rio de janeiro, dezoito de março de 2015
― Adivinha que dia é hoje!
― Não sei que dia é hoje, só sei que você acabou de me acordar ― Mariana bradou da cama, jogando travesseiro em Clara, que estava dando um tempo nos pulos, recostada na porta.
― Ok, ok, senhora dos travesseiros ― ela riu ― vou lhe dizer que dia é hoje. Hoje é...
― Não precisa dizer, eu acho que já sei ― Mariana responde, olhando o celular ― dezoito de março... Um mês para sua festa. Acertei?
― Como você consegue? ― Clara responde, jogando o travesseiro de volta.
― É simples, Clara. Você fala disso e somente disso há dois meses. Não é tão difícil adivinhar ― ela gargalhou.
Clara e Mariana eram amigas desde muito tempo. Mal sabiam quando a amizade havia começado; talvez na barriga de suas mães ou um pouco depois. Mariana, como era filha única, acabou tomando Clara como sua irmã. Clara tinha dois irmãos mais novos, mas isso não impediu que ela tomasse Mariana como sua irmã do meio. Elas protagonizavam aquele tipo de amizade que a gente vê em filmes e acha que não existe, mas existe.
Há quatro anos, Clara havia se mudado para São Paulo. Seu pai, Rodrigo, havia recebido uma proposta de emprego praticamente irrecusável em uma grande empresa com sede na Avenida Paulista. Houve até uma chantagem para que ela ficasse no Rio, que morasse na casa de Mariana, mas nada feito. Foram quatro longos anos vivendo na selva de pedra.
Para Clara, infelizmente, não foi tão fácil sobreviver como foi para Mariana. Enquanto uma ainda estava em seu habitat natural, com os mesmos amigos, os mesmos ambientes,o mesmo colégio, o mesmo cursinho, a outra lutava para se readaptar a uma nova vida, novas pessoas, novo sotaque, novo colégio. Clara sempre teve medo de tudo que lhe obrigasse uma mudança imediata ― não sabemos o que há por trás das grandes mudanças; pode ser um belo dia ou pode ser uma tempestade. São Paulo é a terra da garoa, mas Deus queira que não haja tempestades ― ela pensava. Felizmente, as tempestades que ocorreram foram brandas. No seu aniversário de quinze anos, ela fez questão de pagar a passagem de Mariana para São Paulo. Em uma quinta chuvosa, lá estavam as duas comendo batatas fritas e colocando velas de aniversário nos pratos do Outback. Nesses quatro anos, contudo, a mãe de Clara contraiu uma doença grave e acabou falecendo em São Paulo. Não demorou muito para que seu pai decidisse voltar para o Rio de Janeiro, abandonando o emprego dos seus sonhos. Era preciso pensar nos filhos agora, o pai de Clara sabia disso.
― Já mandou os convites para seus amigos de São Paulo? ― Mariana perguntou enquanto pegava uma roupa no armário. Ainda era sexta e elas tinham aula. O último ano do colégio parecia um sonho e, ao mesmo tempo, um pesadelo. Parecia que cada dia eram mil anos.
― Ainda não... Na verdade, nem sei quem convidar de lá. Conto nos dedos de uma mão quem me acolheu quando eu cheguei naquele lugar ― Clara não gosta de falar de São Paulo, mas ama fazer piadas com os paulistas. Vai entender... ― Vou chamar a Luana, a Betina e o Pedro, esses estão certos... Lembra do Pedro?
― Não, não lembro do Pedro... Clara, nem conheço o Pedro ― ela disse, rindo.
― Aquele que me defendeu quando uns meninos vieram pra cima de mim na Paulista, lembra? Que repercutiu naquele blog de mulheres?
― Ah, lembro, lembro... "O salvador das moças indefesas de São Paulo"
― Mari, não seja ridícula.
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rio, são paulo e um caso de amor
RomanceMariana é uma carioca que acredita piamente na ação do destino. Tem como livro de cabeceira o romance "Acerto de contas com o destino", de Amélie Von Doorf, e vive repetindo por aí que "o destino é uma boa peça da vida para unir outras vidas". Para...