Não olhe para trás e nem se atreva a cortar caminho. Era o que sempre falava. Para ele esse era o único jeito de achar felicidade na vida. Quanto mais difícil o desafio, maior seria a recompensa. Desde então, tento seguir o mesmo conceito. Quando acho algo que me atrai, eu não desisto até conseguir o que quero. Não seria daquela vez que iria fraquejar. Então é por isso que mesmo nervoso, suando frio e me sentindo mal do estômago, desci do ônibus com cabeça erguida.

Suspirei quando finalmente sai pelo portão principal da estação. E quando olhei em volta, não pude deixar escapar um sorriso de alívio, tudo estava exatamente igual ao dia da minha saída e de algum jeito aquilo era reconfortante, se a paisagem era a mesma, talvez o que havia deixado há quilômetros daquele lugar, não havia mudado tanto assim. Apertei com força o papel em minha mão e continuei andando. Meu plano era pegar um carro na ferrovia do Bill, que eu rezava para ainda estar vivo (porque por algum motivo ele sempre me deu desconto), poderia ir andando já que não era tão longe dali, e ai iria direto para cidade.

Não demorei para chegar lá. E logo que botei os pés dentro da loja, fui recebido de braços abertos pelo dono, que felizmente, mesmo depois de anos, ainda tinha saúde de ferro. Como sempre ele me deu um bom desconto e sorriu quando falou para eu ir na lanchonete ao lado enquanto ele pegava o carro perfeito para mim. O que não reclamei, já que estava morto de fome.

"Um hambúrguer com fritas, por favor" - falei sentando na cadeira em frente ao balcão. A garçonete assentiu, anotando meu pedido.

"Olha, eu daria tudo para ter aquela coisinha aqui comigo." - Um menino sentado ao meu lado, de boca aberta e baba quase caindo, encarava algo a minha esquerda, foi então que reparei que ele não era o único, outros olhavam fixamente na mesma direção, e sem pensar duas vezes seguir todos os olhares. E na mesma hora entendi o motivo deles.

Fora da lanchonete, pelo vidro transparente podíamos ver uma garota, encostada em um camaro com um sorriso malicioso no rosto falando com um motorista que devia ter o triplo de sua idade. Seu cabelo era castanho escuro com mechas coloridas espalhadas por ele, estava usando botas de couro pretas e um short curto rasgado, sua camisa cinza era folgada, que descia até os ombros mostrando parte de seu sutiã e em seu ombro carregava uma bolça de tamanho médio de alça longa, cheia de broches. Ela era linda, chamava a atenção de todos. Mas ainda assim, de longe dava para perceber que era só uma criança.

O homem com quem ela falava a olhava como se a qualquer momento fosse a devorar, o que causou na mesma hora repudia e nojo em mim. A menina era uma adolescente e o cara parecia estar nos quarenta. Mas o que mais me surpreendia, é que ela não parecia incomodada com aquilo, ao contrário quanto mais ele falava, mais perto se aproximava da janela do carro onde o homem sentava com a mão no volante. Foi ai que quando ele terminou de falar, a garota jogou a cabeça para trás e riu, aumentando o seu sorriso, o que a deixou ainda mais bela, e mesmo sem ouvi a risada, sabia que era contagiante.

Mas não foi isso que mais me chamou atenção. Quando ela se acalmou e virou seu rosto para direção da lanchonete, para a minha direção, pude ver seus olhos. Olhos castanhos, que eram familiares. De uma hora para a outra o sorriso já não me era tão estranho assim. E com uma rapidez que nem sabia que tinha, arregalei meus olhos, soltei um pequeno grito de surpresa e sair correndo da lanchonete, em direção a menina de mechas coloridas.

"Violet?!" - perguntei incrédulo, quando me aproximei do carro em que estava encostada. No momento em que ela se virou em minha direção, não tinha dúvidas, era mesmo Violet Stanwill.

Por um segundo, ela me olhou confusa e surpresa, mas aquele segundo se passou rápido, pois logo seu rosto clareou e seu sorriso lindo apareceu novamente. E mesmo naquela situação pouco agradável, não pude deixar de me sentir bem, por quer só de olha-lá, as lembranças e o sentimento de estar em casa me invadiram.

"Ethan?!" - E sem esperar por uma resposta, pulou no meu pescoço e me deu um abraço forte. Ela tinha soado tão animada e contente, que a minha única reação foi corresponde-lá, envolvendo meus dois braços em sua cintura.

"Eu não acredito!! Você está mesmo aqui, voltou para casa." - Sussurrou no meu pescoço, com a sua voz trêmula, parecendo estar segurando o choro, cheia de emoção, como se realmente estivesse feliz por me vê, o que talvez não fosse mentira, já que também me sentia alegre em sua presença. Por um momento me dediquei a fechar os olhos e esperar ela se afastar, mas então lembrei do homem no carro, que agora nos olhava com raiva e curiosidade. Eu havia estragado os seus planos, e foi me perguntando qual seria esses planos, que o ódio veio a mim e me soltei de Violet.

"O que você está fazendo aqui Violet?" - Falei, não desviando o olhar do mais velho, queria que ele visse nos meus olhos que não sairia ganhando nada dali.

"Bom...eu tava" - Começou, mas não a deixei terminar e logo lancei outra pergunta.

"Quem é esse cara?" - Exclamei alto, fazendo questão de demonstrar minha insatisfação. O que fez a garota se recompor na hora do reencontro de segundos atrás, soltar um risinho baixo e sorrir inocente.

"Ah foi mal, tinha me esquecido que você tava ai." - Ela falou em direção ao outro, estranhamente sincera. E mesmo com o fora, o homem sorriu malicioso, mostrando os dentes amarelados. - "Esse é o Jeff, eu tava pedindo uma carona de volta para cidade, não é Jeff?"

"Claro princesa, eu levo você para onde quiser, até para bem longe daqui." - E juro que depois dessa afirmação, tive que me segurar muito para não dá um soco na cara do imbecil. Como alguém da idade dele poderia ser tão nojento? Falando essas coisas para uma adolescente? Fechei os punhos com força e disse.

"Ela não precisa." - Fui curto e grosso, não tinha que dá nenhuma explicação para ele.

"Não preciso?" - Ouvir Alex perguntar. A olhei, estava com sobrancelhas levantadas, braços cruzados, e ainda com um sorriso espertinho no rosto, mesmo com a atitude, e com a sua expressão difícil, pude sentir um pingo de esperança na sua voz, o qual tentava esconder. Retribuir o seu olhar implorando com os olhos e tentando demonstrar que de um jeito ou de outro ela não iria com aquele cara para lugar nenhum. A morena pareceu entender por que abriu um sorriso encantador para ele, mas não antes de revirar os olhos para mim.

"Valeu Jeff, tá na minha hora, quem sabe a gente se vê por ai." - Se dependesse de mim, nunca mais. Ela bateu uma das mãos no capô do carro e piscou para ele, antes de ir em direção a lanchonete. Voltei a minha atenção para o tal de "Jeff", que parecia decepcionado. Me aproximei da janela.

"Ela é uma criança, toma vergonha na cara, e não se aproxima." - Simplesmente falei e sair, seguindo os passos da garota e engolindo a vontade de mandar ele ir se danar ou coisa pior. Quando entrei pela porta da lanchonete, lá estava Violet sentada na mesma cadeira que eu estava a pouco tempo atrás, encarando a entrada, comendo hambúrguer e fritas, com todos os olhares nela.

"A Katy me disse que esse era seu pedido, foi mal, tava morrendo de fome." - Sorriu de lábios fechados com um pedaço da comida na boca. - "Então, pronto para ir para casa?"

E olhando aquela garota limpando o molho do sanduíche do rosto com a mão, chamando a atenção de qualquer cara a centímetros, e com olhos vidrados em mim. Sabia que depois de todos esses anos ela tinha virado problema.

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Oi galera, tudo bem?
Esse foi o meu primeiro capítulo, estou bem nervosa, e espero que vocês tenham gostado.
Ao longo dos primeiros capítulos vão entender mais a história e o desenrolar dela.
O elenco foi o qual imaginei quando criei os personagens,  mas vocês são livres para imaginar eles como quiserem, seguindo suas características.
Me perdoem por qualquer erro de gramática!!
Um beijo grande.
(O segundo capítulo não demorará muito)

A Pregadora de PeçasOnde histórias criam vida. Descubra agora