Ele

13 1 0
                                    

Ela ficou encantada, assim como fiquei. Empenhei-me em manter minha paixão platônica escondida e ajudar a minha amiga. Não custou muito até que o namoro dele terminou daquela forma trágica dos filmes de Sessão da Tarde. Começamos a sair juntos: Nós. Tornamo-nos um trio quase que inseparável. Até que veio o primeiro beijo deles. O segundo. O terceiro. E inevitavelmente veio o namoro.

Passou-se algum tempo até que minha presença no meio daquele namoro, mesmo sendo muito amigo de ambos, começasse a incomodar. Fui ficando de lado até chegar um ponto em que ela não aguentava mais me ver perto dele, com ciúmes da nossa amizade diferente. Paramos de nos falar, porém minha amizade com ele continuou a mesma, só que agora às escondidas. Havia muito receio da parte dele em conta-la todas as vezes que saia comigo, pois, na cabeça dela, ele também sentia atração por homens e o medo da infidelidade, ainda mais com outro homem, a dominava por completo. Conseguimos levar nossa amizade por mais alguns meses, nos encontrando na escola longe dos olhos dela e, quando ela faltava, não assistíamos a nenhuma aula, ficando o tempo todo juntos. Consequentemente minha paixão continuava descontrolada e motivada, porém nunca havendo a coragem de dizê-lo. Talvez ele soubesse.

Ele gostava muito de ler. Conversávamos muito sobre isso e ele me criticava muito por perder meu tempo lendo livros estúpidos e sem conteúdo. Entre os grandes autores que fui apresentado estavam Nietzsche, Dostoievski, Kafka, Poe, Kerouac, James Joyce etc. Meu maior prazer era presenteá-lo sempre que podia, a felicidade nos olhos dele era algo que me deixava mais feliz ainda. Esses malditos presentes causaram o maior alvoroço no nosso relacionamento. E é aqui que tudo vai por água abaixo.

Entre nossa amizade e SMS escondidos, um dia recebo a noticia de que ela havia encontrado dois livros que ele desejava muito e que lhe compraria no dia seguinte. Aquilo ficara na minha cabeça por saber que ela nunca havia dado nenhum livro a ele e que estava fazendo aquilo somente para tentar me atingir. Não me controlei. Como sabia onde ela compraria os tais livros, fui até lá e os comprei antes dela sem medo das consequências. Não custou muito até ele me ligar dizendo que eles tinham ido até a loja e não encontraram ambos os livros e me indagou se não havia sido eu o comprador dos livros. Cínico como sou, neguei da forma mais convincente possível e ele acreditou por fim. Prometi que nunca iria entregar os livros a ele. Comprara-os apenas para responder à afronta feita por aquela que um dia se disse minha amiga, mas logo chegou o dia em que, vítima de minha tolice, quebrei minha promessa.


NósOnde histórias criam vida. Descubra agora