Semanas se passaram e continuávamos amigos. A amizade mudou, mas acredito que por conta dos ciúmes descontrolados dela, não havia outra opção senão se afastar aos poucos de mim. Não foi algo brusco, como uma queda, mas uma mudança gradativa e quase imperceptível: as mensagens e ligações diminuíam, os encontros eram mais escassos ainda, até o dia em que ele sumiu: não deu sinal de vida por toda uma noite e manhã. Fiquei preocupado porque sabia que o mesmo estava pouco descontente com o namoro e na ultima mensagem recebida, vi que estava na casa de um amigo e que dormiria por lá. Quando me ligou, por volta das 13h do dia seguinte, ele não sabia explicar o que havia acontecido. Na verdade sabia, mas estava envergonhado e não queria me contar. Dias depois acabei sabendo pelo pai que Ele havia bebido bastante, ficara completamente bêbado, daqueles que se sujam e não se lembram de nada no dia seguinte e que por infortúnio do destino os pais dele acabaram indo até a casa desse amigo, talvez por mau pressentimento, e encontraram-no nesse estado. Religiosos e rigorosos como eram, acabou enfrentando sérias consequências com aquela atitude. Ao telefone ele chorava muito dizendo que a mãe dele estava decepcionada e que o pai sequer queria vê-lo. Fiquei mal por ele, mas acreditava que, naquela situação, sua namorada era a melhor opção, porém infelizmente ela adoeceu e acabou passando a semana inteira sem ir à escola. Coube a mim a responsabilidade de cuidar da depressão dele que adicionada a outros fatores, piorou e muito. Sim, ele era um garoto depressivo. Pensava em suicídio frequentemente e como era ateu, não temia a morte. Todos os dias na escola foram difíceis pra mim. Ele chorava quase sempre e nada que eu tentava fazer o agradava. Até que em um desses dias eu decidi, por tolice, presenteá-lo com um daqueles livros, que há um tempo comprara e decidira nunca dá-los. Inventei a desculpa de que o havia encontrado em uma livraria bem distante daquela que eu realmente comprara e, pelo que pareceu, ele acreditou. A felicidade que eu pensei que seria longa não durou um dia, pois mesmo com o livro que tanto desejava, ele parecia mais triste do que nunca. Restou-me aceitar que era apenas saudade da namorada e deixei o tempo passar.
Passados alguns dias, ele me veio com a notícia de que havia perdido a virgindade com ela. Mesmo eu não perguntando, fizera questão de me contar detalhes do que acontecera e foi inevitável não me sentir mal e incomodado com toda aquela situação. Fiquei realmente puto quando ele me disse que haviam feito sem proteção e que ela prometera que tinha tomado a pílula do dia seguinte. Não consegui acreditar, mas torci pra ser verdade.
Na ultima semana de aulas ela veio até mim, dizendo que sabia que fora eu o comprador dos livros e que estava enojada com tamanha falsidade da minha parte. Revidei. Mostrei minhas garras e disse que eu o amava e não estava disposto a perdê-lo sem lutar e que o que ela havia feito fora algo desnecessário e covarde. Fui tolo ao pensar que ela não lhe contaria tudo, e como eram namorados, ele acabou me chamando pra conversar e disse que não poderíamos mais ser amigos por conta do que eu havia feito à namorada dele e que indiretamente o havia atingido. Marmelada. Aceitei tudo aquilo calado, sem derramar uma gota dos litros de lágrimas que estava a fim de derramar, porém grande foi a minha surpresa ao ouvi-lo dizer baixinho, quando já caminhava em direção a ela: "me desculpe, ela está grávida".
![](https://img.wattpad.com/cover/86218920-288-k434332.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nós
Historia CortaQuando você está se descobrindo no mundo e se vê entre um garoto que você gosta e a sua melhor amiga, as escolhas que lhe são apresentadas podem mudar o futuro para sempre. (Conforme as avaliações e visualizações, postarei mais capítulos do conto.)