One

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Ajeitei a camisa social preta uma última vez, coloquei os costumeiros anéis apressadamente e olhei no relógio: eu estava atrasado, muito atrasado. Não que eu seja a pessoa mais pontual do mundo, mas quarenta minutos de atraso é demais até pra mim. E como se o universo quisesse provar que ele estava conspirando contra mim, a campainha tocou no exato momento em que eu peguei as chaves do carro na mão.

Caminhei até a porta praguejando mentalmente e xingando quem quer que fosse que estivesse do outro lado, porque definitivamente era uma péssima hora para visitas inesperadas. Já estava prestes a soltar um "puta que pariu, Ruki", ou Reita, se fosse o caso, mas a pessoa em questão era Kai, e ao ver sua expressão eu guardei todos os adjetivos pejorativos que eu queria usar para defini-lo no momento para mim.

- Atrapalho, Uruha? - Em menos de um minuto seus olhos sempre atentos fizeram uma análise completa do meu visual.

- Sim - respondi sincero. - Kai, meus amigos de Kanagawa estão aqui em Tóquio e eu estou atrasado pra caralho, então o que quer que você tenha pra dizer vai ter que esperar até amanhã.

Ele cruzou os braços, seu semblante se tornando ainda mais sério.

- Seus amigos só vão embora daqui a duas semanas, vocês podem se ver outro dia. Desmarca o encontro que eu preciso de um favor seu.

- Não vou desmarcar nada! Alguém morreu por acaso?

Ele suspirou.

- Aoi está doente.

- E o que eu tenho a ver com isso?! - exasperei

- Você quer mesmo ter essa conversa na porta do seu apartamento?

Dei espaço pra que o líder entrasse, e inconscientemente eu já tinha admitido que aquela era uma batalha perdida. Kai me convenceria a fazer o que ele pedisse, porque ele tinha esse poder até mesmo sobre Ruki.

- Vou perguntar de novo Yutaka: o que eu tenho a ver com o fato do Aoi estar doente?

- Yuu está com 39,5 de febre, o médico disse que ele precisa de repouso e certos cuidados enquanto a inflamação persistir. Eu ia passar a noite no apartamento dele, mas o show está próximo e eu tenho várias coisas pra resolver na PSC, então alguém tem que ficar lá. Não vou deixar um amigo sozinho nessas condições.

- Você está me pedindo pra desmarcar o encontro com os meus amigos que eu não vejo há anos só pra ficar cuidando de um homem de 36 anos? Porra, Kai! O Aoi não é criança, ele sabe se virar muito bem. De qualquer maneira, se é tão importante que alguém fique com o "bebê", chame o Reita pra exercer essa função. Ele é muito mais próximo do Yuu.

- Akira se ofereceu pra exercer essa função, como você diz, mas eu quero que seja você. Já passou da hora dessa sua birrinha boba acabar. Yuu é seu companheiro de banda, e ele te adora, então acho que você devia abaixar um pouco a guarda e deixar ele te mostrar a pessoa incrível que é. Afinal, me pergunto até hoje o que aconteceu pra deixar vocês dois tão afastados, porque no começo da banda vocês eram bem próximos. O que fez essa amizade acabar, Uruha?

- Ele se tornou insuportavelmente irritante, só isso. Nós somos incompatíveis, Kai, entenda isso.

- Não. Se isso fosse verdade vocês não teriam uma sincronia tão perfeita. Acho que depois de quase 13 anos vendo vocês tocando juntos posso me arriscar a dizer que vocês se completam, e não existe nenhum pingo de incompatibilidade, muito pelo contrário.

Ergui a sobrancelha, cruzando os braços, adotando uma postura desafiadora.

- Você está querendo insinuar alguma coisa?

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